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sábado, 27 de outubro de 2012

Resenha: A ascensão da casa dos mortos, de Lemos Milani


Uma mansão antiga, imponente, luxuosa, situada em uma região afastada do Rio de Janeiro. Uma família e seus amigos que resolvem passar férias nela. Um mal secreto que habita as paredes do lugar e é despertado pela presença de uma personagem específica. Tais atributos poderiam significar que “A ascensão da casa dos mortos” de Lemos Milani não passaria de uma versão tropical de “O iluminado” de King. Contudo, fico feliz em dizer que, apesar das semelhanças, a obra brasileira consegue acertar em pontos que nosso ilustre americano deixou a desejar.

(Antes de começar a falar da obra em si eu preciso sinceramente fazer um comentário com relação à qualidade da edição. Digo isso, pois fiquei verdadeiramente impressionado com o trabalho que a editora Estronho dedica a suas obras. A impressão, a diagramação, a revisão e a capa são exemplares, e muitas editoras brasileiras deveriam aprender com ela.).

Enfim, retornando desta breve digressão, devo dizer que “A ascensão da casa dos mortos” é um livro bastante interessante, com uma história dinâmica e atraente.  Com personagens bem brasileiros, com características diversificadas e pessoais. As cenas de terror são muito bem escritas e – fazendo ponte com a obra de King – não se perdem em cenas fantasmagóricas sem sentido. O livro é bem dosado, entre momentos de frisson insano e outros de reflexão e enredamento. E também há uma forte dedicação do autor em nos apresentar este mundo maléfico que permeia a casa, mostrando-nos as causas e origens de tanto mal, mesmo que de forma um tanto quanto corrida, mais ao final da obra.

Como ponto a chamar a atenção, saliento que o livro peque com relação a seus personagens. Há, na verdade, um excesso deles, pois a história, muito centrada em Julieta, Santiago e Lindsay, acaba por excluir muitos outros de uma maior participação. E alguns deles parecem estar ali apenas para converter oxigênio em gás carbônico. Todavia, nada que desmereça o trabalho.

Neste sentido, recomendo a leitura de “A ascensão da casa dos mortos”, que demonstra muito bem o talento de Lemos Milani. Sua genialidade, todavia, é mais impactante em seus textos curtos, como os poemas e contos inseridos dentro do romance. E por conta disso, acredito que esses sejam os gêneros de texto mais fortes do autor.
 

Resenha: O Iluminado, de Stephen King.



Jack Torrance, escritor de talento, mas arruinado devido a seus problemas com álcool tenta realavancar sua vida e tem em um emprego de inverno a chance de trabalhar e ter tempo de preparar seu novo romance. Ele e sua família então vão se hospedar no hotel Overlook, onde a presença de seu filho Danny, garoto precoce que demonstra fabulosas habilidades psíquicas, mexe com as estruturas e as forças ocultas adormecidas no local. Neste momento, o pomposo hotel transformasse em uma armadilha mortal, onde um mal enterrado a séculos ameaça a vida de seus novos hóspodes...

É possível que os fãs da literatura de terror e, em especial, os aficionados na obra de King possam vir a gostar deste livro, todavia, confesso que fiquei um tanto quanto decepcionado com o seu desenrolar. Iniciei este trabalho com muita empolgação. As primeiras páginas demonstram talento, tanto na escrita, quanto na construção do enredo, porém esta qualidade vai se diluindo ao longo das quinhentas páginas que compõe o romance.

King explora muito bem a tensão inicial, prometendo ao leitor uma grande dose de mistério e é este justamente o compromisso que não se cumpre. O hotel Overlook guarda um segredo, um mal centenário que destrói aqueles que nele se hospedam nas temporadas de inverno, tal como a família Torrance, Neste momento, em que não há testemunhas, não há movimentação. Crimes bárbaros ceifaram a vida naquele lugar e a aura tenebrosa do terror está presente em cada um dos aposentos, em especial no quarto 237.

Toda esta tensão criada na entrada faz com que o aventureiro das páginas de “O iluminado” crie imensas expectativas com relação ao desenrolar da obra. Mas infelizmente estas não são atendidas. O mistério da origem do mal é muito pouco trabalhado, e a história se perde em cenas de terror sem muito sentido e de pouca profundidade. E o medo que parecia desabrochar no início do enredo se perde e o livro acaba por se tornar enfadonho a partir da metade.

Talvez um romance mais enxuto fosse o melhor para “O iluminado”, onde se investisse mais atenção ao enredo que às cenas fantásticas que acabam por se tornarem vazias ao fim. Uma verdadeira pena, pois o talento de Stephen King, com certeza, extrapola as limitadas fronteiras deste livro.
 

sexta-feira, 19 de outubro de 2012