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domingo, 25 de abril de 2010

Revista Digital "Fantástica"


Saudações amigos e leitores do por Detrás do Véu. É com muito ânimo e alegria que venho a vocês divulgar um novo projeto que promete ser um prato cheio para os aficionados por literatura fantástica e também uma mão na roda para muitos autores nacionais do gênero.
Estou falando da Revista Digital Fantástica, com estréia prevista para o dia 25 de maio, idealizada e trabalhada pelo blogueiro Luiz Ehlers (Blog Perguntas & Respostas) e os autores Dhyan Shanasa (O Livro de Tunes); Felipe Pierantoni (O Diário Rubro); Leandro Schulai (O Vale dos Anjos); Vincent Law (O Mundo de Avalon).
A Fantástica será uma revista com conteúdo voltado exclusivamente para a literatura Fantástica Nacional, incluindo matérias, resenhas, entrevistas e muito mais atrativos sobre o gênero. Um espaço aonde autores e leitores do Gênero poderão se encontrar e discutir, tendo cada um o seu espaço de atuação.
Para aqueles interessados, é só clicar na imagem que, a partir de hoje, ficará exposta na parte superior do Blog. Espero sinceramente que curtam essa iniciativa e que possamos dar a literatura fantástica nacional o carinho que ela merece.
Boas leituras.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

E-books – Amigos ou Inimigos?

Muito comum é a crítica feita ao império da internet, que consegue disponibilizar produtos variados de forma gratuita. O cinema já foi afetado, a música e, também, a literatura. Sites, blogs, programas de compartilhamento. São muitos os meios hoje da mídia digital de conseguir disponibilizar Livros, CDs, DVDs e outras produções culturais para o grande público. Mas vamos nos ater aqui apenas a literatura.
Atualmente, é muito grande o número de livros digitalizados e também é grande o número de editoras que reclamam desse fato, alegando que a internet estaria roubando seus clientes. Mas até que ponto essa informação seria verdadeira, ou, se for, como agir nesses tempos?
Concordo que o download de livros é muito comum hoje em dia. Eu mesmo já li vários em formato digital. Concordo também que ele oferece uma opção mais barata do que os onerosos originais impressos. Mas será verdade mesmo que os e-books são os grandes vilões e que é por culpa deles a pouca venda de livros no Brasil?
Pensemos um pouco. Acho que todos que gostam de ler tanto quanto eu irão concordar que o livro em papel tem seu valor. Pois sempre é melhor termos o livro impresso em nossas estantes, na nossa mesa de cabeceira, de forma que possamos recorrer a eles nos momentos que quisermos e desfrutar de sua agradável leitura em qualquer lugar, seja na cama, no banco da praça, no chão da sala, ou no banheiro. Enfim, as possibilidades são muitas, e que vão além do ficar sentado na frente do PC, numa cadeira muitas vezes desconfortável e recebendo a luminosidade do monitor que pode prejudicar a visão. Estou, por acaso, sendo exagerado? Acho que não.
Sem dúvida livros impressos são muito mais interessantes. E se eu tivesse condições, com certeza teria que me mudar de casa, pois a minha ficaria congestionada de tantos e tantos livros. Mesmo os que eu li no PC, pois gostaria de tê-los comigo para o caso de ter qualquer vontade súbita de relê-los, eles estarem acessíveis a mim. Mas então, qual seria o problema? Acho que eu já dei a dica, não é mesmo?
Posso parecer apologético em minha frase, porém não é essa a intenção. Mas uma coisa nós temos que concordar: o acesso à cultura melhorou muito por causa da pirataria. Livros, Filmes, Documentários... Tudo está mais fácil e acessível com a internet.
