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sábado, 26 de fevereiro de 2011

Vocabulário


Escrever, de certa forma, significa saber dominar bem a língua que instrumenta. Saber corretamente o significado das palavras e também dominar as regras de ortografia e gramática, semântica e sintaxe. Contudo, escrever bem é também saber se comunicar, o que exige do escritor mais do que simplesmente saber dos códigos linguísticos, mas também, conhecer e definir seu público-alvo.
Durante algum tempo, escrever bem pareceu se tornar sinônimo de “escrever difícil”. Escolas literárias brasileiras como a parnasiana, a simbolista e até mesmo algumas mais contemporâneas atribuem ao valor da obra a uma linguagem rebuscada e com um vocabulário rico. Entretanto, tal apego ao “escrever difícil” leva muitos escritores a cometer erros terríveis do ponto de vista da coerência do texto para com seu público.
A escrita mais erudita pode parecer atraente para um olhar acadêmico, para críticos literários ou para pessoas que estudem bem a língua, contudo, para outros, pode ser apenas um instrumento que torna a história mais cansativa, confusa e entediante. Saber que público é esse que deseja atingir, se torna então, essencial para se definir a melhor forma de escrever.
Não existe uma forma única e correta de se construir uma oração. Tanto a mais simples quanto a mais rebuscada têm seu valor na medida em que buscam criar coerência e sentido a mensagem passada. Um grande estudioso pode sentir-se mais a vontade lendo uma obra de Machado de Assis ou de José Saramago, pois gosta da forma como esses autores escrevem e presam pela língua portuguesa. Entretanto, para leitores iniciantes, que ainda estão tomando o gosto pelas letras, ou para pessoas que vejam na literatura apenas uma forma de relaxar, provavelmente torcerão o nariz para essas obras.
Todos nós buscamos determinados livros para atingir determinados objetivos. Se eu quero apenas “apoiar as pernas em cima da mesa e ler para relaxar” logicamente que irei procurar por leituras mais simples, com linguagem mais acessível e enredo melhor degustável. Contudo, quando procuro por uma obra que me ajude a crescer como escritor, tenho sim que recorrer aos clássicos ou aqueles trabalhos onde há um maior investimento ortográfico.
Não existe uma leitura certa e outra errada. Todas elas nos ajudam de alguma forma a crescer. Até mesmo as ruins, pois nos ensinam o que não devemos fazer. Impor uma única forma de escrever seria o mesmo que uniformizar a literatura, e para a arte em si, não existe maior pecado que aquele de querer que tudo seja igual.
Cada artista tem que conhecer os potenciais e limites seus e do seu público. Isso porque, se você ainda não têm o cabedal cultural necessário para escrever com requinte, meu conselho sincero que não tente. Pois n]ão existe coisa mais bizarra do que alguém que tenta falar bonito e acaba não dizendo coisa com coisa. Da mesma maneira, você deve entender as potencialidades do lugar de fala em que você está.
Se está escrevendo para acadêmicos, especialista em alguma área científica, logo, o uso dos códigos pertinentes aquela área são fundamentais. No caso de advogados, o código linguístico dos juristas, se para historiadores, os conceitos e categorias das ciências humanas e sociais. Mas se for para o jovem interessado em leitura, ou para aqueles que procuram um livro como forma de se desligar do mundo por algum tempo e sentir o prazer da leitura, então a estes deve ser destinado um vocabulário mais aberto, mais comum, mais cotidiano.
(Sem falar, é claro, que se você está escrevendo um romance onde pretende abordar a vida de pessoas humildes, acredito que seja do mínimo de bom senso que você não empregue palavras de alto escalão na fala de um pobre camponês.)
Concluindo minha análise e aproveitando para citar um exemplo pertinente, falo um pouco do livro de Carlos Costa – “Quando dormem as feiticeiras”, publicado em 2009 pela novo século. Pois este é, para mim um bom exemplo de uso adequado do vocabulário. Com palavras bem selecionadas, o livro de Carlos Costa consegue demonstrar grande conhecimento da língua portuguesa sem ser excessivamente rebuscado. Afinal, falamos de uma história que gira em torno da Europa medieval, e uma linguagem moderna seria no mínimo estranha ao contexto. Mas também falamos de um livro de fantasia, voltado possivelmente para um novo leitor. Logo, o excesso de esmero seria um pecado mortal para o potencial de propagação da obra.
Resumindo, antes de saber que linguagem é a mais adaptada a você escritor, procure conhecer suas pretensões e seus limites, assim como as pretensões e limites de seu público-alvo, só assim encontrara a resposta.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Leitura e Reflexão – O Leitor de Bernhard Schlink



Saudações Leitores.

