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quarta-feira, 14 de abril de 2010

Análise Fílmica: Saber e Poder - O exorcismo de Emily Rose.*


Sempre fui defensor da idéia de que, muito além de um mero trabalho imaginativo com fim a desligar quem prestigia da realidade, a Fantasia tem como foco o mundo real aonde ela é criada. A fantasia é um mundo criado por homens que vivem na realidade e por isso, também trás questões que servem a essa mesma realidade.
Acredito que um dos principais trunfos de um trabalho fantástico é o de poder trazer temáticas contemporâneas sem fazer uma menção direta, podendo assim, criticar, levantar questões ou formas de pensar sem que se torne algo muito agressivo a quem escuta ou demasiadamente desconfortável por apresentar problemas nossos. Eu fiz uma análise parecida com o Filme Avatar (O eu e o outro – uma análise de Avatar) e agora faço o mesmo com essa magnífica produção baseada em acontecimentos reais.
O exorcismo de Emily Rose narra a história de julgamento do Padre Richard Moore, acusado de homicídio negligente após submeter a jovem Emily Rose à um ritual de exorcismo quando, de acordo com a acusação, ela claramente carecia de um tratamento psiquiátrico a fim de se curar de seus males mentais. Porém, ao que eu chamo a atenção é que muito além de cenas de debate teológico, uma coisa interessante a ser observada nesse filme é a relação que se dá entre Saber e Poder. Até que ponto essas duas instâncias se relacionam e influenciam uma na outra.
Essa análise que agora faço foi na verdade um trabalho realizado por mim e mais um grupo de amigos para uma disciplina na minha faculdade intitulada “Poder e Religião no Mundo Antigo”, ministrada pelos professore se doutores Marta Mega de Andrade e André Leonardo Chevitarese. E no trabalho, tentamos discutir como o filme mostra essa relação entre Saber e Poder através do discurso dos tribunais.
Baseados no Filósofo Michel Foulcalt, defendemos a tese de que um Saber, ou seja, um conhecimento, quando empregado numa sociedade é capaz de criar um discurso de poder, gerando hierarquia em diferentes ordens e submetendo os leigos ao poder dos especialistas.
Mas como isso se demonstra no filme? Simplesmente por que no “Exorcismo de Emily Rose”, temos a disputa de dois discursos de Saber tentando provar se o padre Richard Moore era ou não culpado. De um lado — o da acusação — temos o promotor Richard Thomas, que defende a tese de que Emily Rose jamais esteve possuída como argumentava o réu ou os familiares da vítima e sim que ela era epilética e que necessitava de um tratamento psiquiátrico.
Já a defesa, representada pela advogada Erin Brume, procura defender a tese de que o acusado tentava ajudar a vítima da melhor forma que conhecia, através de sua própria forma de conhecimento – o religioso.
Mas saindo do básico, uma passagem do filme realmente boa e que eu acho que daria uma boa discussão, é essa aqui, aonde a advogada interroga uma testemunha — um médico psiquiátrico — que garante que Emily Rose sofria de desordem de epilepsia psicótica. Um conceito que, só para constar, foi ele próprio quem criou. Mas o que interessa é a passagem que vai se seguir. Quando Erin questiona o médico, qual seria então o melhor tratamento para Emily já que o exorcismo não seria o recomendado e o Dr., Briggs responde que no lugar do médico que cuidou dela, ele usaria de eletroterapia e lhe a obrigaria a tomar os remédios.
Erin Bruner – Teria feito contra a sua vontade?
Dr. Briggs – Para salvar sua vida? Sim..
(O exorcismo de Emily Rose - 41 minutos, aproximadamente)