Agora pensem comigo: mas se os livros em papel são muito mais interessantes do que os e-books, os digitais seriam um empecilho a venda de impressos? Eu acho que não. Pelo menos não totalmente. Isso por que, para quem gosta mesmo de ler, o livro digital não é interessante se o outro estiver disponível. Mas os livros estão caros, limitados a uma parcela da população. Muitos não foram traduzidos para o nosso idioma. Assim, caso os queiramos, além de termos de nos virar na língua estrangeira, teremos de pagar preços exorbitantes devido à importação de um exemplar de outro país. Agora a lógica: Se você é uma pessoa que vive de um salário moderado, que tem família e não possui condições de comprar livros, por acaso será a falta de um e-book que vai incentivá-lo a comprar um numa livraria? É claro que não. Se você não tem condições de comprá-lo, não vai comprá-lo independente de ter ou não uma versão pirata. A única diferença será que você não vai lê-lo e pronto.
Agora, se você possui recursos para comprar, será que vai mesmo preferir ler em frente ao computador sujeito a todos os desconfortos que eu já citei, ou vai preferir uma versão mais cômoda? A resposta não é muito difícil.
O que limita o lucro das editoras é o pouco incentivo a leitura, os altos preços dos livros, e não a atuação dos e-books, pois estes, ao contrário, por mais que muitos não queiram ver, estão a incentivá-la. Isso mesmo. Os e-books incentivam a leitura. Pois eles a popularizam.
Aqui, por exemplo, vão alguns motivos do por que eu acho que os e-books ajudam a incentivar a leitura:
1. Tradução de títulos não disponíveis aqui no Brasil: Há muitos livros de autores estrangeiros que ainda não chamaram a atenção de nenhuma editora nacional e por isso não estão disponíveis em Português. É o caso, para citar exemplo meu, do Livro “Fallen” de Lauren Kate e da saga Romances de Clã, que começou a ser traduzido pela editora Devir, mas eles interromperam o processo. Eu não sei inglês e se não fosse pela atuação de tradutores on-line, jamais os poderia ler.
2. Incentivo a tradução: Partindo da observação anterior, a tradução de livros digitais também ajuda a divulgar os livros de um autor em diferentes países e também o trabalho voluntário de leitores que, conhecendo outra língua e querendo praticá-la, ou então, futuros tradutores de livros. È uma forma desses grupos de futuros tradutores, exercerem seu trabalho e ganhar experiência.
3. Divulgação de um trabalho. Por mais que um autor não ganhe lucros monetários com a venda de e-books – lucros esses que ele não ganharia de nenhuma forma, visto que, como eu já disse, quem não tem dinheiro para comprar um livro impresso não vai comprar de modo algum – o autor pode ganhar prestígio e renome o que o ajuda na divulgação de seu trabalho, seja ele aquele que foi digitalizado, seja um próximo. Paulo Coelho mesmo é um exemplo. Pois o autor criou um site – Pirate Coelho – e nele disponibilizou todos os seus livros para livre download, pedindo unicamente para que seus leitores comprem o original impresso se gostarem, ou, se não puderem, apenas passá-lo adiante, como um trabalho social. E o que o autor nos conta é que as vendas de seus livros só aumentaram depois dessa tomada de decisão.
E para encerrar a minha forma de pensar, eu gostaria de chamar a atenção para um exemplo que comprova o que eu estou dizendo. Vamos pensar nas duas maiores sagas dos últimos tempos: “Harry Potter” e “Crepúsculo”. Ambas são sagas mundialmente conhecidas e que geraram para suas autoras grandes quantias de dinheiro. Agora falemos sinceramente: existem livros que foram mais pirateados do que esses dois? E por acaso vemos Stephanie Meyer ou J. K. Rowling chorando miséria de alguma forma? E por acaso a Rocco ou a Intrínseca deixaram de ganhar dinheiro com isso? Lógico que não, mas o que aconteceu foi exatamente o oposto e, seguindo a linha de divulgação, mais e mais pessoas leram essas duas sagas e com isso, mais e mais pessoas comentaram sobre elas e propaganda é a alma do negócio.
O sétimo livro mesmo da Saga Harry Potter chegou ao Brasil semanas antes de estrear nas livrarias e muitas pessoas leram a versão digital, pois não agüentava de ansiedade. E muitas dessas mesmas pessoas que leram, compraram a versão impressa e quando não, puderam dizer, sem sombra de dúvidas: “Ele é foda!” Pronto. Isso já ajudou bastante na divulgação.
