Sigam-me os Bons

domingo, 12 de dezembro de 2010

Instinto de nacionalidade e espelho estrangeiro: O problema da ambiguidade na escrita. Ou Carta ao escritor brasileiro.


Não é de hoje que a escrita no Brasil sofre diante de um poderoso dilema: como realizar um trabalho de qualidade, tal qual fazem no esterior, sem perder nosso instinto de nacionalidade? Os nossos modelos de qualidade, civilização, beleza e cultura, desde nossa colonização foram importados. A Europa era o berço civilizacional, a herdeira da cultura greco-romana, o exemplo em que toda nação que quisesse se considerar desenvolvida deveria se espelhar. Entretando, no Brasil do séc. XIX, um país que acabara de passar por sua independencia política e tentava construir sua idéia de nação, um outro problema se colocava diante dos escritores do oitocentos o de por nacionalidade em seus escritos.
Assim, vivendo com os pés no Brasil mas tendo sua cabeça na Europe, viviam a maior parte de nossos intelectuais. Tentado construir a nacionalidade brasileira, mostrando o que ela teria de original e potencial, mas baseando-se, na maior parte das vezes, em modelos que nos eram importados. Acho que não preciso dizer que esse dilema, mesmo tendo-se passado mais de um séc., ainda se mostra presente em nossa produção, não é mesmo?
Ainda podemos nos considerar escritores ambiguos. Ainda tentamos produzir uma literatura nossa, mas que cisma em se pautar em modelos importados. Na fantasia, lemos muito J.K. Rownlig, Stephanie Meyer, Anne Rice, Tolkien, e outros que nos passam os padrões de qualidade de uma obra. Além de lidos, eles chegam a nosso país com um sucesso tão avassalador, que é dificil um escritor nacional não se sentir tentado a querer parte desse sucesso para si.
Então, ambientamos nossa história no nosso país, escolhemos personagens brasileiros, e usamos o nosso modo de falar, mas não conseguimos fugir da sensação de que, por menor que seja, de que nossas obras de alguma forma lembram os “Harry Potters”, “Crepúsculos”, “Entrevistas com os Vampiros” e “Senhores dos Aneis” que pululam em nossas livrarias.
Como sanar esse problema: Sinceramente, eu não faço a menor idéia. Pois esse “problema” (se é que posso chamar assim), não é uma doença que possa ter cura, ou um erro de trabalho que possa ser concertado com a utilização de um novo método. Esse é um dilema grave, que nos acompanha desde muito tempo. Um dilema que está entranhado em nossas mentalidades e que faz parte de nossa forma de viver, de enxergar o mundo, de entendermos as coisas.
O objetivo deste ensaio não é com isso, propor a cura de um mal nacional, mas sim atentar para existência dele. Acho simplesmente pobre demais acusar uma produção nacional de plágio do esterior, quando toda a nossa forma de pensar é importada de um outro país. Alegamos que temos de ser originais, conceito esse que foi pautado no romantismo alemão do séc. XIX. Queremos ser nacionalistas, elemento fundador das nações européias.
Logo, até mesmo quando queremos ser brasileiros, temos que nos chocar com o fato que nossa concepção de Brasil ainda está muito arraigada na noção de que outros construiram de nós. Mas também, isso não é motivo para se alarmar, ou pensar que nossa produção de nada vale. Pois essee problema de identidade não é próprio do brasileiro. Basicamente toda e qualquer nação que tenha se criado, teve de passar, eem algum momento, por esse dilema. Pois em algum momento de sua criação, teve de tomar emprestado ao de um outro.
Silvio Romero
Todos nós, seres humanos, somos de alguma forma mestiços. Se não no sangue, nas idéias, como dizia Silvio Romero. A única diferença de nós e deles, é que nós temos essa consciência mais acentuada em nossa maneira de nos encararmos, enquanto eles, prenden-se na inocência de que são cem por cento puros.
Por isso, escritor brasileiro, não se desanime se achar que sua obra de alguma forma faz mensão ao que foi produzido fora de seu país. Pois você não é o único. A única diferença entre você e um estadunidense ou europeu, é que você é capaz de assumir isso. Agora só precisamos parar de nos martirizarmos cada vez que chegamos a essa conclusão.
Boa sorte, pois essa jornada é muito acidentada.

4 comentários:

  1. Oi Willian
    é verdade, é cultura comercial, a gente acaba cedendo as dimensões magicas do que vem de fora.
    Contudo, nem sempre os produtos externos, num sucesso infindavel tem qualidade. Temos que ser criteriosos com o que lemos e com o que vem por ai. No brasil temos autores fantastico que ainda não foram revelados.
    Abraço

    ResponderExcluir
  2. Oi Willian, muito bom o texto.
    Considero difícil se livrar tão rápido desse "comércio cultural", justamente por já ocorrer de longa data. Acho que falta mais os escritores colocarem no papel aquilo que eles imaginam, não se deixando levar tanto por escritores estrangeiros.

    ResponderExcluir
  3. mto boa a abordagem sobre um tema tao controverso. Peço a reflexao sobre o pensamento de q a ex, Tolkien, tenha em si nao criado apenas uma obra europeia, mas de teor mundial, onde nós brasileiros, em senso de comunidade e como filhos culturais de praticamente quase todos os povos do mundo antigo, podemos bebericar verdades essenciais q transformam nossa maneira de ver o mundo.

    Parabéns pelas reflexoes.

    ResponderExcluir