Esse tema foi explorado há dois meses pela revista fantástica, em que alguns escritores discutiram a diferença entre o plágio e a inspiração na escrita literária. Dalí, muitas interpretações surgiram, mas eu acho que não custa nada fornecer mais uma. Pois quando um estilo se consolida, quando uma obra inspira tanto uma geração que consegue arrastar consigo inúmeros seguidores que escrevem no mesmo estilo, acredito que o que se cria é algo mais forte do que a mera inspiração ou o mero plágio: o que se forma são verdadeiros Paradigmas.
Paradigma aqui, falo de modelos de pensar, que se baseia em premissas e em objetivos claramente estabelecidos, e que são compartilhados por muitos membros de uma comunidade. E no caso da literatura, eles também estão presentes, principalmente quando se estudam os movimentos literários. Um exemplo bem legal de se observar é o caso do livro “Madame Bovary” de Gustave Flaubert, considerado por muitos como o percussor do movimento realista. O que chamo a atenção para esse livro é a influência que ele exerceu em outros trabalhos da época e, em especial, o romance “Primo Basílio” de Eça de Queirós. Pois para quem teve a liberdade de ler ambos os trabalhos, vai perceber que eles carregam consigo muitas semelhanças. Não só no tema, mas também no estilo e até mesmo em algumas cenas ou acontecimentos que compõem a trama. Detalhes esses que prefiro não explicitar para não estragar a surpresa de futuros leitores.
Então, para usar de um exemplo mais próximo a nós e, por isso, mais conhecido, podemos falar da nova onda vampiresca que se apossou dos escritos. O peso de “Crepúsculo” foi tão poderoso que hoje podemos observar inúmeros trabalhos que basicamente estão seguindo o mesmo paradigma. Falo sim em paradigma, pois o que acontece é mais do que simplesmente meros autores copiando crepúsculo – pois muitos deles, na verdade, não copiaram. Como é o caso de L. J. Smith, que escreveu diários do vampiro anos antes de Meyer, mas só teve reconhecimentos depois -; e também é mais do que uma mera inspiração, como se a saga tivesse o poder de inspirar os novos autores, já que muitos dos que a seguem alegam detestar o trabalho de Stephanie Meyer. O que ocorrem são verdadeiros modelos que, quando seguidos, garantem reconhecimentos ao trabalho, e quando não, são descartados.
E isso é um fenômeno que atinge tanto escritores quanto leitores. Os primeiros, que se vêem quase que levados a produzir algo semelhante ao que está em voga a fim de conseguirem reconhecimento, e os segundos, que ao procurarem um novo livro para desfrutar, tem seu olhar filtrado por um estilo de narrativa. Hoje, o vampiro clássico, cruel, sanguinário, não tem mais espaço no imaginário coletivo como tinha nas épocas de Lord Byron, Bram Stoker ou Anne Rice, para fazer uma ordem cronológica, mas sim uma versão mais “teen”, sofredora, e apaixonante. Ele não é mais o Anti Herói, como o Lestat de Rice, que o publico amava odiar, mas sim um verdadeiro cavaleiro romântico, como são Edward Cullen e Stephan Salvatore. E, de certa forma, até o Damon Salvatore, que apesar de atrair um forte publico feminino com suas maldades, não consegue fugir de um ar um tanto galante.
Enfim, esses paradigmas estão presentes, e de certa forma tão naturalizados em nossas mentalidades que não fugimos deles. Seja na hora de fazer referência – o que mostra o porque de eu ter desenvolvido um exemplo citando crepúsculo, pois, esse seria mais fácil, visto que a obra está no senso comum -, seja na hora do publico fazer uma associação entre livros. Nesse ultimo caso, falo da atual tendência de se vincular todas as obras que narrem o amor entre um ser sobrenatural e um humano no mesmo bojo. Como se todas seguissem a tendência de Crepúsculo. O que acontece com os atuais trabalhos, aonde, dentre esses, O Véu se encaixa (T-T srrsrs)
Para fins de conclusão, não estou aqui atribuindo valores a esse fenômeno, visto que é natural não apenas hoje, mas em grande parte da história da literatura, mas sim mostrar que, muito além de plágio ou inspiração, o que ocorre muitas vezes, e faz as pessoas associarem um trabalho ao outro, é que ambas as produções estão sob o mesmo paradigma. Um paradigma tão forte que adestra o olhar das pessoas a verem em toda a pequena associação, uma forte referência a uma tendência, estilo ou obra em particular. Hoje, estamos sob o paradigma da literatura vampiresca, mas qual será o paradigma de amanhã? Só o tempo dirá.