Resumindo minha forma de pensar. Acredito que não adianta lutar contra a internet, pois ela veio para ficar. Eu mesmo hoje, se tivesse me batido um arrependimento de ter disponibilizado “O Véu” para download, nada mais poderia fazer, pois seria impossível, na altura do campeonato, retirá-lo, visto os inúmeros blogs e sites que o estão divulgado e também disponibilizando para download... Ah, e só para constar, muito obrigado aos que estão divulgando e disponibilizando meu livro. Continuem divulgando e lendo, pois esse é o mais importante. Rsrs : ).
Enfim, os e-books podem ser amigos ou inimigos. Basta você saber como usá-los

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Análise Fílmica: Saber e Poder - O exorcismo de Emily Rose.*


Sempre fui defensor da idéia de que, muito além de um mero trabalho imaginativo com fim a desligar quem prestigia da realidade, a Fantasia tem como foco o mundo real aonde ela é criada. A fantasia é um mundo criado por homens que vivem na realidade e por isso, também trás questões que servem a essa mesma realidade.
Acredito que um dos principais trunfos de um trabalho fantástico é o de poder trazer temáticas contemporâneas sem fazer uma menção direta, podendo assim, criticar, levantar questões ou formas de pensar sem que se torne algo muito agressivo a quem escuta ou demasiadamente desconfortável por apresentar problemas nossos. Eu fiz uma análise parecida com o Filme Avatar (O eu e o outro – uma análise de Avatar) e agora faço o mesmo com essa magnífica produção baseada em acontecimentos reais.
O exorcismo de Emily Rose narra a história de julgamento do Padre Richard Moore, acusado de homicídio negligente após submeter a jovem Emily Rose à um ritual de exorcismo quando, de acordo com a acusação, ela claramente carecia de um tratamento psiquiátrico a fim de se curar de seus males mentais. Porém, ao que eu chamo a atenção é que muito além de cenas de debate teológico, uma coisa interessante a ser observada nesse filme é a relação que se dá entre Saber e Poder. Até que ponto essas duas instâncias se relacionam e influenciam uma na outra.
Essa análise que agora faço foi na verdade um trabalho realizado por mim e mais um grupo de amigos para uma disciplina na minha faculdade intitulada “Poder e Religião no Mundo Antigo”, ministrada pelos professore se doutores Marta Mega de Andrade e André Leonardo Chevitarese. E no trabalho, tentamos discutir como o filme mostra essa relação entre Saber e Poder através do discurso dos tribunais.
Baseados no Filósofo Michel Foulcalt, defendemos a tese de que um Saber, ou seja, um conhecimento, quando empregado numa sociedade é capaz de criar um discurso de poder, gerando hierarquia em diferentes ordens e submetendo os leigos ao poder dos especialistas.
Mas como isso se demonstra no filme? Simplesmente por que no “Exorcismo de Emily Rose”, temos a disputa de dois discursos de Saber tentando provar se o padre Richard Moore era ou não culpado. De um lado — o da acusação — temos o promotor Richard Thomas, que defende a tese de que Emily Rose jamais esteve possuída como argumentava o réu ou os familiares da vítima e sim que ela era epilética e que necessitava de um tratamento psiquiátrico.
Já a defesa, representada pela advogada Erin Brume, procura defender a tese de que o acusado tentava ajudar a vítima da melhor forma que conhecia, através de sua própria forma de conhecimento – o religioso.
Mas saindo do básico, uma passagem do filme realmente boa e que eu acho que daria uma boa discussão, é essa aqui, aonde a advogada interroga uma testemunha — um médico psiquiátrico — que garante que Emily Rose sofria de desordem de epilepsia psicótica. Um conceito que, só para constar, foi ele próprio quem criou. Mas o que interessa é a passagem que vai se seguir. Quando Erin questiona o médico, qual seria então o melhor tratamento para Emily já que o exorcismo não seria o recomendado e o Dr., Briggs responde que no lugar do médico que cuidou dela, ele usaria de eletroterapia e lhe a obrigaria a tomar os remédios.
