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terça-feira, 3 de julho de 2012

Resenha: Rato, Luís Capucho.


Apresentando-nos uma realidade bem próxima daquela própria do naturalismo brasileiro, o “Rato” de Luís Capucho pode vir a ser indigesto para estômagos fracos. Com um ambiente degenerado, sujo, personagens sem grades valores morais, o projeto do livro procura colocar-nos diante de nossa própria animalidade, do lado mais visceral do ser humano.
Confesso que não sou muito fã deste tipo de perspectiva, que considera o homem fruto do meio e não leva em conta valores individuais. Todavia, devo dizer que a proposta foi bem atendida. A personagem principal é um carioca, morador do Centro do Rio de Janeiro, habitando um cortiço que divide com sua mãe e muitos homens, que pagam o aluguel. Nosso protagonista, com uma sexualidade enrustida, percorre os ambientes mais vazios, obscuros e abandonados para poder dar vazão aos impulsos do seu corpo. Sem se importar com o parceiro ou as condições higiênicas do local, ele se entrega ao prazer carnal com homens dos mais diversos tipos. Sempre casual, até a chegada de Plínio, um novo morador da cabeça de porco.
A relação que se desenvolve entre os dois não pode ser chamada de um romance, não ao menos se tomarmos como padrão os que já estamos acostumados. É uma relação terna, sem pieguices, sem grandes momentos de clímax, mas estável e fiel. Nesse momento o autor nos convida a pensar, mesmo que de forma indireta, na própria natureza dos relacionamentos. Alguns, sem grandes perspectivas, sem momentos de romantismo, mas sem dúvidas sinceros a sua maneira.
Outra temática que se desenvolve no texto de Capucho é a sexual. Nela, o autor explora parte dos desejos humanos, suas taras mais inconfessáveis, ocultas, enrustidas e a capacidade de nos metermos nos ambientes mais insalubres para saciarmo-nos, quando as condições tidas naturais não nos são apresentadas para por em prática nossos desejos. Foi uma boa tentativa a de por para pensar acerca desse ponto do desejo sexual, mas admito que achei que ele poderia trabalhar melhor este momento.
Não gosto de fazer comparação entre livros quando resenho, mas não pude deixar de aproximá-lo da “Casa dos Budas Ditosos”, de João Ubaldo Ribeiro. Pois os dois tocam neste mundo instável, que pode repelir as mentes mais conservadoras. T|odos tentam andar por esse terreno acidentado que diz respeito a todos, mesmo que de forma inconfessável. Entretanto, acredito que Capucho não foi tão bem sucedido nesta tarefa. Pois se nossa incursão pelo mundo dos “Budas Ditosos”, apesar de chocar, ainda nos permite momentos de prazer intelectual dignos de nota, “Rato” não nos oferece o mesmo.
Pois nosso protagonista, apesar de entrar menos de cabeça no mundo da sua sexualidade que nossa promiscua Valentina, ainda assim a forma como suas aventuras nos é narrada não nos permite desfrutar de maneira plena de sua experiência. Fica mais difícil não julgar o rato, não achá-lo de certa forma desprezível, sujo. E os momentos em que ele tenta justificar seus impulsos ainda não são tão bem elaborados quanto os de Valentina. Deixando ao leitor pouca margem para se envolver com o personagem, reconhecendo-o como um indivíduo válido e aceitável.
Enfim, digo que saí da leitura de rato reconhecendo o valor de sua proposta, mas ainda assim desgostoso quanto a maneira como ela é aplicada. Provavelmente o autor pouco vai se importar com isto, pois acredito que este foi seu real objetivo: deixar aquele nó no estômago quando chega-se as páginas finais. Porém, ainda sim tenho que mostrar meu descontentamento quanto ao método empregado.

2 comentários:

  1. obrigado pela resenha Wnascimento. Me importo sim sobre os efeitos de minha narrativa. São eles que formam o livro.
    obrigado!

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    Respostas
    1. Não há de que.
      É uma honra ser presitigiado com sua presença aqui no meu blog.
      Agradeço a atenção e desejo uma ótima semana.
      Abraços

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