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domingo, 18 de julho de 2010

A qualidade da arte – entre o erudito e o popular.


Seria a qualidade de alguma manifestação artística possível de ser medida única e exclusivamente pelo seu índice de aceitação? Seriam os mais vendidos os melhores? Ou seria o contrário, e o menor número de vendas significaria que uma obra está sendo apreciada por um grupo mais seleto, erudito? Essa é uma questão complexa, por isso dividirei esse ensaio em dois, pois quero abordá-lo em duas linhas de frente. Nesse primeiro, pretendo problematizar a concepção de que para uma obra de arte ser considerada boa, ela tem que estar restrita a um público tido erudito. E no segundo, irei abordar as diferenças entre gosto e senso crítico para melhor entender o espaço que há entre qualidade e poder de lucro.
Como é a proposta dessa primeira parte, começarei lançando mão dessa nova onda “Cult” que parece ganhar força, principalmente nos cinemas. Filmes como ‘Laranja Mecânica’, ‘Juno’, ‘Once’, ‘Simplesmente Feliz’ e outros e mais outros que são produzidos e conseguem um bom público sem a participação comercial de Hollywood. Filmes cults são entendidos comumente como aqueles trabalhos voltados para um público mais restrito. Talvez intelectuais, ou pessoas que se dizem com um gosto mais refinado do que outros. Não estou negando que filmes como ‘Once’, ‘Juno’ ou ‘Menina má.com’ sejam realmente bons. E isso se deve sim em grande parte por eles, na medida em que não possuem vínculos com grandes patrocínios, estarem livres para trabalharem seus roteiros de forma a não precisarem prestar contas de vendas com seus investidores. Porém, entre o filme ter liberdade de tratar assuntos pouco vendáveis e a concepção contemporânea de que todo o filme Cult é bom, ao passo que todas as produções hollywoodianas são ruins, existe um imenso abismo.
Essa concepção reduz tudo o que vende ao patamar de baixa qualidade. Como se o popular só gostasse do que é ruim e isso vem, em grande medida, de uma herança histórica. Histórica sim, pois desde muito tempo a produção tida intelectual era, e ainda é, fruto de circulação de uma pequena parcela de pessoas, geralmente mais abastadas. E estas tendiam/tendem naturalmente a ver seu gosto como o mais apurado enquanto as manifestações populares eram/são tidas como inferiores ou de mal gosto. Então, proponho de devamos nos indagar um pouco sobre essa questão.
Um exemplo interessante para se trabalhar é o de observarmos a trajetória de alguns artistas. Quando eles não fazem sucesso, têm um público restrito, é muito comum a crítica os valorizarem dizendo que eles possuem uma boa qualidade musical. Até mesmo seu público parece mais fiel na medida em que se sente como eleito. Porém, quando eles ganham os holofotes, temos uma verdadeira avalanche de críticas negativas e, simultaneamente ao fato de seu público crescer, temos o fenômeno dos antigos fãs reclamando, dizendo que o artista se vendeu para as grandes produções ou que sua qualidade caiu à medida que ele se tornou um ‘burguês’. É claro que, às vezes, esse modelo funciona, mas nem sempre deve ser aplicado. Isso que vou dizer pode parecer óbvio, mas em alguns casos não seria possível que um determinado livro, CD ou DVD deixe de vender simplesmente pelo fato de ele ser ruim? Não haveria casos em que um determinado autor, cineasta ou músico faça sucesso por que ele é bom?
Como eu gosto de pensar sempre: tudo o que é simples demais induz ao erro. E nesse caso a coisa não é diferente. O que eu percebo – e não sei se concordaram comigo – é que em alguns casos a impressão que dá é que quando algum público se liga muito a um artista pouco notável, o que gera é um sentimento de identidade para com ele. Não uma identidade voltada propriamente para o trabalho, mas sim de pertencer a um grupo seleto, de ser diferente na multidão. E aí, quando seu grupo seleto cai no gosto do público, você, que tinha sua identidade própria, se vê imerso em um mar de pessoas iguais a você. Você, de especial, passa a ser mais um na multidão.
Isso pode ser bem notado no exemplo da moda. Pois às vezes, quando alguém tem um estilo próprio e de repente vê que ele caiu no gosto popular, rapidamente vê a necessidade de se modificar, de mudar de estilo, pois não aceita o fato de ele estar sendo reproduzido por todos. Já perceberam esse fenômeno com alguém? Eu já. Muitas vezes.
Concluindo um pouco essa confusão, não quero propor nada por enquanto, visto que ainda tenho outro artigo para completar minha linha de raciocínio. Só então, depois de os dois pontos extremos serem abordados, que vou dizer exatamente para que escrevi tudo isso. ^^ Espero que venham a gostar...

7 comentários:

  1. Realmente, quanto mais popular menos se dá valor.Isso é muito mais cultural do que qualquer outra coisa, é muito mais fácil deixar de lado o que não se conhece do que procurar adaptar-se ao novo.

    Muito bom o texto

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  2. Olá, Wiliam! Tudo bem?

    Mais uma excelente reflexão com a qual eu corroboro em todos os pontos levantados!
    Nem sempre o que é "bom" é o que vende mais e, o que é consumido por um grupo seletivo tb não é garantia de qualidade!
    Realmente, existe um grupo de pessoas que quer se destacar da multidão e foge de tudo que é pop. Nem sempre essas pessoas se identificam com o produto em si, mas com o status que ele lhe proporciona.

    Estou aguardando a continuação...rs

    Abraço!

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  3. E tem mais até.
    Normalmente essas pessoas gostam de críticar aqueles que querem sempre estar na moda, dizendo que eles não têm personalidade. Mas não percebem que fugir da moda também é não ter personalidade, pois você acaba tendo de mudar constantemente só para não ser igual. Engraçado isso. ^^

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  4. O Abstraia-se gosta muito do seu blog e resolveu te presentear com um selinho... Veja-o em :
    http://abstraia-se.blogspot.com/2010/07/passando-selinho.html

    Parabéns!!!

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  5. Muito massa esse tema! Tava doido que alguém falasse exatamente deste assunto em algum blog pra ter uma conversa legal... Mas vou deixar vc postar a outra parte do artigo pra eu colocar minhas impressões ok!?

    Desde já muito massa o tema desse post!

    Abração!

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  6. rs. Valeu mesmo. Logo logo podemos ter o nosso debate. ^^ Abração Facundo

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