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domingo, 13 de fevereiro de 2011

Prazos e limites no desenvolvimento da escrita.

Quando a escrita é um prazer, como é para mim e como é para muitos que se aventuram por esse mundo das letras, é extremamente chato saber que existe um prazo final para você entregar seu trabalho, ou que você precisa ter tal número de palavras, ou que necessita atingir qualquer tipo de meta possível. Isso acontece porque quando temos a literatura como um hobbie, qualquer limite desses transforma todo um trabalho de prazer em compromisso, em obrigação.


Do ponto de vista do divertimento isso pode parecer complicado ou desgostoso, mas da perspectiva da produção intelectual essa cobrança é um mal necessário. Isso ocorre porque, se cada escritor do mundo tiver tanto apreço pela sua obra quanto eu, que sinta a necessidade de re-ler e re-escrever seu trabalho uma, duas, três, quatro... um milhão de vezes, e mesmo assim sinta que ele não está bom, então ter um relógio ao seu lado avisando que seu limite está passando, se torna absolutamente preciso.

Olhar para seu próprio trabalho e acreditar que ele não está bom o bastante é algo comum para qualquer um com o mínimo de senso crítico. A verdade é que nosso trabalho nunca está bom o bastante para os nossos olhos. Sempre achamos que podemos melhorá-los, o que de fato não é nenhuma mentira: pois sempre podemos melhorá-los. Mas se ficamos preocupados em aprontá-los de tal forma que cheguemos à perfeição, infelizmente passaremos a nossa vida inteira presos em uma única produção. E esse caminho só poderá levar a um destino: a completa frustração e a desistência.

Quando ficamos presos demais em um único projeto a tendência natural é sermos levados ao desgosto. Isso porque sentimos que na verdade não estamos criando nada. E nessas circunstâncias uma autocrítica implacável só tende a agravar a situação. Pois existirá um momento em que o autor precisará chegar a triste conclusão de que sua obra não é perfeita, mas que ele não poderá fazer nada a respeito.

A evolução, nesse caso, só ocorrerá no próximo investimento do autor, com um projeto novo e diferente. Aí sim o escritor poderá usar a experiência de seus antigos escritos e aplicar nesse projeto original. É claro que quando olhar para trás, vai perceber uma mudança entre seus diferentes trabalhos. Às vezes, até mesmo sentirá certo constrangimento do que antes escreveu, por se ver assim em uma época tão inocente e imatura. Algo que também é absolutamente normal.

José Murilo de Carvalho
Um dia estive conversando com amigos da faculdade e falamos de grandes escritores como José Murilo de Carvalho, hoje Imortal da Academia Brasileira de Letras, e de como esses homens devem encarar seus trabalhos mais antigos, aqueles que eles sequer lembram de terem feito. Como será que o autor de “Os bestializados”, “Teatro das sombras e a Invenção da Ordem”, “A formação das almas”, entre muitos outros, deve encarar sua monografia de graduação, ou os artigos que publicou quando ainda era um mero estudante.

Provavelmente ele nem quer se lembrar desses trabalhos, ou talvez ria do que escreveu antes, sabendo com total clareza que seu pensamento já se modificou bastante. Mas se hoje ele é quem é, foi porque soube – ou então foi forçado a saber – no tempo certo o momento de finalizar um trabalho e entregá-lo ao julgo. E aí, recebendo o feedback necessário, guardar essas informações e usá-las em um novo projeto.

Nesse momento, se você não é capaz de por si só saber à hora de parar, ter alguém chato pressionando você à entregar seu escrito no prazo pode ser necessário. É assim que os prazos e os limites podem nos ajudar, pois eles nos forçam a finalmente entregar algo pronto. Só com ele finalizado e lido por outros que se terá a chance de crescer. Pois enquanto ficamos apenas revisando e concertando arestas, estamos apenas nos baseando em nossos próprios critérios, que são muito limitados e ignoram todo o público leitor que pode dar sua contribuição.

Como um exemplo prático, posso citar o caso do “Mundo de Avalon”, de Vincent Law. Livro este lançado em meados do ano passado, recebeu algumas críticas e teve pontos fracos explanados pelo público leitor. E tal feedback foi o necessário para que o próprio autor revê-se sua criação e pudesse se desenvolver. Neste caso, vale alertar que esses pequenos defeitos jamais chegariam aos vistos do autor se ele não tivesse a coragem de finalmente finalizar seu trabalho e entregá-lo.

Vincent Law e O Mundo de Avalon - resenha em breve aqui no Blog.
Então, por mais irritante que possa parecer, acho viável encararmos esse calendário chato e esse relógio estressante como algo que está ali não apenas para nos impor limites, mas sim como uma forma de crescermos como produtores de conhecimento. Pois jamais seremos produtores se não produzirmos nada, não é mesmo?

4 comentários:

  1. Concordo com o que escreveste William, eu, como a aspirante a escritora, sei bem como é isso.
    Ah, e aproveitando, queria perguntar se eu poderia fazer uma divulgação do teu livro e do lançamento dele, lá no meu blog.

    Beijos
    Amanda
    Amanda's World

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  2. Eu geralmente so releio o que escrevi meses depois de ter escrito... precisa ver o que ja achei de coisas estranhas no michael kkkk

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  3. Oi Amanda.
    Puxa, mas claro que pode. Não precisa nem pedir. ^^
    rs

    Eu também faço essa estratégia de só re-ler muito depois. Pois aí eu tiro o vício da história e posso ver melhor os erros. Abração galera e muito obrigado.

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  4. Olá,
    Sou o Flávio do blog Palavrinhas da Noite e seu blog foi indicado para o selo: Stylish blogger Award
    Esse é o endereço da indicação: http://palavrinhasdanoite.blogspot.com/2011/02/selo-stylish-blogger-award.html

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