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segunda-feira, 25 de maio de 2015

Uma questão de interpretação.

Um dos pontos mais interessantes na literatura - creio na verdade que seja de toda a forma de arte - é a capacidade que ela tem de gerar uma pluralidade de interpretações acerca de um mesmo fato. Basicamente, cada leitor tem seu papel ativo na hora de se aventurar pelas páginas de um livro. Ativo, porque ele não apenas recebe as informações passadas pelo autor, como se o processo de leitura fosse uma via de mão única, mas sim as pondera e recria de acordo com suas experiências e expectativas. Nesse sentido, não é de todo o incomum que aconteçam sérios debates acerca de interpretações envolvendo grandes sucessos, de crítica ou de público.
O universo das Fanfics vem inclusive apresentar um novo tipo de leitor: o leitor co-autor. Nesses trabalhos, em sua maioria feitos de forma amadora, percebemos como muitos personagens são vistos por aqueles que lêem sobre eles. Como suas características são realçadas ou suprimidas, como alguns de seus vícios e virtudes enfatizados em detrimento  de outros. Tudo para refletir a imagem que esses co-autores adquiriram de seus heróis ou vilões favoritos.  Desta maneira, acreditar que um autor tem total controle de sua história nada mais é do que um ledo engano. Pois a partir do momento em que se depara com o público, todo e qualquer controle que ele poderia ter sobre o caráter de seus personagens ou sobre o enredo de sua trama se perde.
Sendo assim, creio que quando lidamos com questões de adaptação, estamos meramente dentro do território da interpretação. Um filme inspirado em um livro, uma séria baseada em histórias em quadrinhos, todas são maneiras de interpretar e resignificar uma obra. Desta maneira, exigir que um trabalho inspirado em outro, seja uma reprodução fidedigna do original, nada mais é do que castrar a originalidade que este tipo de trabalho também possui. Pois também há criação em adaptar, há mudanças. Como em uma fanfic, em que formamos situações novas para personagens antigos, em um filme, o roteirista também vai gerar situações que ele acredite que determinado herói poderia ter vivido, e que talvez o autor não o tenha explorado.
Basicamente, podemos dizer que a única diferença entre as fanfics e os trabalhos adaptados é que esses últimos contam com maiores recursos e por isso são divulgados em mídia maior, se tornando mais conhecidos. E sendo mais conhecidos, são mais fáceis de serem criticados também.
Falei um pouco sobre isso em um artigo mais antigo (Livro vs Filme), que o motivo de muitas vezes gostarmos mais do livro do que do filme é por que no livro temos a liberdade para criarmos o mundo apresentado pelo autor a nossa maneira. Já quando vemos o filme, essa criação já foi concebida por um roteirista que, assim como nós, antes foi um leitor e criou e significou o mundo literário a sua maneira. Nesse sentido, perdemos o poder de criação que temos quando a história está apenas na relação entre nossa imaginação e as páginas.

Então galera, vamos parar de querer que as adaptações sejam iguais aos livros. Elas não devem ser. Assim como não gostamos quando alguém quer nos forçar a entender uma obra a maneira dos outros, também não é legal querer limitar o processo criativo dos outros. Quando o assunto é interpretar, cada um vai ter a sua maneira. E eu defendo que ninguém – nem mesmo o autor ou autora originais do trabalho – possui o direito de se meter nisso. P. S, Até por que, se eles quisessem que suas obras não tivessem interpretações que detergissem de suas expectativas, era simples: bastava não publicá-las.

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