Erin Bruner – Teria feito contra a sua vontade?
Dr. Briggs – Para salvar sua vida? Sim..
(O exorcismo de Emily Rose - 41 minutos, aproximadamente)

E para mim, essa é a passagem de ouro do filme, pois demonstra, clara e objetivamente, em como um saber, uma forma de conhecimento, acaba ajudando na hierarquização da sociedade. E como aquele que detém o saber, é capaz de exercer o poder. O fato de Emily Rose ser diagnosticada como louca tira dela todo e qualquer direito de escolher por si mesma seu destino. E mesmo que ela não divida do conhecimento do Dr. Griggs e seja realmente crente de que o melhor para ela fosse participar do ritual de exorcismo — lembrando que ela foi exorcizada por livre e espontânea vontade —, mesmo assim, o médico teria poder de dizer a ela o que fazer.
Interessante pensar nisso ainda mais usando de outros exemplos. Vamos viajar no tempo e vivenciar o processo de Inquisição Européia e a Queima de Bruxas. Sabemos que os inquisidores tacavam as mulheres acusadas de feitiçaria nas chamas da fogueira, porém, quantos de nós sabemos exatamente qual era a lógica desse ato? A resposta: Purificação.
Isso mesmo. Tacava-se as feiticeiras no fogo, não para punir, mas pela lógica de salvar. O fogo queimaria a carne e limparia a alma dos pecados. Dessa forma a pecadora teria uma mínima chance de ir para o céu. E não importava se a “salvada” fosse ou não partidária da mesma crença, pois o padre sabia o que era melhor para ela, pois ele tinha um conhecimento que ela não: o saber religioso, o estudo da bíblia, enquanto, geralmente, a feiticeira era uma simples camponesa pagã. E por isso, ignorante. E como ela não tinha as condições de chegar ao paraíso por si só, era obrigação do inquisidor salvá-la, mesmo que isso fosse contra a sua vontade.
Se forem reparar bem, a lógica é bem parecida. Em ambos os casos, é um conhecimento que dá a determinada pessoa, o poder sobre a outra. E Michel Foucalt — mais especificamente nos trabalhos “A História da Loucura”, “Microfísica do Poder” e o “Nascimento da Clínica” — foi um homem que pensou muito nisso e nos mostrou que, por essa lógica, podemos ver relações de poder em basicamente todas as esferas sociais, aonde, aquele que detém mais saber, manda, Seja numa escola, num hospício, numa igreja ou até mesmo nas nossas casas.
Sei que muitos que viram — ou virão — o “Exorcismo de Emily Rose” são tentados ver o exorcismo de Emily Rose, ou seja, o ritual com todos os efeitos especiais e adrenalina que uma boa produção hollywoodiana exige. Mas acho interessante também — e é essa a proposta que eu faço — olhar o cinema fantástico por outra ótica e ver que ele tem muito mais a oferecer do que somente entretenimento.
 Concluindo minha forma de pensar, quero dizer que em nenhum momento estou tomando partidos, sobre o que teria sido melhor para a protagonista ou se, na Idade Média, as pessoas tinham boas intenções na hora de queimar as feiticeiras ou se ao menos criam verdadeira mente nisso. O que eu quis mostrar foi de como o discurso recheado de um Saber, de uma teoria que justifica um determinado ato, tem Poder. Isso, seja nos tempos remotos, ou nos dias atuais.**

*Esse foi um trabalho realizado por:
Willian da Silva Nascimento
Viviane Nascimento
Priscila Céspede Cupello
Patrícia Fernandes Castro
Lucas Zelesco
Caio Felipe Rosa
**Para os interessados no trabalho completo, e só acessar o link.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Vendendo idéias — A literatura comercial e sua importância na sociedade.

