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quarta-feira, 7 de abril de 2010

Vendendo idéias — A literatura comercial e sua importância na sociedade.

É muito comum o desprezo pelos amantes da boa leitura aos livros tidos como comerciais. Seja pela muitas vezes abordarem temas de pouca relevância ou já muito batidos, ou mesmo por possuírem uma linguagem de médio ou baixo escalão que torna a leitura um tanto quanto vulgarizada, a verdade é que esse tipo de leitura, apesar de popular, é muito pouco valorizado por aqueles que se dizem amantes das letras. Porém, muito além de serem meros parasitas em meio à literatura dita erudita, acredito que os autores comerciais tenham sim um papel importante a desempenhar na sociedade: o de estímulo à leitura.
Em uma discussão que tive recentemente — dia 27 de março de 2010 — com minha turma de Sociologia da Educação, ministrada na Faculdade de Educação da UFRJ pelo Professor Jorge Ricardo, uma questão interessante foi lançada: Por acaso o ensino de literatura nas escolas brasileiras, estaria incentivando ou inibindo o gosto pela leitura?
Agora pensemos nas seguintes circunstâncias: uma criança, na faixa etária de dez a doze anos, sendo forçada a ler livros complexos como “O Guarani” de José de Alencar ou “O Cortiço” de Aluízio de Azevedo. Livros esses com um vocabulário complexo, de época, apresentando uma realidade que é muito pouco identificada pela criança. Agora some isso à obrigatoriedade da leitura e a cobrança de uma prova que decidira o destino do aluno através da nota. Pensemos bem. Que experiência literária essa criança terá? A que ela vai associar a leitura depois disso?
A verdade é que o Brasil não é um país de leitores. Muitas crianças não têm o exemplo em casa de leitura, pois os pais muito pouco ou nada lêem. Então, para muitos o hábito de ler começa na escola. Então não seria mais interessante para essa criança que está agora se iniciando nesse mundo, um livro de linguagem mais simples e temática mais condizente com sua mentalidade?
O que seria mais interessante para ela: um “Harry Potter” ou umas “Memórias Póstuma de Brás Cubas”. Não estou aqui discutindo qualidade literária, mas sim, ao público à quais determinadas leituras devem ser voltadas. Pois um livro denso como é o de Machado de Assis, terá muito mais chances de traumatizar uma criança, fazendo-a associar à leitura a algo ruim, pesaroso, cansativo, angustiante, do que a uma forma de prazer. E acredito que jogar as crianças contra os livros não seja a função da escola. Ou estou enganado?
Nesse sentido, eu apoio sim a leitura de “Crepúsculo” nas escolas, de “Harry Potter e a Pedra filosofal” para as crianças, ou até de “Veronika decide Morrer” para os adultos que ainda não tiveram a chance se iniciarem no mundo das letras. Todos nós temos que começar de algum lugar. Eu por exemplo, devo muito a Maurício de Souza por meu interesse pela leitura. Pois foi sua “Turma da Mônica” que me iniciou nos caminhos que me levaram a hoje gostar de Saramago, Nietzsche ou Eurípides.
Mas também vale adicionar que não é só para iniciar que essa literatura serve. Eu não recomendo que ela seja lida apenas antes da pessoa tomar um gosto pela leitura, mas também durante e depois disso. Isso por que é sempre bom se entregar a uma leitura mais simples, relaxante e de fácil diluição de vez em quando. Afinal, a literatura comercial não só atrai as pessoas, mas também as mantêm interessadas. Eu mesmo ainda gosto de revezar minhas horas de leitura entre livros complexos como “Assim falava Zaratrusta” de Nietzsche e outros de mais fácil diluição como “O último Olimpiano” e Rick Riordan. E se um exemplar de “Turma da Mônica” cair em minhas mãos... Nem se fale. Devoro-o rapidamente.
Enfim, para concluir melhor esse pensamento, vale lembrar que nem sempre literatura comercial é sinônimo de literatura ruim. O próprio “Veronika Decide Morrer” de Paulo Coelho é um exemplo. Pois, em minha opinião, este é um livro muito bom e que discute temáticas muito interessantes como a loucura e o suicídio. Ou também temos o mundo bem construído de J. K. Rowling que não pode ser chamado de ruim. Pois a saga construída por ela é, no mínimo, genial.
Mas é claro que também temos os ruins... Mas desses é melhor nem se falar.

14 comentários:

  1. Aprovadíssimo! Concordo com você. Mesmo gostando de ler (e gosto e leio muito hein?!) na 7ª série fui meio que obrigada a ler O Médico e o Monstro, e achei simplesmente muito díficil de ler, embora seja um clássico. Acredito que o incentivo da leitura só acontece quando se é apresentado para a criança, jovem ou quem for, livros que despertem o interesse dele. E aprovo a leitura de Harry Potter nas escolas já que foi J.K. que me impulsionou nesse mundo maravilhoso que é a leitura. Formando um leitor hoje, amanhã ou depois ele vai correr atrás dos clássicos, se for do seu interesse. Claro que as escolas podem passar clássicos para serem lidos, mas intercalando-os com os de linguagem mais atual, assim conseguindo incentivar a leitura - o real objetivo - ao invés de transformar esse hábito em uma coisa desagradável! Muito bom o tema, adorei o post!

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  2. Obrigado Carol. :)
    Também acho que os clássicos não devem deixar de ser incentivados nas escolhas, mas que essa leitura tem de ser melhor direcionada, isso sim.
    Valeu pelo comentário, Beijão

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  3. Oi
    Tem um Selinho para vc no meu Blog! Obrigada pela atenção!

