Pegando carona na onda apocalíptica gerada pela profecia Maia, a editora
Subtítulo lançou mão desta publicação que reúne mais de trinta contos de
autores dos quatro cantos do Brasil. Organizado por Alessandro Finardi, Eder
Rosa e Márcio Saconato, “O livro do fim do mundo” se propõe a explorar as
sensações humanas levadas ao limite ao ter como norte das propostas dos
contistas a seguinte indagação: “o que você faria se o mundo fosse acabar em
uma hora?”.
A qualidade dos trabalhos é variada, atraindo e repudiando diferentes
gostos e estilos de leitores. No geral, as histórias exploram o medo, a
violência e as redenções esperadas com a iminência do fim. E como não tenho condições
de falar de cada um dos trabalhos que estão aqui presentes, escolho os meus
três favoritos para dedicar linhas especiais.
O primeiro, “...and I feel fine”
de Leandro Samora, mereceu um artigo próprio, publicado anteriormente aqui no
Por detrás do Véu. Tal empatia que me gerou o trabalho se baseia no fato de
este, com um tom irônico e divertido, tocar fundo em questões interessantes a
respeito da vida e do tão sonhado “fazer valer a pena”. Um conto que de forma ácida,
nos faz repensar máximas já batidas, presentes nos mais pueris livros de
autoajuda.
“Carta à senhorita Wargrave” foi uma iniciativa ousada de Cássio Maia.
Ousada, pois distorceu aquilo que se comumente esperava da proposta inicial da
antologia. Nele, não temos um apocalipse geral, mas um fim do mundo muito
particular. Algo que tinha tudo para dar errado, mas que graças à originalidade
e ao talento estético do autor acabou por se converter em uma obra prima e que
merece o devido destaque.
E por último, mas não menos importante, “Das consequências para quem
noticia o fim do mundo”, de Raul Gimenez. Este conto se destaca por trazer uma
crítica sutil e inteligente dos valores que permeiam nossa sociedade. Do
desapego e ceticismo que podem acometer nossos corações modernos mesmo na iminência
do fim.
O gênero conto é o ideal para pessoas que, como a maioria de nosso
presente volátil, percebem que o relógio corre cada vez mais rápido; que cada
vez dispomos de menos tempo para fazer as coisas simples da vida. Nesse
sentido, “O livro do fim do mundo”, além de se encaixar perfeitamente nessa
realidade, fornecendo leituras agradáveis para pessoas que só possuem tempo
para ler nos intervalos da vida, também oferece um esforço crítico acerca das
condições que criaram essa sociedade que taxa preços cada vez mais altos para
seu tempo e ainda assim continua sem saber lhe dar o devido valor.
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