Além de passar a ter uma parte dedicada a resenhas de livros nacionais, outra novidade do Por detrás do Véu 2011 será a sessão “Leitura e Reflexão”, onde selecionarei uma obra de grande popularidade e circularidade e retirarei dela temas que instiguem o pensamento. Essa coluna, além de ajudar a promover debates que possam nos enriquecer culturalmente, também tem como proposta revelar o lado mais complexo de uma boa obra literária: sua capacidade de desestabilizar o leitor e forçá-lo a pensar de outra forma sua realidade.

Como recomendação que deixo para os possíveis leitores, é que só acompanhem os artigos de Leitura e Reflexão aqueles que já tenham lido a obra selecionada, ou aqueles que não se importem em ver “spoillers” que possam vir a estragar a surpresa final. É que para essa empreitada, revelar momentos do livro acaba por se tornar essencial para gerar debates. Ato esse que não costumo fazer quando escrevo uma resenha.



Muito bem, sem mais delongas, vamos à obra de hoje: O leitor, de Bernhard Schlink.



Este livro, que recentemente ganhou versão cinematográfica, conta a história de amor de um jovem – Michael Berg – e uma mulher vinte anos mais velha – Hanna. Com uma paixão que se divide entre os momentos de leitura, onde Michael lê seus clássicos favoritos para Hanna, e a descoberta do sexo, a primeira parte do livro faz um esboço geral dos personagens, mostrando suas características e curiosidades. Contudo, a coisa dá uma reviravolta quando Hanna desaparece.

Anos depois, Michael, estudante de direito, envolvido em casos de crimes de guerra, passa a assistir a julgamentos de criminosas nazistas, onde, no banco dos réus, entre as mulheres acusadas do assassinato de dezenas de judeus, ele reencontra Hanna. E é esta parte que nos interessa para fins de reflexão.

O que foi o nazismo? Quais as características de sua perversidade? Qual a sua lógica e qual foi seu impacto para seus agentes históricos, aqueles que viveram sua realidade?

Atualmente, temos uma idéia muito segmentada no evento, com suas atrocidades e monstruosidades, representadas por imagens fortes, tais como a pilha de corpos, ou de prisioneiros subnutridos, vivento em estado desumano. Vincular Nazismo a monstruosidade é algo muito comum. E não quero dizer que penso o contrário, pois como ser humano também me assombro com o que uma pessoa é capaz de fazer com outra. Mas, como seria dar uma espiada pela perspectiva de um nazista? Largar o pijama listrado da vítima e tentar vestir a farda do algoz. Qual seria a lógica por detrás disso.

Essa é para mim uma das grandes contribuições deste excelente trabalho. Hanna é julgada, acusada do assassinato de inúmeras mulheres judias, trancafiadas em uma igreja em chamas. De acordo com a acusação, Hanna seria a líder do grupo de oficiais femininas que estava sendo julgado, e foi através de sua ordem, apresentada através de um documento supostamente assinado por ela, que a Igreja onde eram mantidas as prisioneiras foi mantida trancada, mesmo estando em chamas, para garantir que as culpadas não fugissem.

Diante dessa acusação, Hanna se defende como pode, demonstrando muita lógica e razão em seus argumentos. Quando questionada sobre o motivo de ter aceitado o emprego de cuidar de prisioneiras judias, ela alega que ou era isso, ou era morrer de fome, já que as ofertas de emprego na Alemanha de seu tempo não eram favoráveis a uma mulher. Quando perguntam do porque de ter mantido trancada a igreja que serviu de túmulo para milhões de mulheres, ela disse apenas que não poderia abrir as portas, visto que se as prisioneiras fugissem, ocorreria o caos e ela e as outras oficiais correriam risco de vida.

Respostas demasiadamente frias, mas que estranham o leitor que viu, na primeira parte do livro, uma Hanna muito mais sensível, capaz de amar e se relacionar com um garoto, cuidando, ensinando e acolhendo-o quando estava doente. Tal estranhamento só vem a se tornar mais perturbador quando Michel descobre o segredo de Hanna. De acordo com o documento supostamente assinado por ela, Hanna teria dado ordem de trancar a igreja e deixar as prisioneiras ali para morrerem. Diante da acusação, ela se cala, aceita a sentença e espera o resultado.

Mas Michael sabe da verdade. Sabe que Hanna não poderia ter escrito e assinado o documento, pois Hanna era analfabeta. Contudo ela não se defendeu, tão pouco desmentiu o documento comprobatório. E com isso, recebeu a pior das sentenças entre as demais acusadas.

