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domingo, 13 de novembro de 2011

Quem é melhor: Edgar Allan Poe ou Stephen King?

Antes de qualquer coisa, digo que, diferente do que o título faz supor, meu objetivo neste artigo não é responder a esta pergunta. Até porque, não acredito que o valor de um trabalho artístico possa ser tão facilmente delimitado, principalmente comparando gerações de escritores tão distantes como estes dois. Então, escrevo este artigo mais para contribuir à velha discussão acerca da qualidade atribuída aos clássicos e aos contemporâneos, pois está é ainda, e acredito que sempre será, um debate mal resolvido.


Basicamente, as duas posições do debate possuem argumentos bastante sólidos quando buscam defender seus pontos de vista. Àqueles que procurariam defender Edgar Allan Poe, alegando que este autor é melhor, vão provavelmente alegar que Edgar inaugurou o gênero do terror, que foi o grande mestre sem o qual Stephen King jamais poderia começar a escrever. Edgar é um clássico, e como todo bom clássico, na concepção de uns, é intocável. É aquele autor tão monumental que sua presença faz sobra ao presente, e os escritores de hoje nada mais podem fazer do que contemplar sua grandiosidade e, na medida do possível, imitar o grande mestre.

Em contrapartida, os seguidores de King poderiam alegar que, sendo ele um discípulo de Poe – usando até mesmo um trecho de seu conto “A máscara da morte rubra” como epígrafe de uma de suas obras primas, “O iluminado” – tem sim contas a prestar ao antigo mestre. Entretanto, King, mais do que apenas copiar o professor, este aluno na verdade o aperfeiçoou. Afinal, não é uma tendência o discípulo superar o mestre? E os leitores de King ainda poderão dizer mais. Poderão alegar que King, com seu estilo cinematográfico, é capaz de prender mais a atenção do leitor, de causar-lhe mais espanto e comove-lo mais do que o discurso ultrapassado de Poe.

O que posso dizer em um primeiro momento é que ambas as concepções estão absolutamente corretas. O fato de Poe ser um mestre não muda o fato de que King, ao aprender com ele, não seja capaz de aperfeiçoá-lo. Mas isso também não muda o fato de que Poe é o mestre e que muito do que King é hoje, deve-se à ele. Então como resolver esse impasse? A resposta: não se resolve.

Tanto King, quando Poe já são considerados pelos leitores de hoje como autores importantes da literatura estadunidense. Contudo, é um erro comum atribuir à esses “gênios” um caráter universal e eterno. Como se Poe pudesse ser Poe e King pudesse ser King em qualquer tempo ou lugar. Como se o gênio desses autores fosse tão iluminado que eles ganhariam reconhecimento e destaque independente de onde escrevessem.

Se King houvesse nascido no séc. XVIII, seu estilo dinâmico e cinematográfico jamais seria possível, pois este estilo é um estilo atual, que não era possível na época de Poe. Da mesma forma, se Poe, com seu romantismo, fosse escrever para nós hoje, ele, como um homem do século XXI que escreve como um autor da idade moderna seria considerado ultrapassado e desinteressante.

Uma coisa que os estudos em História me ensinaram foi que cada coisa tem sua historicidade, ou seja, cada ser humano, cada visão de mundo, cada tendência artística possui sua certidão de nascimento e, muitas vezes, seu atestado de óbito. Logo, cada artista, vai tentar atender as exigências do tempo em que ele é lido. Tempo este que poder ser o seu de vida, ou anos depois, quando algum curioso acabar desenterrando-o da cova do esquecimento.

King é um homem do presente, de um tempo em que o cinema está em moda, que o terror é algo muito mais dinâmico, cheio de sustos e efeitos espetaculares. Poe é um homem do XVIII-XIX, embebido do romantismo de seu tempo, do mal do século, das ânsias que paixões humanas. Ambos são homens de seu tempo, que escreviam para leitores de seu tempo, e ambos foram bons para seus tempos. Talvez a única vantagem que Poe tenha sobre King seja o fato de ele ter nascido primeiro, e isso o permitiu escrever antecipadamente à seu sucessor. Assim como a única vantagem de King seja a de ter nascido depois, e com isso, tido a oportunidade de ter conhecido o trabalho de Poe para ter uma base e assim firmar a sua própria forma de escrever, algo que Poe jamais teve a oportunidade.





