blog tão desatualizado, começo a sentir vergonha dele.
Não que eu não goste mais de escrever, mas está cada dia mais
difícil encontrar tempo e inspiração para tanto. A vida
profissional é cansativa, e encontrar brechas para se dedicar ao
trabalho intelectual é uma tarefa tão difícil que a fadiga
corporal e mental impossibilitam.
Confesso que faz muito tempo que não posto aqui, e agora que olho
este
Agora entendo o que Platão dizia acerca da necessidade do ócio,
pois realmente é complicado manter uma carreira e um hobbie
ao mesmo tempo. Ter aquele momento para pensar quando outras
preocupações tomam conta da cabeça. O jeito mais simples seria
tentar a feliz coincidência de mesclar os dois e seguir uma
profissão que seja capaz de deleitar ao mesmo tempo em que lhe
garante ascensão profissional.
O problema é que quando seu hobbie é pensar, o Brasil do
séc. XXI não se mostra como o melhor espaço para lhe garantir
boas oportunidades. Então o jeito é tentar se virar com duas
atividades: uma para conseguir dinheiro, outra para elevar o
espírito. Pois a falácia do “trabalho enobrece o homem” não
cola. Por que o trabalho sozinho não enobrece ninguém.
Enfim, apesar do tom deprimente deste pequeno manifesto, não tenho
por intuito desmotivar ou me lamentar para ninguém. Na verdade,
acredito que escrevo este texto como forma de fazer um alerta acerca
de uma cruel realidade. Cruel, mas que precisa ser vencida, e que
existem estratégias para tanto.
Em um mundo corrido como o nosso, onde o tempo vale cada vez menos, a
disciplina é a melhor solução. Eu realmente caí na ingenuidade de
acreditar que poderia continuar como o meu ritmo dos tempos em que
fazia apenas faculdade e estágio, em que os horários vagos em casa
eram dedicados exclusivamente à leitura e à escrita.
Pois naquele tempo, todos os meus minutos vagos eram direcionados ao
computador e às leituras, onde eu produzia bastante. Mas agora,
qualquer segundo folgado só consegue ser usado para o descanso. Se
eu estiver em casa, com certeza vou querer descansar, fazer uma
leitura mais leve, que me garanta prazer mas que não necessariamente
vá trazer grandes avanços na minha forma de pensar. Ou então
assistir a um filme ou uma série, que podem trazer grandes lições
ou assuntos, mas que não são suficientes para quem gosta do labor
crítico.
Nesse sentido, criar o tempo é fundamental. Tornar o hobbie,
quase que uma obrigação, enganar o corpo e a mente, pelo menos
parcialmente, para fazê-los acreditarem que você não está fazendo
aquilo que gosta apenas por que quer fazer, mas porque tem que fazer.
Pois quando elas passam a ser obrigações, por mais cansados que
estejamos, ainda assim conseguimos tirar forças, não sabemos donde,
para realizar... Isso talvez seja nossa maior capacidade.
Dessa forma, começo a tentar me organizar. Reservar horários que
até então estavam completamente disponíveis e ocupando-os com
minhas obrigações/lazer. Ir para locais onde eu só poderei fazer
isso, ao invés de retornar para casa onde o confortável sofá, o
divertido cachorro, ou a irresistível cama vão me distanciar de
meus objetivos para comigo mesmo.
Talvez essa seja a única maneira, seja de forma pessimista ou
otimista, pois não sei como estas palavras podem estar sendo lidas.
Mas acho que vale a penas tentar. Pois o ócio poderia ser a solução
para a pacata Atenas dos primórdios do ocidente, mas se queremos
manter viva a arte de pensar no terceiro milênio, temos de nos
esforça um pouco mais.
Se isso vai dar certo... Bem, vamos acompanhar e ver no que vai dar.