Porque Hanna preferiu ser acusada de assassinato em massa a assumir para os jurados que era analfabeta? E é nesse ponto que podemos entender um pouco da mentalidade nazista. Seus valores, suas visões de mundo. Hanna não era um monstro, pois o livro nos demonstra isso muito bem. Mas sim alguém que foi ensinada que existiam pessoas naquela sociedade em que ela vivia que não eram dignas de estarem vivas. Para ela, um judeu, um doente mental, um homossexual, não eram pessoas dignas de pena. E por isso, matar milhares deles não era algo indigno, mas sim natural. Como um inseto que está diante de nós, e pode nos infectar com suas doenças. Para evitar a enfermidade, nós o matamos, os tiramos do caminho. Não necessariamente nós sentimos ódio do inseto para matá-lo, nem tão pouco ficamos penalizados com seu destino.

Nesse sentido, percebemos a hierarquia de valores que havia em alguns seguimentos sociais do Ocidente do Séc. XX. Ser analfabeto era uma vergonha, mas ser o assassinado de grupos raciais inferiores ou degenerados, não. Pois aquilo sequer era considerado assassinato, e sim um ato de limpeza.

E é aí que entramos na lógica nazista. Digo lógica, pois o nazismo não era algo irracional como somos forçados a aprender, mas sim seu inverso. Ele era pura lógica. Era só lógica. Tanta lógica, que não havia espaço para sensibilidade. Hanna era uma personagem que era capaz de amar um garoto, de ter relações sexuais, assim como era uma profissional capaz de selecionar prisioneiras que deveriam ser mortas. Isso porque, a razão dizia a ela que ela tinha que cumprir ordens, para que as coisas funcionassem na empresa onde ela trabalhava. Era uma oficial que não podia salvar a vida daquelas mulheres trancadas na igreja, pois se o fizesse, sua própria vida estaria em risco. Era uma pessoa que não podia poupar um prisioneiro, pois este não era uma ser humano para seus padrões.

Ana Beatriz Barbosa e Silva nos mostra em seus capítulos iniciais de “Mentes Perigosas” que todo o ser humano tem um equilíbrio entre razão e sensibilidade. E que este equilíbrio é a chave de nossa consciência. Quando um desses elementos esta em desproporção, não há consciência. Um ser totalmente racional não é um ser consciente, pois falta para ele a capacidade de sentir empatia, ter entender o sofrimento que suas ações causam em seus semelhantes.

Nazistas eram pessoas racionais. Assim como muitos de nós nos consideramos. Mas eles eram extremamente racionais. Trabalhavam com a lógica de uma forma tão precisa que eram capazes de olhar suas vítimas não como pessoas, mas como números. E quando números, são muito mais simples de se apagar.

Concluindo a reflexão desse artigo, acrescento que o livro de Schlink mostra o lado humano do nazismo. Não o justificando ou aprovando-o, mas sim, compreendendo-o. Tentando pensar como ele, sem julgamentos e sem agressões. E algo que ele deixa a questionar, pelo menos em mim, é: teríamos nós, no lugar de Hanna, agido de forma diferente?



quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Resenha - Vincet Law: O Mundo de Avalon

Saudações Amigos Leitores.

Há um tempo venho com a idéia de começar a usar o Por Detrás do Véu para divulgar não só meus trabalhos como também o de outros companheiros de escrita no Brasil. Acho que é uma iniciativa válida visto que eu sempre falo do aumento da produção nacional, mas pouco comento sobre o conteúdo do que está rolando no mundo das letras nacionais.
Então, conforme for. vou postando aqui as resenhas de livros brazucas que li.


O primeiro deles será o livro de Vincent Law, autor que, como eu, é um fluminense. ^^
Seu livro, O Mundo de Avalon foi publicado em 2010 pela editora Baraúna, se apresentando como a nova proposta em fantasia medieval brasileira.


Segue a Sinopse, para os interessados:


