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domingo, 11 de julho de 2010

O peso de fazer crítica no Brasil

Fazer crítica é uma arte, um trabalho que exige do profissional não só conhecimento sobre aquilo de que está falando, como o bom senso de saber o seu papel e, principalmente, seus limites. Eu percebo aqui no Brasil, e não sei se essa opinião é compartilhada, certos equívocos com relação à crítica. Equívocos esses que acabam por permitir excessos. E fazendo uma análise dos tipos de trabalhos críticos, acho que posso dividi-los em dois pólos bem delimitados: A crítica ‘laudatória’ e a crítica ‘cética’.
Quando digo crítica laudatória, falo daquela que aparentemente não consegue ver erros nos trabalhos analisados. É aquela crítica digna de Fausto Silva que diz que todos os convidados que vão ao seu programa são (se não o melhor) um dos melhores na sua área de atuação. Nada contra elogiar um trabalho bem feito, pois isso é o mínimo que se pode fazer para com um grande artista, porém, não devemos pensar que um ato crítico é apenas o de elogiar alguém.
A cultura brasileira parece ainda presa a uma idéia de cordialidade, como apontou Sérgio Buarque de Holanda em seu livro ‘Raízes do Brasil’. O brasileiro, segundo ele, seria um homem cordial por natureza, sempre educado, hospitaleiro e que, por conta disso, não parece muito disposto a chamar a atenção do outro por algum erro ou equivoco, para não parecer mal educado ou grosseiro. Sou obrigado a concordar com esse historiador, pois isso aparece bastante na crítica laudatória, uma crítica que parece ter timidez em apontar os defeitos de um trabalho.
Já a crítica cética é o extremo oposto. Ela é aquela que pode encontrar a sua figura caricata em personalidades como Ronaldo Esper. Que são homens que não parecem ver qualidades em nada, humilhando aqueles quem analisam de forma a muitas vezes perder a noção do seu papel ao falar sobre moda ou música. Noto muitas vezes em homens como esses, certo recalque. Ouvindo-os falar, percebo em seus discursos o que poderia ser chamado de um discurso do fracasso. Digno daquele profissional que nunca conseguiu reconhecimento pelo que fez e acaba por descontar naquele que quer crescer.
Um bom lugar para ver isso são algumas críticas de teatro, aonde se fecharmos os olhos, conseguiremos ver nitidamente um jovem que fez aulas de teatro com um Tony Ramos ou uma Fernanda Montenegro e viu seu sonho morrer enquanto os amigos deslanchavam na carreira. E francamente, falar mal por falar, expor um profissional ao ridículo, por pior que ele seja, não é fazer crítica e sim dar “pitaco”. E um “pitaco” muito recalcado e muito invejoso.
Então, se crítica não é elogiar e não é criticar, o que é crítica? Crítica é acima de tudo uma análise, um diagnóstico de alguma obra intelectual e artística. O ato de crítica necessita do bom senso de quem julga, de avaliar e de fundamentar suas opiniões. Gostar porque gostou e odiar porque odiou, não é crítica, é dar uma opinião, pura e simplesmente. Uma crítica tem que ser justificável, pois quando não, cria sérios problemas para o trabalho daquele que é avaliado.
Para aquele que é elogiado em demasia, acarreta pouca compreensão sobre os limites de seu trabalho. Nenhuma produção é perfeita e alertar quanto a isso não é ser grosseiro, mas sim permitir que aquela pessoa cresça e futuramente venha a corrigir os problemas. Aquele que escuta demasiadamente a mãe dizer que seu trabalho é perfeito e não tem acesso a outros pontos de vista, pode acabar estando despreparado para momentos posteriores que em que vai encontrar pessoas mais imparciais. Ou então pode correr o risco de expor seu trabalho a um público maior que vai massacrá-lo. Mimar um artista é o mesmo que mimar uma criança, pois desprepara para o mundo
Em contrapartida, o oposto também não ajuda. Pois se não existe nenhuma obra perfeita, também não existe nenhuma obra imperfeita por completo. Todo trabalho tem pontos positivos e exaltá-los é importante, pois a crítica tem como finalidade proporcionar o crescimento, coisa que não é possível se o juiz está preocupado em se fazer de engraçado para um público ou só descontar suas frustrações em quem não pode se defender. Analisar é fazer um juízo e não ser um algoz.
Finalizando minhas considerações, o que eu acho da crítica. Elogiar e apontar defeitos são elementos de qualquer crítica. Uma não existe sem a outra e mesmo que seu olhar não esteja apurado o suficiente para conseguir detectar todos os pontos de um trabalho – coisa que acontece, já que nem sempre conseguimos ver os lados bons ou ruins de alguma coisa -, você como crítico, tem como função primordial fundamentar suas acusações. É bom? Por quê? Quais os pontos positivos? É ruim? Por quê? Quais os defeitos que você identificou e o que poderia ser feito para solucioná-los? Acho que essas são as perguntas básicas que qualquer um que se lance para analisar um trabalho tem que se fazer antes de expor uma opinião que visa ser crítica. Agora, para as observações do dia a dia, para os “pitacos” entre amigos, não temos esses problemas, pois também não vamos nos policiar para cada palavra que venhamos a soltar. Porém, quando você expõe uma opinião que pode ser vista por todos, que tem potencial para mudar certas concepções sobre uma obra, então você sim, tem o dever de ter o senso ético de saber dosar as palavras e reconhecer os limites do que está fazendo.

