Sigam-me os Bons

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Comunicado

Oi galera.
Bem, essa semana eu fiquei um tanto adoentado e por isso não consegui preparar um post legal para vocês.
Mas semana que vem, eu os compenso, sim?

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Inicia-se a votação do Top Blog Brasil 2011

Saudações Amigos.
Hoje recebi o comunicado de que a votação para o Top Blog Brasil, no qual o Por detrás do Véu concorre na categoria de melhor blog de literatura, começou.
Gostaria muito de pedir humildemente a cada um de vocês que lêem e acompanham esse trabalho que ajudem com seu voto.
Basta clicar no ícone no canto superior direito do blog.
Juntos, vamos por o Por detrás do Véu no TOP.

Obrigado a todos

Willian Nascimento


domingo, 15 de maio de 2011

Leitura e Reflexão – “Jeremias, o bom”, de Ziraldo.

É muito bom quando um livro cai em nossas mãos assim, por acaso, e acaba se tornando um belo presente. Isso aconteceu comigo esta semana, quinta à noite, enquanto aguardava o metrô na estação Carioca. Lá, tem uma maquina responsável por vender clássicos de bolso a dois reais, e olhando sem muito interesse, acabei achando a coletânea de charges de “Jeremias, o bom”, de autoria do grande cartunista Ziraldo, e foi com ele que levei minha viagem de volta para a casa.


Ao terminar de analisar as charges, não pude deixar de pensar um pouco sobre essa questão da bondade. Pois notei no trabalho de Ziraldo uma forte crítica ao povo brasileiro como um todo. Um povo que é visto como bom, amistoso, receptivo e bem humorado, mas que tais qualidades muitas vezes acabam se transformando em comodismo, inércia e apatia. Ziraldo é um personagem sem dúvidas bom, prestativo e amável, contudo, nem sempre sua bondade é retribuída da mesma maneira. Muitos se aproveitam dele, pisam nele, ganham às suas custas e ele nada faz, não se queixa, sequer consegue tirar o sorriso do rosto.

A fronteira que divide a bondade da ingenuidade pode ser muitas vezes tênue, principalmente quando ser bom significa abrir mão de nossa identidade, de nosso espaço, de nosso direito de sermos originais. Nesse sentido, tendo a concordar mais com Maquiavel, em “O príncipe”, do que com Jeremias, pois apesar de este grande autor francês ser menosprezado, acusado de imoralidade e de malignidade, o que Maquiavel mostra muito bem e defende com maestria é que todo o ser humano é dotado de boas e más virtudes. Temos o bem e o mal dentro de nós e saber jogar com essas forças é essencial para podermos viver no mundo.

É a justa medida que parece vital no momento em que nos colocamos a viver em sociedade. Não precisamos ser altruístas a todo o momento para sermos bons. Às vezes, ser egoísta é aquilo que vai garantir não só sua comodidade, mas também sua segurança de saber que seus limites não estão sendo violados. Jeremias, a meu ver, parece não saber impor este limite. Ele não se importa de perder seu tempo, seu dinheiro, sua saúde e seu bem estar para ajudar os próximos, atendendo seus pedidos quando muitas vezes esses pedidos são tão absurdos que já demonstram que eles não têm o menor respeito com relação a Jeremias.

Por isso, ser humilde, ser gentil e educado, saber ser generoso podem ser excelentes virtudes, mas que não podem encontrar espaço para florescer se a pessoa em questão estiver no meio de pessoas egocêntricas, grossas e mal educadas. Temos de saber explorar todos os nossos lados, na medida certa, de modo a sabermos lidar com as diferentes circunstâncias desse louco e caótico processo que se chama vida.

(P.S. Sei que este foi curtinho, mas é que o tempo estava apertado. ^^)

domingo, 8 de maio de 2011

Afinal, por que escrevo fantasia?


