“Carrie
a estranha” é um livro que pode nos parecer bastante atual, visto que toca
muitas vezes na questão do Bullying,
o grande vilão da pedagogia contemporânea e endemoniado pela mídia de hoje. O trabalho
de King narra a história da jovem Carrieta White, jovem suburbana dos EUA que
poderia ser considerada uma simples garota sem sal, estudiosa e excluída em seu
colégio, tal como muitas jovens norte americanas, se não fosse o fato dela
apresentar padrões de energia pouco comuns a qualquer ser humano. Com a
capacidade de mover objetos apenas com o poder da mente, poder esse que se
manifesta através de seus sentimentos caóticos, Carrie parece uma bomba relógio
prestes a explodir. Então, some-se isso ao fato dela ser perseguida por colegas
sociopatas e criada por uma mãe extremamente religiosa que considera a filha a
encarnação do diabo e então temos um prato cheio para uma história cheia de
horror e efeitos mirabolantes.
Eu
li este livro depois de assistir ao filme e fiquei feliz em perceber que o
primeiro é extremamente melhor. Mesclando vários tipos de gêneros de escrita - da
narrativa em terceira que permeia ao longo do romance, para o discurso em
primeira quando entramos no diário de Sue; e da linguagem acadêmica apresentada
nos trabalhos científicos sobre poder paranormal Carrie para a narrativa
sentimental de relatos de pessoas que presenciaram os efeitos devastadores dos
poderes da jovem -, o leitor tem diante de si um livro dinâmico e envolvente.
Os
personagens, no geral, são clichês. A
linha entre o bem e o mal é muito bem definida e há pouca complexidade nas
ações dos envolvidos. Porém, no meio dessa superficialidade, Carrie é a
personagem melhor trabalhada. Ela trás consigo o estigma da menina perseguida,
que sem dúvidas explica seu desejo de vingança e suas revoltas com o mundo,
todavia, por mais envolvido com o drama da jovem que o leitor possa estar, a
explosão de Carrie ainda transita entre a ação justificável e a vingança
desmedida.
Nem
uma heroína, nem uma vilã. Assim se define Carrieta White.
Posso
dizer sem margem para erros que esta foi minha leitura mais marcante de 2011 e
uma das mais importantes que já realizei na vida. E porque digo isto? Pois este
livro conseguiu me atingir em vários níveis: no nível patético(das emoções),
estético(da sensibilidade) e noético(da racionalidade).
O
livro de Teule é uma excursão por um mundo sombrio e inconfessavelmente
próximo. Passando-se em um futuro não tão distante, onde a morte das utopias,
sejam religiosas, nacionais ou outras quaisquer, deixam para trás uma
humanidade descrente e vazia de sentido, há a loja da família Touvaché. Uma
loja que tem por função fornecer instrumentos com os quais as pessoas possam
dar cabo de suas próprias vidas. E dentre as tradições da família guardiã da
loja, encontra-se a regra de nunca dizer aos seus clientes “Volte sempre”.
Com
esse pequeno resumo, podemos entender de cara o tom do trabalho. O humor negro,
a sátira e a tragicomédia ditam A loja dos suicidas. Nele, o cenário é muito
bem construído, - sombrio, característico do estilo punk-gótico - os personagens
são caricatos, mas vivos, e os diálogos estão carregados de ironia, que por sua
vez obrigam o leitor a pensar assuntos a respeito do sentido da vida e da morte
e do direito que temos de escolher entre esses caminhos. Falando deste jeito,
dá-se até a impressão que é um livro de autoajuda. Contudo, não se engane, pois
ele é tudo, menos autoajuda.
O leitor que se
atrever a excursar dentro de suas páginas pode até não gostar, mas duvido que
não vá se surpreender com o estilo original do autor. Uma narrativa rápida, um
livro de pouco mais de cinquenta páginas, mas repleto de estilo.
Tal pensamento me veio graças a um vídeo assistido na aula de Didática Especial
em História, ministrada pela Professora Cinthia Araujo, da Faculdade de
Educação da UFRJ. O vídeo responsável pela avalanche de pensamentos encontra-se
disponível ao fim da postagem.
Eu quero contar uma história. Como? O mundo globalizado de hoje nos
permite inúmeras maneiras de nos comunicarmos com o as pessoas. Sem sair de
casa, temos acesso a reportagens, filmes, músicas e imagens das mais distintas
regiões do planeta. Todavia, seriamos capazes de, apenas com isso, dizermos que
conhecemos sim esses outros seres humanos que dividem o planeta conosco?
