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domingo, 10 de julho de 2011

Leitura e Reflexão: Veronika decide morrer, de Paulo Coelho

Os livros de Paulo coelho, sempre que lidos, me fornecem coisas para pensar. Não somente com temas ligados a espiritualidade, campo primário de interesse do autor, mas também com relação a sua própria recepção no cenário atual. Não é novidade para ninguém, que Paulo Coelho é um dos autores mais lidos no mundo, talvez um dos poucos que conseguiu colocar a nossa literatura no mapa da produção livresca mundial. Na França, inclusive, existem até mesmo grupos de estudo nas universidades voltados à análise de suas obras. Contudo, apesar de toda essa projeção, no Brasil, insisti-se em se praticar o ostracismo com relação a este letrado.


O livro escolhido, “Verônika decide morrer”, é apenas um dos que poderiam ser citados para fins desta avaliação, contudo, tome-o como escolha por se tratar de minha obra favorita do “mago”. Veronika é uma garota normal do final do séc. XX. Com independência financeira, vida estável e beleza admirável, ela tem todos os elementos necessários para ser chamada de uma mulher feliz. Apesar de solteira, não está sozinha, possuindo amigos e até mesmo amantes quando a vontade chama. Contudo, ela decide morrer.

É nesta escolha que o desenrolar da trama se desenvolve, partindo de sua tentativa frustrada de suicídio com a overdose de remédios para dormir, que não foi capaz de levá-la a morte, mas apenas de danificar seu organismo deixando-a com cinco dias de vida, chegando até sua internação em um centro para loucos, onde o contato com aquela forma de existência paralela lhe faz questionar o mundo em que sempre viveu e as escolhas que sempre tomou.

Mais importante do que a dicotomia entre vontade de morrer contra desejo de viver, acredito que loucura e razão sejam os elementos chave do romance. É através da experiência da personagem principal em Villete, nome do hospício em que se encontra internada, que algumas questões do nosso admirável mundo moderno são postas em xeque, questionando isso que chamados de normalidade, racionalidade em contraste ao mundo da loucura e das emoções.

A pergunta elementar: “quem são os loucos?” A resposta: “não se pode dizer”. Michel Foucalt trouxe também esse tipo de problemática ao apresentar ao mundo sua “História da loucura no ocidente”, onde o tema da loucura e a construção dos hospícios foram utilizados como forma de engrenar todo um jogo de poderes que tentam se estabelecer em nossa sociedade. A razão, nesse sentido, tanto quanto a loucura, foram construções que se fizeram na tentativa de se tentar estabelecer o que é normal do que não é anormal, de separar a ordem do caos, o apolíneo do dionisíaco.

Quantas coisas daquilo que dizemos normal, são na verdade convenções. Atributos de um comum acordo que não necessariamente partem de uma essência humana ou divina, mas sim dos interesses de uma maioria interessada em estabelecer a sua ordem. Quando pensamos desta maneira, podemos então relativizar aquilo que temos naturalizado em nossas cabeças, que condena práticas inofensivas que fogem a nossa maneira de entender o que é certo e errado.

Com esta deixa, entro agora no segundo ponto de minha “Leitura e Reflexão” de hoje. Pois observando meus artigos anteriores, em que trabalhei um romance contemporâneo alemão “O Leitor”, e um clássico da literatura estrangeira, “O Médico e o monstro” de Stevenson, além do excelente personagem do cartunista Ziraldo, “Jeremias o bom”, podemos ver que assim como estes, “Veronika decide morrer” de Paulo Coelho é capaz de gerar um rico material para se pensar, tal como qualquer livro estrangeiro.

Mas ainda assim, se formos perguntar para as pessoas nas ruas o que elas acham de Paulo Coelho, estas ainda vão dizer que se trata de uma literatura popular, de baixa qualidade. Aqueles que acompanham meu blog sabem o que eu penso desse casamento ilusório que insiste em se estabelecer na mente das pessoas, que vincula literatura popular, ou comercial, a livros de baixa qualidade. Uma coisa não implica necessariamente na outra. Aqueles que gostam de criticar o trabalho do mago, costumam apontar seu caráter espiritualista e seu teor de auto-ajuda. Todavia, sempre que me falam disso eu não consigo deixar de pensar no sucesso que livros como “A Cabana”, de William P. Young e até mesmo “O símbolo perdido” de Dan Brown (que por incrível que pareça também traz muitos teores dessas naturezas), fizeram no Brasil.

Acho que não mistério algum que eu curto sim este autor. Gosto de muitos trabalhos dele assim como também desgosto de outros. Mas não exatamente por isto que gosto de bater nesta tecla a respeito da aceitação de sua obra, mas sim porque realmente me incomoda esse destrato para com a nossa produção literária. Esse nosso “complexo de vira lata” que despreza tudo aquilo que é brasileiro em favor do internacional. É claro que sei que posso estar sendo injusto, pois tenho na minha cabeça muito claramente, que se Paulo Coelho fosse, ao invés de escritor, um jogador de futebol, a coisa seria bem diferente.

8 comentários:

  1. Parabéns pela resenha William! Muito em breve pretendo ler Veronika Decide Morrer. Abraços!

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  2. Olá! Parabéns pela sua reflexão... Concordo muito quando diz sobre a alienação da maior parte dos brasileiros com relação a esse grande escritor. Não tive muito contato com as obras dele, mas vejo como aqui no Brasil falta o interesse pelo produto interno... Quando muitas vezes damos maior valor ao que vem de fora. Eu ainda não li os títulos citados acima, mas pretendo ler algum dia... E espero poder refletir sobre algo mais que as linhas escritas.
    Abraços e sucesso!
    Lilo
    Redenção

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  3. Obrigado meninas.
    Este é meu livro favorito do autor, mas também recomendo "Onze minutos" e "Brida".
    Ótimos.
    Beijos

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  4. Ainda não li esse livro, mas quero ler em beve, sempre me dizem que é muito bom, ja li tres obras de Paulo Coelho e quero ler mais algumas XD

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  5. oi will! vc já participou alguma vez de uma blogagem coletiva? eu resolvi fazer uma sobre educação e vim te chamar. eu sei que seu blog é de um assunto especifico, mas tipo será que não dava para conciliar as duas coisas? literatura e seu papel na educação por exemplo? bom a blogagem vai ser sábado, se quiser participar dá uma passadinha no diarios de bordo beijos!

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  6. Pode ler Quezia. É ótimo.
    E Aleska, vai depender de que horas será essa blogagem, pois estou fora o dia todo, só voltando a partir das 19:00. Vamos tentar combinar.
    Abração

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  7. Ótimo post!

    Concordo que o Paulo Coelho é visto com muito preconceito no Brasil, e lá fora ele é muito prestigiado, se você procurar na internet verá pessoas que perdem o seu tempo lendo as obras do Paulo somente para encontrar meios de criticá-lo, ao inves de tentar escrever algo melhor, no seu conceito de melhor.

    Ótimo blog, ótima discussão!
    Parabéns!

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  8. Eu estou tão doida para ler esse livro. Não li nada do Paulo Coelho ainda, mas já assisti ao filme, que posso dizer com toda certeza que é maravilhoso e se tornou um dos meus filmes favoritos!
    Tenho certeza de que não vou me arrepender de ler o livro e ele vai me levar à reflexões.
    Encontrei esse aqui: http://portugues.free-ebooks.net/ebook/Veronika-Decide-Morrer

    mas alguém sabe onde posso conseguir mais livros dele para baixar? Brigada!

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