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domingo, 19 de agosto de 2012

Resenha: Capitães da Areia, de Jorge Amado.


Jorge Amado é um dos autores mais produtivos da literatura brasileira. Sendo um dos poucos que realmente viveu da profissão de escritor – visto que muitos outros grandes autores sempre tiveram profissões paralelas que lhes garantiam o sustento para além das vendas de seus livros – sua produção quase em escala industrial serviu de tema para alguns críticos que apontavam em sua vasta obra a repetição demasiada de enredo e temas. Todavia, esta característica que eu julgo não ser completamente equivocada, não impede que algumas pérolas saiam de seu trabalho.
Capitães da Areia” é um livro que possui uma escrita suave e um enredo que apesar de simples, serve para nos instruir acerca de questões mais complexas, como a exclusão social e a violência urbana e rural nas terras nordestinas. Narrando a história de um grupo de jovens delinquentes autodenominados capitães da areia, que sobrevivem nas ruas de Salvador através de furtos, Amado nos traz a um mundo onde as condições de sobrevivência exigem daqueles jovens a capacidade de adquirirem um conhecimento precoce da existência humana. Lançados prematuramente no conhecimento do sexo e da carência de apoio familiar, esses meninos tentam a todo o custo se tornar homens mais cedo para ganhar um lugar à luz do poderoso sol tropical.
Entre a fé na melhoria de vida e as condições áridas da vida sob o sol, o livro nos apresenta a aspectos interessantes da cultura baiana, servindo assim de janela para uma face do nordeste que compõe um todo que, normalmente, ignoramos. Longe assim de estereótipos, sejam negativos ou positivos, “Capitães da Areia” nos leva a tentar ver uma Bahia que, sem ser toda seca nem toda carnaval, se mostra como real em sua simplicidade, em seus potenciais e seus problemas típicos de todo o centro urbano.
Sem dúvidas, o livro tem muitos ‘quês’ novelescos, característica esta do autor que serviu para que suas obras ganhassem inúmeras adaptações no cinema e na televisão. Em momentos do livro o leitor pode ter a sensação de que o enredo está se alongando demasiadamente, “enchendo linguiça”, por assim dizer, ao fazer narrações que pouco contribuem para o sentido da obra, mas que sem dúvidas acrescentam para tornar o romance mais atraente devido as reviravoltas sucessivas. Ao se chegar à conclusão, os finais apaziguados também nos remetem muito às produções televisivas, mas estas características, apesar de chatas se observadas sob o prisma do conjunto da obra, não são de todo o ruim se temos como ponto de vista a produção individual.
Neste sentido, recomendo a leitura de “Capitães da Areia”, por ser um livro que além de leve e agradável, constituindo-se assim em algo prazeroso, também tem seus momentos em que coloca o leitor diante de uma parte da realidade que tende, seja por simples ignorância, seja por medo, a ignorar.


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