“Por que escrevo fantasia?” Essa foi a pergunta que já me fizeram e eu mesmo já me fiz inúmeras vezes. Escrevo porque gosto? Porque acho importante? Porque é o que faço bem? Talvez sim, talvez não. Acho que um pouco de cada coisa. Mas a grande questão que parece me seguir cada vez que eu tento explicar meu trabalho, é essa: “mas o fim e ao cabo, que utilidade tem o que eu faço?”
Qual a utilidade da fantasia para o nosso mundo moderno, ou pós moderno para alguns? Normalmente, na escola, temos certas dificuldades em reconhecer o grau de importância de determinadas áreas, como acontece com a literatura, a arte, e até mesmo as ciências humanas. É comum aprendermos que importante mesmo é saber matemática, português, química, física e biologia, pois estas são as verdadeiras ciências e são elas que são importantes para a nossa formação, para a nossa vida. Será mesmo?
Hoje, olhando para trás e pensando minha vida, confesso que fico um pouco triste com a quantidade de coisas inúteis que aprendi, tudo porque alguém as empurrou para mim dizendo serem importantes. Confesso que uso muito dos cálculos que aprendi na escola em meu dia a dia, para contar dinheiro, calcular troco, horas e outras coisas burocráticas da vida. Mas ainda assim, tenho dificuldades em saber porque afinal tive de perder tanto tempo aprendendo a calcular a área de um triangulo, ou a resolver problemas de permutação, equação e matriz. Em que elas acrescentaram no que eu sou hoje? Nada. Apenas aprendi, apliquei na prova e as esqueci, pois nunca mais tive a necessidade de usá-las.
O mesmo aconteceu com meus conhecimentos com relação à ligações atômicas, ou organelas e plantas, ou então as reflexões sobre termodinâmica, eletricidade e outras e outras mais que me tomaram tanto tempo preso nas salas de aula. Concordo que esses conhecimentos me ajudaram a passar no vestibular e a estudar na UFRJ, como faço hoje. Contudo, e o que mais? Será que a educação é isso, uma série de conhecimentos que visam ajudar o aluno a passar no vestibular?
Meus caminhos escolhidos hoje independeram de todas essas coisas importantes que aprendi e isso não significa que hoje sou melhor ou pior que qualquer outro que as use. Apenas escolhemos caminhos diferentes, somos pessoas diferentes. Então, por que algumas áreas são mais valorizadas do que outras? Seria a arte, a literatura, a religião, a mitologia, a história, a geografia, além de outras formas de conhecimento, menos importantes? Inúteis?
A resposta: talvez sim. Pois se formos parar para pensar, o que é útil, de verdade, para nós? Somos seres vivos, precisamos comer, respirar, descansar algumas horas por dia. Precisamos daquilo que é básico para a manutenção da nossa vida, e só. Todo o resto foram criações nossas, que hoje nos parecem importantes só porque nós demos importâncias para elas. E hoje, são coisas indispensáveis na nossa vida.
Uma frase que escutei uma vez e que mudou a minha vida, mas infelizmente não sei a referência, foi a seguinte: “O que distingue os seres humanos dos animais, é justamente a nossa capacidade de fazer coisas inúteis”. Fazer coisas inúteis, coisas que não estão necessariamente ligadas a manutenção e preservação da vida. Sair, brincar, pensar, refletir, construir coisas. Vivemos sem elas. Ou melhor, sobrevivemos sem elas. Mas aí, estaríamos negando a nossa humanidade, pois como seres humanos, estaríamos incompletos.