E para mim, essa é a passagem de ouro do filme, pois demonstra, clara e objetivamente, em como um saber, uma forma de conhecimento, acaba ajudando na hierarquização da sociedade. E como aquele que detém o saber, é capaz de exercer o poder. O fato de Emily Rose ser diagnosticada como louca tira dela todo e qualquer direito de escolher por si mesma seu destino. E mesmo que ela não divida do conhecimento do Dr. Griggs e seja realmente crente de que o melhor para ela fosse participar do ritual de exorcismo — lembrando que ela foi exorcizada por livre e espontânea vontade —, mesmo assim, o médico teria poder de dizer a ela o que fazer.
Interessante pensar nisso ainda mais usando de outros exemplos. Vamos viajar no tempo e vivenciar o processo de Inquisição Européia e a Queima de Bruxas. Sabemos que os inquisidores tacavam as mulheres acusadas de feitiçaria nas chamas da fogueira, porém, quantos de nós sabemos exatamente qual era a lógica desse ato? A resposta: Purificação.
Isso mesmo. Tacava-se as feiticeiras no fogo, não para punir, mas pela lógica de salvar. O fogo queimaria a carne e limparia a alma dos pecados. Dessa forma a pecadora teria uma mínima chance de ir para o céu. E não importava se a “salvada” fosse ou não partidária da mesma crença, pois o padre sabia o que era melhor para ela, pois ele tinha um conhecimento que ela não: o saber religioso, o estudo da bíblia, enquanto, geralmente, a feiticeira era uma simples camponesa pagã. E por isso, ignorante. E como ela não tinha as condições de chegar ao paraíso por si só, era obrigação do inquisidor salvá-la, mesmo que isso fosse contra a sua vontade.
Se forem reparar bem, a lógica é bem parecida. Em ambos os casos, é um conhecimento que dá a determinada pessoa, o poder sobre a outra. E Michel Foucalt — mais especificamente nos trabalhos “A História da Loucura”, “Microfísica do Poder” e o “Nascimento da Clínica” — foi um homem que pensou muito nisso e nos mostrou que, por essa lógica, podemos ver relações de poder em basicamente todas as esferas sociais, aonde, aquele que detém mais saber, manda, Seja numa escola, num hospício, numa igreja ou até mesmo nas nossas casas.
Sei que muitos que viram — ou virão — o “Exorcismo de Emily Rose” são tentados ver o exorcismo de Emily Rose, ou seja, o ritual com todos os efeitos especiais e adrenalina que uma boa produção hollywoodiana exige. Mas acho interessante também — e é essa a proposta que eu faço — olhar o cinema fantástico por outra ótica e ver que ele tem muito mais a oferecer do que somente entretenimento.
 Concluindo minha forma de pensar, quero dizer que em nenhum momento estou tomando partidos, sobre o que teria sido melhor para a protagonista ou se, na Idade Média, as pessoas tinham boas intenções na hora de queimar as feiticeiras ou se ao menos criam verdadeira mente nisso. O que eu quis mostrar foi de como o discurso recheado de um Saber, de uma teoria que justifica um determinado ato, tem Poder. Isso, seja nos tempos remotos, ou nos dias atuais.**

*Esse foi um trabalho realizado por:
Willian da Silva Nascimento
Viviane Nascimento
Priscila Céspede Cupello
Patrícia Fernandes Castro
Lucas Zelesco
Caio Felipe Rosa
**Para os interessados no trabalho completo, e só acessar o link.

2 comentários:

  1. Olá... você é o Willian do skoob?
    Então não sei se lembra de mim, ( http://www.skoob.com.br/usuario/mostrar/154160/perfil:on) perfil ai...
    Então eu tenho blog, e estou com uma ideia, de fazer entrevistas com blogueiros ( as), a ideia é mostra a vida dos blogueiros de um outro jeito.
    Se vc se interessar me mande um e-mail...( silberrmond@live.fr) ou deixe um recado no blog... podemos conversar pelo msn e tudo mais, e ah ! vou fazer o download do seu livro sim viu.

    beijos, ótimo blog.

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  2. Oi Lua. Puxa, legal. Vou entrar em contato sim. Espero que voc~e goste do meu livro. Beijão

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