É muito comum o desprezo pelos amantes da boa leitura aos livros tidos como comerciais. Seja pela muitas vezes abordarem temas de pouca relevância ou já muito batidos, ou mesmo por possuírem uma linguagem de médio ou baixo escalão que torna a leitura um tanto quanto vulgarizada, a verdade é que esse tipo de leitura, apesar de popular, é muito pouco valorizado por aqueles que se dizem amantes das letras. Porém, muito além de serem meros parasitas em meio à literatura dita erudita, acredito que os autores comerciais tenham sim um papel importante a desempenhar na sociedade: o de estímulo à leitura.
Em uma discussão que tive recentemente — dia 27 de março de 2010 — com minha turma de Sociologia da Educação, ministrada na Faculdade de Educação da UFRJ pelo Professor Jorge Ricardo, uma questão interessante foi lançada: Por acaso o ensino de literatura nas escolas brasileiras, estaria incentivando ou inibindo o gosto pela leitura?
Agora pensemos nas seguintes circunstâncias: uma criança, na faixa etária de dez a doze anos, sendo forçada a ler livros complexos como “O Guarani” de José de Alencar ou “O Cortiço” de Aluízio de Azevedo. Livros esses com um vocabulário complexo, de época, apresentando uma realidade que é muito pouco identificada pela criança. Agora some isso à obrigatoriedade da leitura e a cobrança de uma prova que decidira o destino do aluno através da nota. Pensemos bem. Que experiência literária essa criança terá? A que ela vai associar a leitura depois disso?
A verdade é que o Brasil não é um país de leitores. Muitas crianças não têm o exemplo em casa de leitura, pois os pais muito pouco ou nada lêem. Então, para muitos o hábito de ler começa na escola. Então não seria mais interessante para essa criança que está agora se iniciando nesse mundo, um livro de linguagem mais simples e temática mais condizente com sua mentalidade?
O que seria mais interessante para ela: um “Harry Potter” ou umas “Memórias Póstuma de Brás Cubas”. Não estou aqui discutindo qualidade literária, mas sim, ao público à quais determinadas leituras devem ser voltadas. Pois um livro denso como é o de Machado de Assis, terá muito mais chances de traumatizar uma criança, fazendo-a associar à leitura a algo ruim, pesaroso, cansativo, angustiante, do que a uma forma de prazer. E acredito que jogar as crianças contra os livros não seja a função da escola. Ou estou enganado?
Nesse sentido, eu apoio sim a leitura de “Crepúsculo” nas escolas, de “Harry Potter e a Pedra filosofal” para as crianças, ou até de “Veronika decide Morrer” para os adultos que ainda não tiveram a chance se iniciarem no mundo das letras. Todos nós temos que começar de algum lugar. Eu por exemplo, devo muito a Maurício de Souza por meu interesse pela leitura. Pois foi sua “Turma da Mônica” que me iniciou nos caminhos que me levaram a hoje gostar de Saramago, Nietzsche ou Eurípides.
Mas também vale adicionar que não é só para iniciar que essa literatura serve. Eu não recomendo que ela seja lida apenas antes da pessoa tomar um gosto pela leitura, mas também durante e depois disso. Isso por que é sempre bom se entregar a uma leitura mais simples, relaxante e de fácil diluição de vez em quando. Afinal, a literatura comercial não só atrai as pessoas, mas também as mantêm interessadas. Eu mesmo ainda gosto de revezar minhas horas de leitura entre livros complexos como “Assim falava Zaratrusta” de Nietzsche e outros de mais fácil diluição como “O último Olimpiano” e Rick Riordan. E se um exemplar de “Turma da Mônica” cair em minhas mãos... Nem se fale. Devoro-o rapidamente.
Enfim, para concluir melhor esse pensamento, vale lembrar que nem sempre literatura comercial é sinônimo de literatura ruim. O próprio “Veronika Decide Morrer” de Paulo Coelho é um exemplo. Pois, em minha opinião, este é um livro muito bom e que discute temáticas muito interessantes como a loucura e o suicídio. Ou também temos o mundo bem construído de J. K. Rowling que não pode ser chamado de ruim. Pois a saga construída por ela é, no mínimo, genial.