Hoje nós precisamos de celulares assim como precisamos de ar, porque em algum momento atribuímos valor a esse bem. Não precisamos dele para vivermos, mas precisamos dele para sermos humanos, modernos, antenados, atualizados e uma outra série de valores que fomos atribuindo como necessários a nós mesmos ao longo dos anos. Mas na mesma medida, precisamos de música para nos elevarmos, de fantasia para nos distrairmos e pensarmos, de religião, do mito e da História para darmos sentido a nossas vidas e podermos olhar para o mundo e não vermos apenas o caos e o nebuloso, mas sim algo que tem uma razão, que tem um nexo.
Por isso me ergo no direito de escrever literatura fantástica, pois esta é apenas uma das muitas manifestações que nos tornam humanos. Uma entre tantas outras coisas inúteis que queremos ou somos forçados a querer para garantir o nosso lugar no mundo. Se me perguntarem se fantasia é útil, eu direi que sim. E se me perguntarem porque, eu direi: “porque ela existe”. Se uma coisa existe, é porque é útil, porque em algum momento alguém olhou para ela, ou simplesmente pensou nela e passou a não conseguir mais viver a própria vida sem aquilo, imaginar a existência sem.
Só uma pena a nossa educação ser tão pragmática. Pois seria muito melhor se as escolas de hoje se preocupassem em formar seres humanos em sua totalidade, capazes de ver e sentir o mundo da forma mais intensa e completa possível. Matematizando-o sim, e também olhando para ele e vendo às suas reações químicas, energias físicas e a vida, mesmo que microscópica, em cada parte dela. Mas também, podendo senti-la, respeitá-la e conseguir sentido para sua própria existência. Uma escola que nos ensinasse que a vida não é só conquistas profissionais, vitórias financeiras ou estabilidade socioeconômica, mas também é ética, é sensibilidade, é empatia.
Pois não adianta sermos apenas homens e mulheres de sucesso em nossas carreiras. Temos de ser seres humanos capazes de ter razão e sensibilidade para as coisas mais naturais da vida. Pois não adianta meu colégio ensinar-me a resolver frações se não me ensina a não espancar uma mulher na rua por pensar que ela é uma prostituta, ou que me ajuda a entender as leis da física quando não me mostra que eu não devo queimar um índio no rua apenas por pensar que ele é um mendigo (esses exemplos lhes trouxeram alguma lembrança?). É essa sensibilidade que a arte nos dá que estamos perdendo, a capacidade de sentir empatia por aqueles que nos rodeiam. É o referencial para o futuro que a religião nos fornece, que estamos deixando de lado por considerá-lo inútil. É o sentido de relatividade e tolerância que a História nos dá , que deixamos de lado. Pois é olhando para o passado e vendo que nós não somos os mesmos de antes, que nossas visões de mundo, nossas ideias de certo e errado, nossa moral foi se modificando, que aprendemos a não acreditar que nossos valores são únicos e imutáveis, que não devemos privar o outro de sua razão de vida, apenas por não se enquadrarem a nossos valores.
Mas enfim, como diria Paulo Freire, esse é sem dúvidas um horizonte utópico, que talvez não chegue nunca. Ou talvez esteja mais próximo do que eu imagine, e meus filhos poderão gozar de um mundo melhor. Mas enquanto nenhuma previsão se confirma, continuo a fazer a minha parte. A fazer aquela coisa inútil de escrever fantasia, pois o mundo não precisa só de dinheiro e de estabilidade. Ele precisa também, de vez em quando, sonhar.