Teríamos nós acesso realmente ilimitado a tudo o que ocorre no mundo? Ou
teríamos, na realidade, apenas uma perspectiva dessa totalidade. Uma
perspectiva essa que é sim uma espécie de verdade, mas que é uma realidade
incompleta. Um conhecimento que não é necessariamente uma mentira, mas que
engana ainda assim.Ilude por ser
parcial, por induzir a pessoa a acreditar que só existe aquilo e não há nada
para além. Ludibria por que é uma história única de um grupo que, normalmente,
se apresenta como amplamente complexo e diversificado.
Em 2002 o desenho animado “Os Simpsons” levantou uma polêmica ao exibir
um episódio em que a família Simpson vem ao Brasil. Em “O feitiço de Lisa”,
quando Homer, Marge e companhia chegam aqui, o que nós brasileiros pudemos
perceber é que, no mínimo, os roteiristas não conheciam nada de nossa terra.
Primeiro, cometeram um erro geográfico gritante ao aproximarem o Rio de Janeiro
do Amazonas, como se a nossa cidade carioca tivesse uma mata tão deslumbrante
tão próxima de nós – salvo a Mata Atlântica, é claro. Depois, fez parecer que nossa
cidade era uma eterna festa de carnaval, com pessoas dançando pelas ruas e
jogando futebol com qualquer objeto que eram capazes de encontrar. E por
último, se não bastasse, nossos brasileiros mais pareciam colombianos com suas
camisas floridas e sotaques carregados de castelhano.
E ao que se deve isto? Sem dúvidas alguma, podemos atribuir parte do
problema ao que nos aponta a escritora nigeriana Chimamanda Adichie: o perigo
de uma história única. Quando falo de história aqui, não me refiro à ciência
produzida nas academias, embora ela também seja parte deste processo. Refiro-me
aqui a todas as formas que um grupo humano tem de se expressar para o mundo. De
poderem dizer alguma coisa sobre si mesmos. Seja na música, no cinema, ou na
literatura, em toda e qualquer manifestação que atravesse suas próprias
fronteiras.
Se eu fosse propor um jogo para mim mesmo neste exato momento, me
perguntaria se conheço tão bem a sociedade estadunidense como conhecemos à
sueca. Eu, por exemplo, já li Stephen King, Stephanie Meyer, Anne Rice, só para
citar os autores de fantasia contemporânea, que são meus favoritos. Eles com
certeza não me deram uma visão total dos EUA. Eu não posso dizer que os conheço
plenamente apenas lendo esses três nomes. Mas sem dúvidas eu posso dizer que vi
um escopo um pouco maior de como estas pessoas enxergam seu mundo, ao ler sobre
os lugares apresentados, caminhando com suas personagens. Agora, sobre a
Suécia, li apenas o primeiro volume da Saga “Millenium”, do escritor Stieg
Larsson. E se eu fosse me basear única e exclusivamente nele para definir a
sociedade sueca, chegaria a triste conclusão que todos os suecos são covardes
espancadores de mulheres. Triste não? Da mesma forma que se eu usasse “Crepúsculo”
para definir as jovens americanas, diria que todas elas são meninas sem sal
atrás de seus príncipes encantados para libertarem-nas de suas vidas medíocres.
Desculpem a falta de delicadeza.
Neste sentido, o que está em jogo não é o fato de contar ou não uma
mentira, mas de poder contar ou não uma parte de uma verdade. O fato de só conhecermos
uma historia africana não quer dizer que na África só existam pessoas passando
fome, morrendo em guerras sem sentido e se contaminando com AIDS. É claro que
estes são problemas de alguns países do continente, mas não podemos resumir uma
área tão grande a esses simples esquemas. Da mesma forma, podemos sim dizer que
no Brasil gostamos de futebol, de carnaval, que temos matas deslumbrantes e
selvagens, que temos até mesmo colombianos entre nós. Mas dizer que o Brasil é
só isso, me faz perguntar: mas que diabos quem eu sou? Não gosto de futebol,
não pulo carnaval e não falo espanhol. Mas sou brasileiro, embora ainda esteja
tentando definir exatamente o que isso significa em um mundo tão pósmoderno
quanto o nosso. Porém, isto é outra história.
É por isso que considero importante a capacidade de contar histórias.
Sejam biografias, romances, poesias. A literatura, entre outras produtoras de
conhecimento, tem sim a capacidade nos libertar um pouco desse simplismo da
historia única. De desafiar nossos preconceitos e nos abrir para outras
possibilidades de enxergar outros povos. Se não para ver como eles são – nos
livros de historia ou nas biografias – pelo menos para saber como pensam –
através da fantasia e da poesia. Não importa como, mas devemos sim tentar um
esforço de enxergar as pessoas que se escondem por detrás das histórias.