Mas é claro que também temos os ruins... Mas desses é melhor nem se falar.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

A questão do Discurso – Entre o fato e a ficção


Em meu artigo anterior — “Senso comum – A fantasia nas coisas comuns” — eu tentei demonstrar uma nova forma de pensar e também provar, na medida do possível, que a realidade é algo muito mais aceito para a maioria das pessoas do que propriamente algo comprovado. Fiz questão de acentuar que o ser humano não faz questão de provas para todas as questões da vida e que em muitas vezes ele está disposto a simplesmente acreditar de forma que possa dar segurança ao mundo em que vive. O ser humano sempre é capaz de acreditar em algo minimamente possível, se isso lhe gerar conforto, mas nenhum de nós está pronto para gerenciar o Caos. A incerteza, o “Não sei”.
Mas confesso também que essa minha abordagem gerou um problema a ser levantado. Problema esse que foi muito bem levantado pelo meu amigo Luiz (Ver nos comentários do artigo). Pois, se então, tudo não passa de crença, de fé, então não existem fatos? Tudo é uma questão de discurso? De convencimento.
 Meu interesse por esse tema é grande. Isso por que, muito além de ser um mero devaneio meu, esse é um fenômeno muito forte no mundo Contemporâneo: A descrença no paradigma científico. Um campo onde podemos notar essa tendência muito bem é no da Literatura. Tanto pelo Boom de trabalhos de ficção fantástica que vem acontecendo ultimamente — aonde eu me encaixo — como até mesmo em obras clássicas como “Fausto” de Goethe ou “Frankenstein” de Mary Shelley. E tal fenômeno se dá, principalmente, por que as promessas da ciência, trazidas com os auges do iluminismo não se cumpriram.
Primeiro, as Duas Grandes Guerras colocaram abaixo o ideal de que a humanidade é uma evolução continua. Isso por que, como uma sociedade desenvolvida pode gerar guerras? E até mesmo a proposta de um futuro pleno e de felicidade geral também não existe ainda e os jornais e televisão não nos deixam enganar. Isso por que, por mais que a tecnologia ajude na produção de alimentos, o mundo passa fome. E por maiores que sejam as aberturas comerciais do mundo — fenômeno gerado pela globalização — o mundo ainda se encontra dividido. Seja por cor, religião ou opções sexuais.
Esse sentimento de descrença acabou gerando em muitos pensadores uma necessidade de se criticar esse discurso positivista da ciência, começar a contestar sua total veracidade. E a História — área do saber que eu amo e também estudo com afinco — não saiu limpa desse problema. E alguns autores começaram a se questionar? Seria possível se ter um acesso direto ao passado? Não seria a História uma questão apenas de discurso? Ou ainda. Qual seria a diferença do discurso Histórico e do ficcional?
Hayden White em seu trabalho – “Meta-História” — defendeu que a História funciona como uma forma de poesia. Pois sua metodologia tem sempre um “Quê” de criação literária. De criação ficcional. Isso por que, enquanto não tivermos acesso a uma máquina do tempo, não se teria como nenhum de nós sabermos como as coisas realmente aconteceram. Pois a única coisa que temos acesso é às Sobras do passado. Ou seja, aquilo que os antigos deixaram e aquilo que sobreviveu até então. Muito se perdeu, muito não chegou a nós. Então, o trabalho do historiador não poderia ser completo a partir do momento que suas fontes estão fragmentadas. E é daí que para se construir e completar as lacunas da História se é necessária a intervenção da ficção. Da criação, ara assim poder contar o que supostamente aconteceu.
Não acredito que a idéia de Hayden White foi a de dizer que toda a história é um mero discurso e que não existe verdade histórica, mas com certeza essa sua tese foi utilizada para gerar um novo problema. Novo e maior.
