Sei que posso parecer chato ao levantar tal polêmica, mas realmente
fiquei intrigado com o resultado do discurso do Papa Francisco
acerca, entre outras coisas, da homofobia. Intrigado, pois realmente
me espantou a maneira como tal posição foi aceita quando inúmeros
pastores radicais são execrados quando expõem suas opiniões.
Todavia, tal aceitação parece mais compreensível quando temos na
figura de Chico a imagem de um bom velhinho, caridoso, calmo e
gentil, enquanto outras personalidades religiosas da grande mídia
parecem fazer a questão de apresentar sua faceta mais severa e seu
tom mais punitivo.
Mas vamos realmente prestar atenção no que o papa nos disse?
“Se uma pessoa é gay, procura Deus e tem boa vontade, quem sou eu,
por caridade, para julgá-la?”
Gente, falando sério, só eu percebi que há algo de muito errado
nisso? Vejamos bem, há aceitação neste discurso? Não. Há a
posição de que a homossexualidade é uma característica, e não um
mal que deva ser purgado? Pelo contrário.
Francamente, posso estar sendo paranoico, mas se formos ler nas
entrelinhas, o que vejo no discurso do papa é a seguinte frase:
“Se uma pessoa é gay, procura Deus e tem boa vontade (isto porque
reconheceu seu erro e quer mudar), quem sou eu, por caridade (pois
sou um ser superior que deve levar esta alma para a luz), para
julgá-la?”
Corrijam-me se eu estiver errado, mas não é essa a impressão que
dá?
O fato do Papa Francisco se mostrar aberto a novas discussões, e a
reverter problemas encontrados na administração anterior não muda
o fato de que ele fala de um lugar muito específico: uma instituição
que possui valores sólidos e que não pretende mudar de forma tão
rápida. Não adianta nos iludirmos com relação a isso.
É claro que sendo este anuncio realizado logo após o sucesso da
JMJ, onde o Papa saiu como uma grande figura por conta de seu
carisma, as pessoas tendem a interpretar de forma aprazível tal
posicionamento, mas vamos ser realistas, pouca coisa mudou no
pensamento do alto clero cristão. A homossexualidade é um pecado, e
deve ser convertida ou o inferno espera os pecadores, e pronto.
Agora dizer que isso é um marco... Francamente, discordo. Pra mim
tem o mesmo tom da cura gay, tão criticado por uma série de
pessoas, a única diferença é que foi dita de uma forma amena
enquanto outros preferem tentar ganhar no grito, logo, chocando mais
a população em geral.
Realmente nossa população está precisando ler mais, pois assim
aprendemos a identificar os discursos que estão por detrás dos
discursos, ou, em uma linguagem mais popular, ler o que está nas
entrelinhas da coisa.
Enfim, é isso.
Obrigado.