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  4. Obrigado Alice. Vou dar uma conferida. Abraços

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  5. Concordo plenamente. E quanto às obras da literatura brasileira, aconselharia começar por livros atuais, com temáticas interessantes para o jovem, passando depois para os clássicos. Isso ajudaria a divulgar os novos autores nacionais e facilitaria a fruição literária. Não há porque se seguir uma ordem rigidamente cronológica no ensino da literatura, podendo haver junto com a leitura de obras atuais uma boa introdução histórica e dos movimentos literários antes de começar a leitura do clássicos. É preciso que o aluno entenda bem o contexto.

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  6. Verdade. Seria interessante se as escolas investissem em autores brasileiros, pois já que as editoras não o fazem, elas, que devem ter compromisso com a produção intelectual nacional, deveriam.
    Abração

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  7. A questão do tipo leitura adotada pelas escolas é realmente algo muito relevante para formações de futuros leitores no país, e fico estupefato como ninguém agora ousou mudar esta metodologia. Não cansamos de ver jovens reclamando que precisam ler livros enjoativos e complicados de entender? Sem contar que já são temas passados. Tudo bem, ler um desses livros "enjoativos" uma vez por ano não faz mal, pois alguns deles eu até achei legal a leitura. Meu preferido foi Dom Casmurro, onde consegui entender como um livro se torna imortal xD.
    Mas eu acho isso muito injusto. Eu estudei no CEFET e lá o povo até gosta de ler, e não tivemos tantos problemas assim com leitura, pelo menos na minha turma. (apesar de que em todos os trabalhos eu era o unico que lia os malditos livros no grupo, e o desenvolvimento sobrava pra mim. Quando o livro era muito chato, desistia e pedia pro grupo todo catar resenhas na internet. É que alguns livros que nem lembro mais o nome foram dificeis de engolir que nem xarope ruim). Agradeço os poucos livros desde o Ensino fundamental que eram policiais e de suspense. Agradeço também, assim como você, pelo Maurício de Souza ter criado uma história tão divertida de se ler. Bons tempos em que eu devorava os gibis da Turma da Mônica. hehe

    Soube que algumas escolas estão usando livros de fantasia como paradidáticos. É o caso do livro "Rede de Sonhos" de Felipe Pan e um outro aí que não lembro qual. Eu li o primeiro e acho perfeito tanto para o Fundamental quanto para o Médio.

    Olha, dá vontade de montar uma campanha na internet para modificar os livros que são usados na escola que deveriam "estimular jovens leitores" e não traumatizá-los. Kra, se pensar bem essa é quase a raiz do problema. Tá, a raiz nem tanto, mas se isso mudasse, as coisas melhorariam mais de 50% em numeros de leitores.
    O problema é que Harry Potter acabou. Precisamos de um novo, e de preferência, de origem brasileira.

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  8. rsrs. É verdade. Legal essa coisa de usar o Felipe Pan para ensino fundamental e médio. Com certreza fantasia e romances são as melhores pedidas para alunos nessa faixa. Espero que consigamos um dia mudar essa realidade nos ensinos de literatura e que os nossos produtos sejam valorizados nessa empreitada. :)

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  9. Assinado em baixo!! As escolhas para os livros que serão praticamente a apresentação do mundo literário aos jovens merece uma sacudida. Deveríamos todos sair clamando uma reforma literária escolar, já! E claro, não podemos esquecer de exigir a inclusão dos teus e meus livros, rsrs. Você escreve sobre acontecimentos sobrenaturais e eu sobre romance natural, rs, que combinação daremos, heim? Já pensou?

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  10. Amém. rs :)
    Afinal, quando eu digo incentivar a produção nacional, também me refiro a mim mesmo. rsrrs :)
    Beijão Meirelles

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  11. Muito bom o post!
    Concordo que outros tipos de livro sejam agregados ao currículo escolar além dos clássicos. Mas acho que seria interessante uma ligação entre os escolhidos. Por exemplo, na época que li "Dom Casmurro" de Machado de Assis (que adoro), o outro livro a ler era "A audácia dessa mulher" de Ana Maria Machado. Foi uma intereção bastante interessante!!
    Gostei muito do post! Parabéns!

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  12. Obrigado Jovem. Sua idéia é também interessante, usar autores que, de alguma forma, dialogam em temáticas.
    Ainda tenhop que ler "Dom Casmurro". Está na minha lista de clássicos para ler. rs :)
    Abração

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  13. Este comentário foi removido pelo autor.

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  14. Wnascimento que alento encontrar-te...
    Bem, AMEI teu texto sobre literatura comercial.
    Sou professora de Língua Portuguesa nas séries finais do Ensino Fundamental, faço um pós em Esducação e Contemporaneidade, quero escrever meu artigo final sobre esta Literatura "COMERCIAL" (Crepúsculo, Harry Potter,Sagas Mitológicas, Thalita Rebouças, etc.),literatura esta que faz tanto sucesso com os adolescentes. Há um momento na minha disciplina em que peço aos alunos que escolham suas próprias leituras e façam trabalhos criativos, o que me chama muito a atenção é o fato de ninguém escolher obras da Literatura Clássica. Penso que o professor não pode ter preconceito com estes textos, ao contrário, deve trazê-los para dentro da sala de aula, pois são uma porta de entraca na leitura dos Clássicos.
    Tomo a liberdade em pdir tua ajuda, preciso de referencial teórico para a construção de meu "Artigo Científico". Tu conheces algum autor, professor, teórico, sei lá, que esteja discutindo este tema?

    Agradeço pela atenção e parabéns por este teu espaço tão belo.


    Denise.

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