Quantos aqui já ouviram falar da corrente filosófica Revisionista? Bem, para aqueles que não, vou falar um pouco dela. A corrente Revisionista leva ao extremo a idéia de Hayden White e alegam que tudo na História não passa de criação e que, uma verdade Histórica só é conseguida através do discurso. Logo, aquele discurso que melhor puder convencer, é o verdadeiro. E isso gera um problema grave. Pois pensemos, por exemplo, na brincadeira que eu fiz com relação ao caso do movimento de Translação dos Planetas. Não sei se consegui, mas o que eu tentei fazer no artigo anterior foi criar um discurso convincente de que talvez a coisa não aconteça assim. Se fui bem sucedido, vocês quem me dirão. Rsrs
Mas qual o problema disso? O problema é que a partir do momento em que acreditamos nisso, então, basicamente podemos acreditar em qualquer coisa que alguém, com uma boa retórica, disser que é. Então, torno a perguntar. Qual a diferença entre o discurso histórico e o discurso Ficcional? Não. Melhor ainda. Qual a diferença do discurso científico e do fantasioso?
Para responder essa pergunta, chamo um historiador que muito trabalha no assunto. Carlo Ginzburg. Em seu trabalho, “Olhos de Madeira”, o historiador se mostra desconfortável com essa nova visão revisionista que se faz. Isso por que, Ginzburg alega que há sim diferença entre o discurso científico e o discurso ficcional. E essa diferença são as fontes. Ele não nega que parte da criação histórica seja feita em cima de pressupostos, hipóteses e também imaginações, que muito tem haver com a Literatura. Mas ele diz também que, se formos analisar mais a fundo, encontraremos a pista que deu início a isso tudo. Logo, ao contrário da criação ficcional que não precisa necessariamente partir de um fato ou uma prova, o discurso científico precisa e parte.
Então, quando falamos, por exemplo, de uma Pompéia — cidade que desapareceu após a erupção do monte Vesúvio, que diferenças temos dessa cidade para, por exemplo, o castelo de Hogwarts descrito por J. K. Rowling em “Harry Potter”? A diferença está na arqueologia. Pompéia foi encontrada arqueologicamente. A erupção vulcânica congelou a cidade no tempo, deixando para nós hoje fragmentos daquilo que um dia ela foi.  Ao contrário de Hogwarts em que só temos o que a autora diz. Aí está a diferença.
A terra gira em torno do sol? Sim. Eu posso não ter as provas, mas houve cálculos, houve observações astronômicas para se chegar a essa conclusão. Mas é claro que, muito além de dados, também houve um pingo de fantasia, pois Galileu, ao formular essa teoria, teve de que partir do nada, da criação e a partir daí, necessitou de um pouco de fantasia para poder crer. Fantasia e realidade não são tão opostas quanto parece, mas são diferentes sim. Isso não se pode esquecer. Existem fatos. Existem elementos empíricos que nos ajudam a entender que algo físico é diferente de algo abstrato, e isso não pode ser esquecido.
Então alguns de vocês devem me perguntar: “Mas então para que diabos o Willian entrou nesse assunto no artigo anterior? Só para nos confundir?” E a resposta será. “Sim”. :  ).
No Véu eu brinco com essa realidade, mas isso, não por que eu quero causar em vocês um total estranhamento e fazê-los desconfiar de tudo o que dizem. Meu objetivo no livro e no artigo era outro. Pois como uma obra de arte, meu livro atende a outra necessidade: a de criar Verossimilhança. A uma tentativa de criar um mundo fantástico tão parecido com o real que possa causar em quem lê a sensação de possibilidade. E para que essa possibilidade ajude o leitor a entrar na história, exigindo dele o menor grau de abstração possível. Esse é o objetivo da arte, esse é o objetivo da fantasia.
E no artigo, meu objetivo foi o de propor uma nova forma de pensar. Uma forma mais relativista e mostrar para aqueles que desprezam a ficção ou a fé no sobrenatural de que, as nossas crenças e as deles não são tão diferentes assim e que existe muito de fantasia no nosso dia a dia. Ela está lá. Seja para criar um mundo ao qual possamos nos adaptar. Seja para espaçar dele de vez em quando.