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sábado, 16 de abril de 2011

Escrita e Ética



A liberdade de expressão, um dos máximos direitos conquistados com a democracia, é algo comumente utilizado para se fazer críticas às falhas do sistema, ou para expressar determinada opinião com relação a coisas do cotidiano. Contudo, o que às vezes observamos é que o uso da liberdade de expressão também dá margem para o abuso. Nessas condições, quais seriam os limites para a liberdade de expressão, por exemplo, na escrita?
Muito se fala da fantasia como o palco aonde se pode dizer tudo, criar tudo, inventar tudo. Onde o autor tem total liberdade de usar sua imaginação e pintar com as cores mais diversas suas realidades alternativas. Contudo, a imaginação fantástica pode ser inofensiva, mas e quando determinados trabalhos de ficção, ou até mesmo não ficção, esbarram em dilemas éticos? E quando estes expressam opiniões que atingem o direito de determinados grupos de existirem? Falo de coisas que muito estão em voga em nossos dias, como a questão racial, homossexual ou religiosa.
Quantas pessoas ao longo de sua carreira utilizam da liberdade de expressão para divulgar comentários de caráter racista, homo fóbico ou de intolerância? Quais seriam os limites da liberdade para esses casos? Haveria limites?
Essa questão se apresenta de modo muito complexo e também polêmico, de forma ser impossível oferecer uma resposta definitiva nessas poucas linhas as quais lhes destino. Porém, acredito que muito mais importante do que encontrar a resposta universal, seja poder pensar nos limites éticos da liberdade de escrita, pois, ao contrário de coisas ditas, que somem no ar e com o tempo podem ser esquecidas, coisas escritas são mais difíceis de se apagar. Elas ficam registradas, marcadas de forma muito mais permanente do que outras. Quando se escreve algo, além de aumentar o seu campo de propagação, permitindo o maior número de acessos a seu discurso, há ainda a possibilidade de se comprovar que você proferiu tal pensamento, que defendeu tal posição, pois estas palavras ficam registradas pela escrita.
Todo o letrado tem determinadas obrigações que vão além daquelas para consigo mesmo, para com sua qualidade ou seus interesses. Quando se escreve para si mesmo, de fato, o único realmente interessado é o próprio autor. Ele é o único que pode impor limites para o que expressa a partir do momento em que escreve para si mesmo. Entretanto, quando se escreve para uma sociedade inteira, para um grupo humano, esses limites começam a se impor. Não porque isto seja uma forma de censura ou de opressão, mas porque quando se toca em questões de caráter ético, você não está apenas usando de sua liberdade, está também abusando dela para impedir a liberdade do outro de existir, de ser diferente.

Somos senhores de nossos pensamentos e escravos de nossas palavras. Acredito sim que temos o direito de não gostar das coisas, de não aderi-las para a nossa vida e até mesmo de evitar entrar em contato com elas, contudo, impedir o direito de um ser humano de existir tal como ele é, já chega a um ponto em que a liberdade encontra seu próprio limite, que é a liberdade do próximo.
A intolerância sabe usar da liberdade de expressão para atingir seus objetivos. Ela sabe que as pessoas tolerantes não vão se colocar contra ela, pois têm medo de ferir seu direito de expressar. Então, eu pergunto: devemos tolerar a intolerância?
A escrita tem que conhecer seus limites, assim como qualquer outro meio de veiculação de idéias, pois este limite não é dado pela censura, nem pela opressão, e sim por um consentimento ético que é necessário para que possamos viver em grupo de forma saudável. Não é gostar, apoiar ou justificar, mas apenas entender que determinadas formas de existir são tão válidas quanto as nossas, desde que estas também não visem destruir a nossa forma de experimentar a vida.
Sei que fui um tanto impreciso neste meu ensaio, mas meu objetivo foi realmente este: o de ser o mais amplo possível para que possamos pensar a ética e liberdade nos mais variados campos da existência. Acontecimentos recentes me fizeram pensar dessa forma e acredito que a todos nós de uma forma mais geral.

3 comentários:

  1. te aplaudo de pé. Eu sabia que gostava de vc porque é alguém especial, só não sabia pq exatamente. vou colocar seu link no facebook.

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  2. Olá, William.
    Gostei muito do trabalho em seu blog, pois aborda temas variados em seus posts.Parabéns pela iniciativa, à blogosfera precisa de trabalhos assim. Já estou seguindo seu blog, se desejar conhecer meu trabalho de estudos historicos o endereço é http://www.construindohistoriahoje.blogspot.com.Gostaria de pedir para apoiar nosso trabalho contra o racismo, realizado pela CENACORA (Comissão Ecumênica de Combate ao Racismo)
    Um abraço,
    Leandro

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  3. Sim, concordo. A escrita - como qualquer forma de expressão e comunicação - deve saber seus limites e explanações. Vemos constantemente ocorrer nos períodicos abusos medíocres, em que a preocupação com a apresentação de determinada ideia é dominada pela visão do narrador em primeira pessoa, anulando o diálogo e impossibilitando que as palavras tomem seu destino:a reflexão.


    A escrita, seja ela ficção ou não, deve ter como preocupação o respeito ao próximo, não agredindo grupos, indivíduos, que comumente são afetados por apresentarem um comportamento ou ideia consideradas errôneas. Nesse sentido, a escrita, como todas as demais áreas sociais, está também em estágio de amadurecimento, visto que é resultado de uma ação do homem.

    Muito pertinente o seu texto.

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