Jorge
Amado é um dos autores mais produtivos da literatura brasileira.
Sendo um dos poucos que realmente viveu da profissão de escritor –
visto que muitos outros grandes autores sempre tiveram profissões
paralelas que lhes garantiam o sustento para além das vendas de seus
livros – sua produção quase em escala industrial serviu de tema
para alguns críticos que apontavam em sua vasta obra a repetição
demasiada de enredo e temas. Todavia, esta característica que eu
julgo não ser completamente equivocada, não impede que algumas
pérolas saiam de seu trabalho.
“Capitães
da Areia” é um livro que possui uma escrita suave e um enredo que
apesar de simples, serve para nos instruir acerca de questões mais
complexas, como a exclusão social e a violência urbana e rural nas
terras nordestinas. Narrando a história de um grupo de jovens
delinquentes autodenominados capitães da areia, que sobrevivem nas
ruas de Salvador através de furtos, Amado nos traz a um mundo onde
as condições de sobrevivência exigem daqueles jovens a capacidade
de adquirirem um conhecimento precoce da existência humana. Lançados
prematuramente no conhecimento do sexo e da carência de apoio
familiar, esses meninos tentam a todo o custo se tornar homens mais
cedo para ganhar um lugar à luz do poderoso sol tropical.
Entre
a fé na melhoria de vida e as condições áridas da vida sob o sol,
o livro nos apresenta a aspectos interessantes da cultura baiana,
servindo assim de janela para uma face do nordeste que compõe um
todo que, normalmente, ignoramos. Longe assim de estereótipos, sejam
negativos ou positivos, “Capitães da Areia” nos leva a tentar
ver uma Bahia que, sem ser toda seca nem toda carnaval, se mostra
como real em sua simplicidade, em seus potenciais e seus problemas
típicos de todo o centro urbano.
Sem
dúvidas, o livro tem muitos ‘quês’ novelescos, característica
esta do autor que serviu para que suas obras ganhassem inúmeras
adaptações no cinema e na televisão. Em momentos do livro o leitor
pode ter a sensação de que o enredo está se alongando
demasiadamente, “enchendo linguiça”, por assim dizer, ao fazer
narrações que pouco contribuem para o sentido da obra, mas que sem
dúvidas acrescentam para tornar o romance mais atraente devido as
reviravoltas sucessivas. Ao se chegar à conclusão, os finais
apaziguados também nos remetem muito às produções televisivas,
mas estas características, apesar de chatas se observadas sob o
prisma do conjunto da obra, não são de todo o ruim se temos como
ponto de vista a produção individual.
Neste
sentido, recomendo a leitura de “Capitães da Areia”, por ser um
livro que além de leve e agradável, constituindo-se assim em algo
prazeroso, também tem seus momentos em que coloca o leitor diante de
uma parte da realidade que tende, seja por simples ignorância, seja
por medo, a ignorar.
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