8 comentários:

  1. Olá, Willian! Tudo bem?
    Sempre vale a pena passar aqui para refletir junto com vc sobre assuntos tão interessantes, assim como este que acaba de dissertar! Coincidentemente, havia acabado de ler uma crítica a um livro (romance) de um amigo meu! E conversávamos exatamente sobre isso: a forma como se faz a crítica! A sua colocação foi perfeita! Geralmente, é isso que observamos nas críticas feitas, elas vão de um extremo a outro, não contribuindo para o aperfeiçoamento do trabalho do artista!

    Parabéns! Seus posts são excelentes! (sem falsa crítica rsrsrs)

    Abraço!

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  2. rsrsrsrsr. Obrigado Mayre. Fico lisongeado. ^^
    Engraçado você comentar isso, pois acredita que logo depois de terminar de escrever esse artigo eu estive vagando por alguns blogs e encontrei um que se encaixa perfeitamente no perfil da Crítica cética? Eu fiquei pasmo com o que vi ali, mas não vou citar o endereço, pois não acho certo.
    rs, mas foi engraçada a coincidência.
    Beijão

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  3. apesar de ter alguns contos e cronicas, há algum tempo que so venho escrevendo sovre resenhas literarias... acho que to numa fase de ler muito e aproveito para escrever como exercicio de fixação da idéia que eu aprendi...

    agora é complicado falar mal de um livro... dizer simplesmente que não gostou...

    aqui em frotaleza mesmo vi um curta metragem de um amigo meu aque achei particularmente uma meeeerda... aí num avia nem critica adizer, há não ser: cara, vá fazer outra coisa da vida...

    acho corajoso as vezes alguém falar exatamente o que pensa... eu adoro quando alguém acha algum texto meu ruim... pq quando algum amigo seu gosta de vc isso meio que já muda as lentes dele...

    eu num sou técnico... eu vou muto em cima de minha sensibilidade sabe... agora, eu sou daqueles polidos e tal... não tenho coragem de dizer na cara de um artista que a obra dele é ruim... acho que até o crítico chato as vezes pode ser um contraponto interessante...

    vejo pela isabela boscovi da Veja que fala de cinema... a mulher é idolatrada e odiada por muitos... ela fala a opinião e dá a cara a tapa...

    então é isso... quando alguém espõe uma obra a público é pra ter as impressões de todos... das mais centradas as mais idiotas...

    enfim... gosto muito dos seus textos...

    abraço!

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  4. Pior que quando é pra crítica ro trabalho de alguém que gostamos a coisa é muito mais difícil mesmo. É chato dizermos pra pessoa o quão ruim uma coisa está e acabamos caindo na crítica laudatória. rs
    E é como você falou. Crítica também exige coragem e é sim falar o que pensa, mas sempre justificando, fundamentando suas opiniões. Principalmente se está expondo suas opiniões para uma revista de grande circulação como a Veja.
    Valeu pelo Comentário Facundo.

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  5. Seja bem vinda. ^^ Espero que goste. Beijos

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  6. Gostei bastante da análise e do blog.

    Convite: www.espacointertextual.blogspot.com

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  7. Valeu pelo convite Marcio. Pode deixar que farei uma visita. ^^ E valeu pelo comentário também. Abraços

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