No passado, uma corrente se espalhou, e os mais fracos foram dominados pelos mais fortes. Hostilidades foram declaradas e generais destruíram nações inteiras. O Mundo de Avalon é um lugar onde vivem seres humanos que foram manipulados por um Divino, que se intitulou o Criador de Tudo. Um mundo selado, que os humanos tentaram desvendar no passado, mas que agora só pensam em conquistá-lo. Nesses continentes existem cinco nações, onde seus generais, considerados os mais fortes dentre todos os Despertos, lutam batalhas sangrentas, e são chamados de "Os Intocáveis". Mas há um Desperto em especial, Leon, um soldado do Império de Sililvânia. Contudo, ele se encontra perdido entre dois sonhos: um lhe diz que ele será a ruína daquele mundo, enquanto o outro suplica para que se dirija a um determinado lugar. Os seus amigos o acompanharão nessa viagem, que terá a duração de quinze dias, neste primeiro volume. Porém, algo mais que um simples mundo selado será descoberto. Os sete Cavaleiros, que são conhecidos como os protetores daquela região, entrarão no caminho da humanidade e colocar-se-ão como um grande obstáculo às nações. Os Dez Illuminati, protetores da falsa Deusa, com toda a sua imponência, irão adentrar o caminho de Leon e de seus amigos. Você irá se sentir verdadeiramente sugado pela história, que o levará a consumir cada pequeno passo dos diálogos de forma prazerosa, em que os personagens mudam constantemente e o rumo da história leva a um caminho incerto. Será que Leon terá um futuro? Há esperança de poder mudar sua sina, mesmo tendo de transpor todas as adversidades? Este jovem tentará mudar aquele mundo, seja para a sua destruição ou sua liberdade! Acesse e tenha acesso às informações para este romance, de uma mistura magistral de mistério e aventura: http://revelandoagnose.blogspot.com 

Agora, a Resenha:

Criar um livro de fantasia medieval não é uma tarefa fácil. Pois além da história em si, todo um mundo tem de ser criado com sua própria realidade, história e habitantes. Soma-se isso a um forte investimento de Vincent Law em criar um enredo onde, além de ação e aventura, houvesse espaço para reflexões de caráter político, social e filosófico, então podemos chegar à conclusão de que o Mundo de Avalon não decepciona.
Trabalho de estréia deste fluminense, O Mundo de Avalon se apresenta como uma história criativa, recheada de personagens e lugares exóticos. Este excesso de nomes para se gravar pode até mesmo se apresentar de forma negativa, visto que é capaz de tornar a história um tanto quanto longa e cansativa. Todavia, se apresenta a meu ver como uma necessidade ao se criar uma realidade nova.
Sendo um romance de estréia, obviamente que o trabalho apresenta algumas falhas, como a carência de um vocabulário mais amplo e algumas pontas soltas, mas nada que desmereça a qualidade da obra. Até porque, sendo apenas um dos volumes de outros que virão, entende-se que os detalhes pouco esclarecidos serão retomados em futuros volumes.
Sem dúvidas que esta não é uma história simples, daquelas que podem ser lidas rapidamente e onde a coisa flua com naturalidade. Não. Está exige do leitor certa dedicação em gravar nomes e datas e em se dar o tempo necessário para se acostumar com a realidade proposta. Somente depois de passadas as primeiras páginas, quando o leitor já estiver familiarizado com o novo mundo, é que se pode adentrar fundo na trama.
E apenas como curiosidade. Um detalhe que achei interessante ao ler o Mundo de Avalon foi a forte influência do estilo japonês nesse escrito. Além de a capa apresentar desenhos em estilo Mangá, várias cenas, principalmente as de luta, são bastante parecidas com aquelas que ocorrem em Animes como Dragon Ball Z ou Naruto. Como fã do gênero, tenho que dizer que gostei dessa novidade.
Concluindo a resenha, acho importante chamar a atenção para um detalhe que me chegou aos ouvidos. Toda a primeira obra – seja ela qual for - tem um grande peso de aprendizado para o escritor. Aconteceu comigo em O Véu e aconteceu com Vincent em O Mundo de Avalon. Neste sentido, é o feedback recebido que vai guiar os futuros escritos, fazendo o criador repensar seu estilo e seus métodos em contar uma história. Digo isso porque soube que, com base nas primeiras críticas dos leitores, o Mundo de Avalon está sendo remasterizado, trazendo em breve um segundo volume onde as arestas deixadas pretendem ser corrigidas além de trazer uma escrita mais atraente e inovadora.
Pontos em favor do autor pela humildade em assumir erros.



Veja também o cadastro do livro no SKOOB.

Espero que tenham gostado da postagem.
Abraços

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Prazos e limites no desenvolvimento da escrita.

Quando a escrita é um prazer, como é para mim e como é para muitos que se aventuram por esse mundo das letras, é extremamente chato saber que existe um prazo final para você entregar seu trabalho, ou que você precisa ter tal número de palavras, ou que necessita atingir qualquer tipo de meta possível. Isso acontece porque quando temos a literatura como um hobbie, qualquer limite desses transforma todo um trabalho de prazer em compromisso, em obrigação.


