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sexta-feira, 25 de março de 2011

E quando a ficção suplanta a realidade?


Em ensaios e artigos anteriores, gostei de discorrer sobre a questão da verossimilhança na fantasia, defendendo a idéia de que, para se manter o leitor conectado à história, um pouco de empatia deve ocorrer entre ele, o personagem e o enredo. E para isso, um pouco de reconhecimento se torna necessário. E a capacidade da arte de imitar a vida, ajudaria na criação desse elo empático. Contudo, uma questão que me surgiu há pouco tempo me fez entrar em uma espécie de paradoxo reflexivo: e o que acontece quando a ficção suplanta a realidade? Quando ela lhe faz sentir coisas que uma situação idêntica na vida real não é capaz de proporcionar?
Quantos de vocês já tiveram a sensação que determinadas coisas vivenciadas na ficção não são semelhantes à realidade em que vivemos? Neste caso, não estou nem me referindo à fantasia especificamente, mas sim a situações descritas em livros que são cotidianas, ou, ao menos, possíveis de serem vivenciadas por qualquer um de nós? Refiro-me a coisas banais como o beijo, carinho, medo, e todas as sensações que todos nós, mais cedo ou mais tarde, iremos vivenciar.
Em romances, por exemplo, é onde eu mais noto certa dose de inconformismo por parte dos leitores. Já escutei muitos reclamarem do fato de que o amor que vemos na ficção não se aplicar a realidade. Que aquela felicidade completa, todas aquelas reações no corpo ocasionadas pelo contato, ou que todas as loucuras feitas por amor, não são vivenciáveis como na ficção.
Não consigo discordar das pessoas que pensam dessa forma, pois eu mesmo observo que a poesia tem o poder de acordar sensações em nós que nem sempre serão despertadas quando aquelas circunstâncias se fizerem realmente presentes em nossa vida, mas mais do que ficar decepcionado, eu realmente me intrigo com tal fenômeno. Isso porque, se nós não conseguimos vivenciar na nossa própria vida determinadas sensações, então por que quando o personagem as experimenta, somos capazes de dividir com eles seus momentos?
Nesse sentido, a verossimilhança parece mostrar seu lado menos mímico e mais criativo. Pois além de ela nos fazer provar de sensações reais que não tivemos a oportunidade de nos proporcionar ainda em vida, ela ainda nos garante outra gama de sentimentos e experiências diferentes de todas aquelas que um dia teremos a chance de degustar. Ela é capaz não só de mimetizar a realidade a nossa volta e transformar em letras, mas também criar ela mesmas novas formas de sentir o mundo a nossa volta e através da arte torná-la sensível e apreensível por nós.
Com isso, mais uma vez eu reitero a afirmativa que fiz em um artigo anterior – a literatura como espelho da sociedade: A literatura, como a arte em geral, não copia o mundo, não o reflete fielmente. A boa literatura é aquela que desestabiliza o leitor e o faz pensar a sua realidade de maneira diferente. Logo, o ato de ler pode ser alço completamente novo em nossas vidas, pois o livro não nos trás apenas experiências comuns, mas novas e inovadoras, através do poder criativo da arte.
Desculpem-me se eu não trago para esse ensaio algum tipo de conclusão, mas isso se deve ao fato de eu não encontrar conclusão para o que pensei. Eu só queria dividir essa idéia nova que me veio durante o carnaval. Espero que tenham gostado e que isso possa fazê-los pensar um pouco o assunto.

2 comentários:

  1. Interessante isso. Nunca me ocorreu essa reflexão. É bastante intrigante...
    Nossa. Talvez isso seja o que nos impulsiona a entrar no mundo literário. E talvez essa conclusão que não conseguistes dar seja uma lacuna a não ser preenchida. Um mistério gostoso que, pelo menos espero, não nos traga conclusões concretas.
    (é que...não sei bem, mas gosto do sabor de um mistério mental...)

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  2. Wnascimento, que bom encontrar teu blog.

    Reflexivo, corajoso e nos faz pensar no seguinte:

    Desde crianças somos bombardeados com historinhas de finais felizes, e onde princesas e príncipes sempre encontram um jeito de viverem a paixão.

    Mas a vida real tem muitos percalços, e quem disse que estamos preparados pra isso?

    Cobramos do outro a nossa felicidade, e acabamos fazendo a muitos infelizes.

    Felicidade é simples e para tê-la, basta procurar a paz.

    abraços, amei seu blog, sigo o com prazer.

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