8 comentários:

  1. Eu ainda prefiro Stephen King.. Edgar apesar de ser um classico, a estrutura física de sua literatura nao me agrada!!!

    Fico com King!!!

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  2. Concordo com seu ponto de vista a respeito deste debate insolúvel entre superioridade de escritores clássicos em épocas diferentes (e olha que tem gente que nem considera o King um clássico, talvez, quem sabe, depois dele bater as botas, como sempre acontece o processo de imortalização literária...). O escritor absorve muito do contexto histórico em que vive e passa isso às suas obras, por isso, não acho que haja um estilo melhor ou pior, são apenas diferentes. Vamos então imaginar que o Tolkien lançasse o sua fabulosa trilogia(que na verdade era apenas um livro) nos dias atuais. Dificilmente faria sucesso e, pior ainda, aceito no mercado. Motivo: o livro estaria bastante deslocado com o estilo de literatura em vigor no mercado. A linguagem rápida e objetiva das obras contemporâneas não daria espaço para suas extremas descrições.
    Mas como disse, acho que será sempre um debate mal resolvido.

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  3. Parabéns pelo artigo Willian, gosto muito de sua liberdade intelectual ao tratar de literatura. Deixou bem claro os dois lados da moeda, achei bacana.
    Bom, em meu caso sou mais adepto a linguagem de King - não sei se pelo fato de ser mais dinâmica ou contemporânea. Assim como, confesso que li mais livros dele do que Poe e dessa forma uma opinião mais certeira pode ficar dúbia neste caso.
    Um aspecto que me atrai muito, na maneira que King escreve, é o fato dele trabalhar muito o psicológico de seus personagens ao ponto de que o leitor vai sendo envolvido abruptamente e de modo que não há rodeios e escapatórias: no final você faz mais parte do enredo do que pensava. Acho isso fantástico!
    Tenho que terminar de ler os livros da "Torre Negra", parei no início do quinto volume. Vou terminar de ler essa incrível história.

    Um abraço Willian, parabéns pelo Blog.

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  4. rs
    No geral, também prefiro o King, pela dinâmica. Embora adore o estilo poético de Poe. Algumas descrições são simplesmente brilhantes.
    Thanks

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  5. Eu sinceramente não gosto de Edgar Allan Poe, prefiro Aghata Christie. Mas dizer que se Poe nascesse hoje ão teria fãs é precipitado. Na História não existe o "se". Afinal não existem hoje ainda pessoas que o preferem à pessoas que preferem os autores contemporâneos? Outra coisa, o que teno percebido é que na pós modernidade todos os estilos tem seu lugar e seus fãs, acho até que o mal do século Romantico ainda vive. Do pouco que me lembro da escola se trata de pensar a vida como uma agonia constante. Quantos sambas não perpetuaram isso?

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  6. A diferença talvez seja apenas a apropriação que cada época faz.

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  7. Já li ambos os autores e gosto dos dois. Não sei por que as pessoas insistem nessa história de "qual autor é melhor", quando cada autor tem seu próprio estilo e contexto. Temos é que agradecer por termos acesso a textos tão bons e diversos quanto os desses dois. Ótima argumentação a do seu artigo.
    Mas vale ressaltar que Poe foi também um dos percursores do conto moderno. Sem ele, talvez o estilo de escrever atualmente fosse bem diferente.
    Abraços.

    P.S.: Deixo o link do meu blog, se quiser me fazer uma visitinha^^: http://www.meigaemalefica.blogspot.com.

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  8. Ambos são bons. Mas eu gosto muito de King. Ao contrario de Poe seus textos não tornam-se exaustivos. King é um grande escritor e atende todas as nescessidades de um leitor. Eu nunca consigo cansar-me de ler seus textos surpreendentes.

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