Usando e abusando de meus conhecimentos rudimentares de psicanálise,
gosto de pensar e repensar como estes simples elementos são tão
observáveis na escrita literária. Em especial o último. Ego, a
maneira como nos conhecemos e nos apresentamos ao mundo, resultado de
nossos desejos mais íntimos dialogados com as pressões do mundo
exterior; Superego, aquilo que está além de nós, a sociedade que
nos constrange e tenta nos moldar a seus desejos; Id, a parte mais
primitiva de nosso ser, nosso subconsciente, aquilo que nem mesmo nós
sabemos como lidar ou sequer entender sua força e sua fome.
Aplicando isto a criação literária, podemos dizer que um livro
nada mais é do que esta simples representação da mente elaborada
por Freud. Afinal todos nós temos desejos de criações, das mais
diversas ordens, de coisas que as vezes sequer damos conta de que
desejamos, ou que são tão destoantes do resto do mundo que
preferimos ignorar para não sermos lesados. Ao mesmo tempo,
possuímos elementos externos a nós que de certa forma ditam os
rumos de seu trabalho: o público, as editoras, a censura, todos eles
com desejos próprios que tendem a moldar seu futuro trabalho, que
necessita, para sobreviver, de agradar a todos esses grupos.
O resultado deste embate, entre desejos do autor e pressões do
mercado, geram o livro, o ego. Aquilo que consegue ser produzido pelo
duro caminho do meio do esforço literário. Por mais que muitos
ainda acreditem no lema da arte pela arte, como se o artista pudesse
estar completamente alheio ao mundo a sua volta, a verdade é que
todos nós somos pessoas que vivem no mundo, e não podemos realizar
algo que não esteja na ordem do mudando. E aqueles que tentam
realizar um trabalho totalmente a parte, além de estarem se
iludindo, também acabam por criar franksteins, tão alheios
ao mundo que a qualidade se perde em meio a esquizofrenia de seus
autores.
Não digo com isso que não exista criação, que não haja nada de
inédito na escrita ficcional. Pelo contrário, há muito de inédito
e de fantástico no ato de criar literatura, todavia não podemos
atribuir esse fruto ao resultado do esforço exclusivo do gênio
artístico, ignorando tudo o que acontece em seu entorno que, de
alguma forma influencia no seu trabalho, constrangendo-o e impactando
até assumir a forma que ele tem agora.
Somos o resultado daquilo que podemos ser contra o que queremos ser,
daquilo que sonhamos para nós contra aquilo que os outros esperam de
nós, dos nossos potenciais contra nossas limitações. Essa é a
nossa condição, nosso eterno combate. E o artista não foge disto.
Ele, assim como todos, luta neste cenário e “eus” e “outros”
procurando estabelecer seu espaço. E muitas vezes a forma de
conseguir este espaço e criando para si o personagem de artista. E
marcar seu território através de seu trabalho.
Gostei do texto ^_^
ResponderExcluirSou escritora independente e, de fato, muita coisa no trabalho que faço vem não só das criações da minha própria mente, mas do que absorvo do mundo. É um trabalho em conjunto: o que está dentro da mente com o de fora ^_^