Agradeço especialmente ao Professor Reuber Scoffano, da Faculdade de Educação da UFRJ, pela ótima reflexão que me propõs em uma de suas magníficas aulas.

domingo, 1 de maio de 2011

Estimulando a Inspiração


Se no primeiro trabalho, Roteiros, eu me preocupei com o método, agora pretendo falar um pouco desse motor de partida que é a inspiração. Antes de qualquer coisa, tenho que dizer que não conheço ainda uma maneira de domar a inspiração, como se esta pudesse ser treinada para surgir quando quiséssemos. Eu mesmo não me imagino em uma época em que tenha de começar a fazer livros por encomenda. Não sei se serei capaz, pois a escrita para mim é um exercício de prazer, e que só é capaz de ser realizado quando a inspiração já se firmou em mim, em um momento que pode ser qualquer um, em qualquer lugar, devido a qualquer estímulo.
Entretanto, o fato de não podermos controlar nossa inspiração, não significa que não possamos exercitá-la, estimulá-la e alimentá-la de modo que estes impulsos possam acontecer mais vezes. Esses ímpetos não serão domesticáveis, pois partem de nossa sensibilidade, nosso lado mais caótico e mais irracional, mas já serão incitados a surgirem com mais frequência, e talvez com mais intensidade. Dessa forma, como eles mesmo depois de atiçados, ainda assim surgiram fora de nosso campo de controle, aqui vai a primeira dica: sempre tenha algo passível de anotações, gravações de voz ou qualquer coisa com que possa registrar suas ideias no momento em que elas surgem em sua cabeça.
Devido a sua natureza imprevisível, as boas ideias surgem quando se menos espera por elas, quando estamos distraídos ou contemplativos. Elas vêm com força, mechem com a gente. Somos capazes de visualizar toda uma história, seus personagens e até alguns dilemas que serão travados por eles. Mas essas ideias são como explosões de uma estrela: elas chegam, nos extasiam e logo desaparecem. Por isso, se não tivermos nada em mãos com que possamos registrá-las, com certeza as perderemos para sempre. Podemos até nos lembrar de um detalhe ou outro, mas nunca seremos capazes de rememorar aqueles pontos que foram capazes de mexer conosco. Por isso, futuros escritores, tenham sempre ao lado de vocês algo com que possam capturar suas idéias: um bloco de notas, um gravador de voz, uma caneta que você possa anotar no braço, qualquer coisa, pois vocês precisam estar sempre preparados para capturá-las e guardá-las para dias vindouros.
Vocês podem não acreditar, mas “De Corpo e Alma”, por exemplo, foi construído quase todo a partir de um sonho. Eu sonhei que estava assistindo a história acontecer e acordei no meio da madrugada. Nessa hora, mesmo embriagado de sono, peguei um caderno que deixo sempre ao lado da minha cama e registrei umas poucas palavras, que me serviriam de bases para lembrar o sonho, aí, quando acordei, fiquei intrigado. Perguntei a amigos e conhecidos se já haviam ouvido falar da história – duas almas, que coabitavam o mesmo corpo, despertando uma possível paixão. Todas as respostas me foram negativas. Então, com base em pequenos detalhes que me foram salvos pelas anotações, foi adaptar a história a um mundo já construído – o de “O Véu”. E disso surgiram 310 páginas.
Agora, dado o primeiro conselho, vamos ao estímulo propriamente dito. A arte é a forma de representação da realidade que está mais ligada as emoções, a estética e a maneira como sentimos o mundo. Não existe uma forma de treinar esse nosso lado. Não existe um método que possa ser aplicado. A única maneira que temos de alguma forma melhorar esse nosso lado e exercitando-o. Então, temos de entrar em contato com coisas que estimulem o nosso lado mais criativo. Nesse contexto, não tem mais nada a fazer. É viver a arte. Assistir a um bom filme. Escutar músicas. Ler de tudo. Ir a exposições. Frequentar peças de teatro e por aí vai.
Aumentar a sensibilidade é estar preparado para ter novas experiências, que podem nos ser trazidas por coisas vividas no dia a dia, como também podem nos ser emprestadas pela arte. Uma coisa que percebi é que em meus processos criativos, a ideia nunca vem antes da sensação. Não é uma cena de ação que me faz sentir adrenalina, nem uma ideia de uma cena de romance que faz o meu coração disparar. Geralmente o caminho tomado é o oposto. A sensação vem antes da ideia. É a tristeza que uma música causa que me faz pensar em momentos de drama, assim como é a alegria de um filme que me faz pensar em situações de comédia.
Por estar ligado tão intimamente aos nossos sentimentos que a inspiração é imprevisível. Por isso, não queiramos nós controlar isso. Deixe estar, deixe acontecer, mas esteja preparado para capturá-la sempre que ela surgir.