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domingo, 1 de maio de 2011

Estimulando a Inspiração


Se no primeiro trabalho, Roteiros, eu me preocupei com o método, agora pretendo falar um pouco desse motor de partida que é a inspiração. Antes de qualquer coisa, tenho que dizer que não conheço ainda uma maneira de domar a inspiração, como se esta pudesse ser treinada para surgir quando quiséssemos. Eu mesmo não me imagino em uma época em que tenha de começar a fazer livros por encomenda. Não sei se serei capaz, pois a escrita para mim é um exercício de prazer, e que só é capaz de ser realizado quando a inspiração já se firmou em mim, em um momento que pode ser qualquer um, em qualquer lugar, devido a qualquer estímulo.
Entretanto, o fato de não podermos controlar nossa inspiração, não significa que não possamos exercitá-la, estimulá-la e alimentá-la de modo que estes impulsos possam acontecer mais vezes. Esses ímpetos não serão domesticáveis, pois partem de nossa sensibilidade, nosso lado mais caótico e mais irracional, mas já serão incitados a surgirem com mais frequência, e talvez com mais intensidade. Dessa forma, como eles mesmo depois de atiçados, ainda assim surgiram fora de nosso campo de controle, aqui vai a primeira dica: sempre tenha algo passível de anotações, gravações de voz ou qualquer coisa com que possa registrar suas ideias no momento em que elas surgem em sua cabeça.
Devido a sua natureza imprevisível, as boas ideias surgem quando se menos espera por elas, quando estamos distraídos ou contemplativos. Elas vêm com força, mechem com a gente. Somos capazes de visualizar toda uma história, seus personagens e até alguns dilemas que serão travados por eles. Mas essas ideias são como explosões de uma estrela: elas chegam, nos extasiam e logo desaparecem. Por isso, se não tivermos nada em mãos com que possamos registrá-las, com certeza as perderemos para sempre. Podemos até nos lembrar de um detalhe ou outro, mas nunca seremos capazes de rememorar aqueles pontos que foram capazes de mexer conosco. Por isso, futuros escritores, tenham sempre ao lado de vocês algo com que possam capturar suas idéias: um bloco de notas, um gravador de voz, uma caneta que você possa anotar no braço, qualquer coisa, pois vocês precisam estar sempre preparados para capturá-las e guardá-las para dias vindouros.
Vocês podem não acreditar, mas “De Corpo e Alma”, por exemplo, foi construído quase todo a partir de um sonho. Eu sonhei que estava assistindo a história acontecer e acordei no meio da madrugada. Nessa hora, mesmo embriagado de sono, peguei um caderno que deixo sempre ao lado da minha cama e registrei umas poucas palavras, que me serviriam de bases para lembrar o sonho, aí, quando acordei, fiquei intrigado. Perguntei a amigos e conhecidos se já haviam ouvido falar da história – duas almas, que coabitavam o mesmo corpo, despertando uma possível paixão. Todas as respostas me foram negativas. Então, com base em pequenos detalhes que me foram salvos pelas anotações, foi adaptar a história a um mundo já construído – o de “O Véu”. E disso surgiram 310 páginas.
Agora, dado o primeiro conselho, vamos ao estímulo propriamente dito. A arte é a forma de representação da realidade que está mais ligada as emoções, a estética e a maneira como sentimos o mundo. Não existe uma forma de treinar esse nosso lado. Não existe um método que possa ser aplicado. A única maneira que temos de alguma forma melhorar esse nosso lado e exercitando-o. Então, temos de entrar em contato com coisas que estimulem o nosso lado mais criativo. Nesse contexto, não tem mais nada a fazer. É viver a arte. Assistir a um bom filme. Escutar músicas. Ler de tudo. Ir a exposições. Frequentar peças de teatro e por aí vai.
Aumentar a sensibilidade é estar preparado para ter novas experiências, que podem nos ser trazidas por coisas vividas no dia a dia, como também podem nos ser emprestadas pela arte. Uma coisa que percebi é que em meus processos criativos, a ideia nunca vem antes da sensação. Não é uma cena de ação que me faz sentir adrenalina, nem uma ideia de uma cena de romance que faz o meu coração disparar. Geralmente o caminho tomado é o oposto. A sensação vem antes da ideia. É a tristeza que uma música causa que me faz pensar em momentos de drama, assim como é a alegria de um filme que me faz pensar em situações de comédia.
Por estar ligado tão intimamente aos nossos sentimentos que a inspiração é imprevisível. Por isso, não queiramos nós controlar isso. Deixe estar, deixe acontecer, mas esteja preparado para capturá-la sempre que ela surgir.

3 comentários:

  1. Pior que inspiração é uma coisa bem complicada, as minhas sempre veem em momentos inoportunos e na maioria das vezes quando estou no bus... Bahhh, sorte que guardo grande parte das ideias que veem a minha cabeça, não é tão fácil. Mas assim consigo não perder tudo...
    Adorei o artigo!

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  2. Estou te seguindo novamente, só por que sou brasileira e não desisto nunca. Blog maravilhoso, nem preciso dizer que é uma inspiração o que você escreve. abraço...

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  3. o meu problema é que a inspiraçao vem toda em imagens, aí traduzir para palavras fica meio complicado (toda traduçao é uma traição)sem falar qdo vem mais de uma de uma vez só.

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