Do ponto de vista do divertimento isso pode parecer complicado ou desgostoso, mas da perspectiva da produção intelectual essa cobrança é um mal necessário. Isso ocorre porque, se cada escritor do mundo tiver tanto apreço pela sua obra quanto eu, que sinta a necessidade de re-ler e re-escrever seu trabalho uma, duas, três, quatro... um milhão de vezes, e mesmo assim sinta que ele não está bom, então ter um relógio ao seu lado avisando que seu limite está passando, se torna absolutamente preciso.

Olhar para seu próprio trabalho e acreditar que ele não está bom o bastante é algo comum para qualquer um com o mínimo de senso crítico. A verdade é que nosso trabalho nunca está bom o bastante para os nossos olhos. Sempre achamos que podemos melhorá-los, o que de fato não é nenhuma mentira: pois sempre podemos melhorá-los. Mas se ficamos preocupados em aprontá-los de tal forma que cheguemos à perfeição, infelizmente passaremos a nossa vida inteira presos em uma única produção. E esse caminho só poderá levar a um destino: a completa frustração e a desistência.

Quando ficamos presos demais em um único projeto a tendência natural é sermos levados ao desgosto. Isso porque sentimos que na verdade não estamos criando nada. E nessas circunstâncias uma autocrítica implacável só tende a agravar a situação. Pois existirá um momento em que o autor precisará chegar a triste conclusão de que sua obra não é perfeita, mas que ele não poderá fazer nada a respeito.

A evolução, nesse caso, só ocorrerá no próximo investimento do autor, com um projeto novo e diferente. Aí sim o escritor poderá usar a experiência de seus antigos escritos e aplicar nesse projeto original. É claro que quando olhar para trás, vai perceber uma mudança entre seus diferentes trabalhos. Às vezes, até mesmo sentirá certo constrangimento do que antes escreveu, por se ver assim em uma época tão inocente e imatura. Algo que também é absolutamente normal.

José Murilo de Carvalho
Um dia estive conversando com amigos da faculdade e falamos de grandes escritores como José Murilo de Carvalho, hoje Imortal da Academia Brasileira de Letras, e de como esses homens devem encarar seus trabalhos mais antigos, aqueles que eles sequer lembram de terem feito. Como será que o autor de “Os bestializados”, “Teatro das sombras e a Invenção da Ordem”, “A formação das almas”, entre muitos outros, deve encarar sua monografia de graduação, ou os artigos que publicou quando ainda era um mero estudante.

Provavelmente ele nem quer se lembrar desses trabalhos, ou talvez ria do que escreveu antes, sabendo com total clareza que seu pensamento já se modificou bastante. Mas se hoje ele é quem é, foi porque soube – ou então foi forçado a saber – no tempo certo o momento de finalizar um trabalho e entregá-lo ao julgo. E aí, recebendo o feedback necessário, guardar essas informações e usá-las em um novo projeto.

Nesse momento, se você não é capaz de por si só saber à hora de parar, ter alguém chato pressionando você à entregar seu escrito no prazo pode ser necessário. É assim que os prazos e os limites podem nos ajudar, pois eles nos forçam a finalmente entregar algo pronto. Só com ele finalizado e lido por outros que se terá a chance de crescer. Pois enquanto ficamos apenas revisando e concertando arestas, estamos apenas nos baseando em nossos próprios critérios, que são muito limitados e ignoram todo o público leitor que pode dar sua contribuição.

Como um exemplo prático, posso citar o caso do “Mundo de Avalon”, de Vincent Law. Livro este lançado em meados do ano passado, recebeu algumas críticas e teve pontos fracos explanados pelo público leitor. E tal feedback foi o necessário para que o próprio autor revê-se sua criação e pudesse se desenvolver. Neste caso, vale alertar que esses pequenos defeitos jamais chegariam aos vistos do autor se ele não tivesse a coragem de finalmente finalizar seu trabalho e entregá-lo.

Vincent Law e O Mundo de Avalon - resenha em breve aqui no Blog.
Então, por mais irritante que possa parecer, acho viável encararmos esse calendário chato e esse relógio estressante como algo que está ali não apenas para nos impor limites, mas sim como uma forma de crescermos como produtores de conhecimento. Pois jamais seremos produtores se não produzirmos nada, não é mesmo?

domingo, 6 de fevereiro de 2011

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Fotos do Lançamento de De Corpo e Alma

Ainda não tenho todas, mas como já estou devendo a mais de uma semana, aqui vão algumas.
^^
Ah, aqueles que tiverem mais, teriam como me enviar por e-mail?
willian.nasci@hotmail.com.
Agradeço.
Fotógrafo: Vinícius Ferreira


Fotógrafo: Vinícius Ferreira

Fotógrafo: Vinícius Ferreira


Fotógrafo: Vinícius Ferreira


Fotógrafo: Vinícius Ferreira