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sexta-feira, 20 de agosto de 2010

(Pré) Conceitos


Queima de Livros de Berlim - 1933
Achei interessante dar continuidade a uma problemática lançada pelo artigo “Capas para que as quero”, mesmo que está não tenha aparecido de forma explicita. Tal questão é a dos pré-conceitos. Ou seja, aqueles valores que damos a algo antes de termos tempo de conhecê-lo bem. Antes de iniciar, acho interessante chamar atenção para o fato que nem sempre um preconceito é necessariamente pejorativo. Às vezes, é imensamente enaltecedor de uma obra literária.
Pré-conceituamos tanto como forma de elogiar, como forma de ofender. Podemos dizer que um livro é ruim antes de lermos, mas também somos capazes de dizer que é bom. E essas atitudes têm várias causas: A capa é atraente, ou não; a sinopse me chama a atenção, ou não; já li determinados trabalhos desse autor e gostei, ou não; ou então, um amigo leu e gostou, ou não. Nesse sentido, sempre que vamos atrás de um livro, (pré) conceituá-lo será o primeiro passo. Inevitavelmente.
Como objetivo desse artigo, não estou querendo defender a bandeira a favor ou contra o preconceito, mas quero chamar a atenção para o fato de que ele é uma manifestação do humano e, por isso, natural de cada um de nós. Engana-se aquele que pensa que é livre de preconceitos, pois não é. Sempre fazemos um à primeira vista ou à um primeiro ouvir falar sobre. Quando vemos a capa de um livro, quando escutamos alguém falar dele, desde já estamos fazendo um juízo de valores dele, tentando entender se eles valerão ou não a pena para nós.
Como eu já disse, isso não é bom ou ruim, mas natural e, em muitos aspectos, necessário. Pois cada um de nós precisa filtrar aquilo que temos à nossa disposição, de forma a poder organizar nossas prioridades. Então, se eu detesto auto-ajuda (e de fato, não sou muito fã) então é claro que tenderei a pensar que os livros de auto-ajuda são ruins. Pelo menos, ruins para mim. Logo, quando estiver em uma livraria, não será muito difícil decidir entre levar uma auto-ajuda ou o último lançamento da J. K. Rowling. ^^
Isso porque temos um gosto, um gosto esse que é regido por um (Pré) Conceito. Temos todo o direito de tê-los, não há problema algum nele, porém, esse ato, tão natural, também esconde seus perigos.
Quero dizer com isso que o maior risco de se manter um preconceito, é o de ele acabar se tornando um conceito, para o preconceituoso. Ou seja, quando tomamos esse preconceito de alguma coisa e julgamos essa como se a conhecêssemos bem. Quando, sem ler determinado autor, dizemos já de antemão que ele é bom ou ruim, e nos propomos a ler tudo dele, ou não, sem antes passarmos pelo um juízo crítico.
E pior, quando passamos a declarar aos quatro ventos que um autor é muito ruim, ou muito bom, sem nem ao menos termos determinados conhecimentos sobre seu trabalho. E isso é perigoso de duas formas: A primeira é óbvia, pois pregando antecipadamente que um trabalho é muito ruim, você poderá estar privando algum leitor em potencial a apreciar o trabalho e até mesmo gostar dele.
O segundo parece estranho, mas elogiar demais um trabalho literário, sem ler, também tem seus perigos, pois cria no leitor uma expectativa que pode gerar uma terrível decepção. Então imaginemos alguém dizendo sem ler: “nossa, esse autor é o melhor do mundo”, “o melhor que eu já li” ou “a melhor história de todos os tempos”. Pense numa pessoa influenciada por uma idéia assim e que acaba comprando o livro e, ao ler, vê que a coisa não é bem essa. As vezes o trabalho nem é tão ruim assim, mas a pessoa que decidiu ler acabou criando tal expectativa quanto a ele que a decepção acaba sendo inevitável. Afinal, não podemos nos decepcionar com aquilo de que não esperamos nada, não é mesmo?
Nesse sentido, gostaria de chamar duas atenções que são, na verdade, o objetivo desse artigo. A primeira é lembrar que (pré) conceitos existem, queiram ou não e são naturais, inevitáveis e, em alguns casos, necessários. Logo, se você é um autor que não liga para uma boa capa, ou para uma boa sinopse. Não tem interesse em fazer uma boa divulgação, ser educado com seus leitores, tudo isso acreditando que sua obra é ótima e que por isso não necessita dessas futilidades... Bem, acho bom começar a mudar seus conceitos. Pois todo esse processo é importante.
A produção de uma capa, a construção de um resumo atraente e, principalmente, uma atenção adequada ao leitor (na medida do possível, é claro. Pois também não podemos esperar que alguém que vendeu 1.000.000 de cópias seja capaz de dar total atenção a seus inúmeros leitores, não é? RS) são essenciais. É necessário que você crie uma boa primeira imagem, crie um preconceito positivo para sua obra. Um que chame a atenção.
Em segundo lugar, gostaria de chamar a atenção de todos, autores, leitores ou seres-humanos em geral. Gostaria de propor algo que pode parecer simples, mas não é. De que pensem em seus preconceitos. Pensem em até que ponto suas concepções são baseadas em dados e numa análise coerente e em até que ponto não eles passam de um preconceito bobo. Não só com relação à literatura, mas quanto à vida como um todo.
Preconceitos são necessários, pois infelizmente a vida é muito curta para fazermos um juízo de valores de tudo o que nos cerca. Seria legal se pudéssemos, mas não dá. Porém, cuidado quando um preconceito começa a virar uma verdade inquestionável e natural para você. Quando ele fechar a sua mente a possibilidade de revê-lo. E, principalmente, quando quiser que ele seja uma regra não só para você, mas para aqueles que estão a sua volta.
Quando for falar de um livro que não leu, tome cuidado com o que diz. Deixe claro se você tem total clareza do que está falando ou não. Se quiser fazer uma divulgação positiva, diga que o livro promete, ou que muito lhe interessou, ou que tem grandes expectativas com relação ele. Assim como se ele não te interessar, diga que não leva fé, ou que o estilo não lhe agrada, ou que não lhe despertou a atenção. Mas deixe sempre bem claro o quão apto você está para falar dele. Tanto para bem, quanto para mal, pois isso é essencial.

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