Nelson Rodrigues uma vez diagnosticou o brasileiro com o que
ele chamou de gravíssimo complexo de Vira-lata, que é perceptível em nossa
mania de subvalorizar todo que é nacional quando comparamos ao que é estrangeiro.
Longe de criticar tal análise, só venho pôr mais lenha na fogueira, pois além
da acima citada, outra enfermidade assola o brasileiro médio: O complexo de
corno manso.
Quando o assunto é corrupção, creio que todo o brasileiro
sabe lá no fundo que é roubado. Quem nunca ouviu a célebre frase “Político é
tudo ladrão”, “nenhum presta”. Sempre tem aquele parente bêbado que em reunião de
família gosta de expor seu senso politizado soltando uma dessas. Isso nos
mostra que de alguma forma, sempre soubemos que éramos roubados, só não tínhamos
noção de quanto.
Assim como o brasileiro com a corrupção, o corno manso sabe
que é corno, todavia não sabe e nem quer saber a dimensão dos próprios chifres.
Porém, tudo muda quando vem aquele amigo, parente ou conhecido que revela
aquilo que ele sempre soube, traz provas e esfrega na sua cara. É nesse momento
que o corno manso se revolta. O único problema é que o alvo de sua revolta
quase nunca é contra o conjugue infiel, mas contra aquele quem fez a acusação.
Ele corta os vínculos de amizade, briga com a família, faz de tudo, menos
terminar o relacionamento.
Percebo semelhanças entre essa reação com a do povo
brasileiro após os escândalos de corrupção da Lava Jato. A Petrobrás vem sendo
roubada há décadas, todavia só agora tivemos um governo interessado em se
aprofundar na questão. E o que o povo brasileiro fez? Pediu a retirada deste
governo. Obviamente que o partido em questão possuía membros dentro deste
esquema de corrupção, porém não era o único. Vários de seus políticos foram
investigados e na medida do possível punidos, mas não só eles. Agora o que
podemos atribuir como original do governo Dilma foi de fato de ser o único que
criou condições para que fossem investigados esses problemas. E foi isso que
causou a revolta da população, e consequentemente a sua queda.
Assim como o corno manso, o brasileiro conhece sua condição
de violado, e ele vive bem com isso, desde que tenha a a sensação de que sua
situação é oculta aos demais membros da sociedade. Pois quando ela é revelada,
vem o constrangimento, vem a humilhação. E isso ele quer evitar. Por isso o
brasileiro pede a volta da ditadura. Não pela honestidade, mas pela censura. O
brasileiro não está cansado da corrupção, ele só não quer mais que fiquem lembrando
a ele a cada dia, hora ou minuto o quanto ele é roubado, enganado, feito de
trouxa.
Não é minha intenção buscar a santidade do governo PT, mas
sim desconstruir a ideia de o governo mais corrupto de todos os tempos. Pois é
equivocada. A sujeira sempre esteve ali, encoberta. Alguém só teve a
curiosidade de olhar debaixo do tapete. E a imagem grotesca ficou cravada na
mente dos brasileiros. Torno a dizer, não foi um governo perfeito, mas sejamos
justos: vocês gostem ou não, foi o governo que abriu as portas de toda essa
investigação e esse mérito é deles. Como diria Matheus “dê a Cezar o que é de
Cezar”, e nada mais.