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Entenderam o trocadilho? (risos) |
Muito se fala do aumento quantitativo de literatura produzida no Brasil e no mundo nos últimos tempos. Parece que cada vez mais o sonho de se tornar escritor povoa a imaginação da juventude, incitando-os a escrever suas próprias histórias. Contudo, acredito que esse aumento de escritos não deve ser nem a ponta do iceberg do número real de produção literária que o mundo experimenta hoje. E isso se deve ao fato de que a maioria do que é criado atualmente não chega nem as livrarias nem sequer aos sites e blogs da web.
O ato de escrita é sem dúvidas um ato de coragem. Isso porque escrever é também um exercício de se abrir para o mundo. Mesmo uma obra de ficção, por mais fantástica que seja, carrega sim muito do mundo íntimo do autor. Com isso, aquele que escreve tem que estar preparado para ter sua intimidade invadida para qualquer um com interesse de lê-lo. Porém, o que acontece é que esse tipo de coragem falta em muitos homens e mulheres talentosos.
Muitos escritores simplesmente jamais permitem que seus escritos sejam lidos nem mesmo pelas pessoas mais próximas de seu círculo íntimo. Poesias, contos, crônicas, memórias, enfim, uma infinidade de textos que ficam para sempre trancafiados dentro das gavetas, baús ou pastas em computadores pessoais. Ou então, a pessoa até tem coragem de mostrar para aquela pessoa de confiança, aquele amigo que sabe que nunca irá rir de seu trabalho. Porém, a coragem morre ali, e só o fato de se pensar que aquilo pode vazar e ser visto por algum desconhecido já faz o sangue do autor gelar de medo.
Antes de mais nada, aviso que não há nada de errado nisso, do ponto de vista do interesse da pessoa. Afinal, escrever e não querer ser lido é um direito de todos nós. Porém, do ponto de vista cultural e intelectual, esse medo pode significar uma grande perda. Um dia fiquei imaginando: “quantos escritores de qualidade não perdemos todos os dias por causa de um medo bobo?”. Sem dúvidas o número deve ser assustadoramente grande. Uma pena, sem dúvidas.
Hoje em dia a internet proporciona para escritores inciantes uma ferramenta fundamental para termos nosso trabalho circulado pelo mundo. Não mais precisamos ter uma rede de contatos ou “as costas quentes” para desfrutarmos da chance de publicar nossos trabalhos e permitir que os outros o leiam. Mas para se dar esse passo é necessário valentia. Pois não podemos acreditar que nossos escritos serão amplamente aceitos de cara, que todos irão gostar e nos remeter inúmeros elogios. Até porque, como diz o ditado, “toda a unanimidade é burra”, e nesse sentido, é claro que sua produção irá despertar comentários positivos na mesma proporção que atrairá críticas ácidas.
E é desta segunda manifestação que nossos novos escritores têm medo. Eu já dediquei vários textos aqui no blog à demonstrar o meu descontentamento quanto a crítica no Brasil, por isso, não vou falar dela, e deixo os links para aqueles que estiverem interessados em ler (
Gosto e Senso Crítico;
Crítica, entre o pessoal e o profissional). O que quero realmente neste momento é incentivar aqueles que gostam de escrever, que já sonharam em ser escritores, a terem coragem de errar.
E encorajo isso pois eu mesmo já me privei muito por conta de um medo bobo. A história de “O Véu” já estava pronta em minha cabeça há mais ou menos seis anos atrás, e se só foi escrita agora foi porque eu sempre morri de medo de que as pessoas lessem aquilo que se passava pela minha cabeça. Que me achassem infantil ou estúpido. E francamente, isso é pura bobagem.
É claro que terá alguém que dirá que seu trabalho é infantil ou estúpido. E por isso você tem que estar preparado. Encarar as ofensas como respostas naturais à um trabalho que chama a atenção. Pois mesmo as críticas negativas são resultado de popularidade. Pois elas mostram que alguém se deu ao trabalho de ler o que você escreveu, mesmo que só para falar mal.
Mas é claro que essa é a visão que eu tenho hoje é fruto de quase dois anos de estrada. E essa é a perspectiva que cada escritor vai adquirir ao longo do tempo. Quando lancei o Véu, eu ainda estava com medo do que viria em resposta e por sorte encontrei leitores bastante compreensivos para com meu estado de principiante.
Recebi também conselhos para desistir, reclamações e previsões de que eu nunca daria certo. Elas me assustaram, me fizeram pensar em realmente abandonar o barco, mas a coisa é assim mesmo. Todo o ser humano amadurece com o tempo e estar maduro para saber lidar com a crítica também só virá com o tempo e a prática. E é justamente por isso que é preciso tirar seu livro da gaveta e dá-lo ao mundo. Seja batendo de porta em porta nas editoras, dando para conhecidos lerem, ou criando um blog na internet onde você possa se expressar. Mas é preciso que exercite a sua forma de lidar com o público para parar de ter medo dele, pois só assim se é possível crescer como escritor.