O tema para esse ensaio me foi passado a mais ou menos uma semana pelo colega e escritor Vincent Law, que me apresentou um site que discute basicamente sobre o tema da criatividade: o ‘Criatividade e Inovação’. Li e gostei muito de sua proposta, e resolvi dissertar um pouco sobre o tema aqui.
Algo interessante que encontrei no site foram as conclusões de um estudo americano ao tema. Pois o que eles observaram com pesquisas feitas com pessoas das mais diferentes faixas etárias nos EUA é que, com o passar dos anos, ficamos menos criativos. Na infância, é o período máximo, mas conforme crescemos, essa nossa capacidade vai se reduzindo até que não sejamos quase mais capazes de criar coisas novas.
Mas acredito que esse dado não seja lá muito inovador, no sentido de que acredito ser do senso comum a idéia de que todas as crianças tenham a imaginação muito mais fértil que a dos adultos. E isso ocorre por alguns fatores que o mais importante, pelo menos para mim, é a questão do constrangimento.
Quando digo constrangimento, falo de determinadas amarras da sociedade que vetam a nossa capacidade ficcional. Quando crianças, a imaginação ou é estimulada, ou, quando não, é pelo menos aceita. Não temos problema em observar uma criança que vive no “Mundo da Lua”, pois para nós isso é absolutamente normal. Mas quando a coisa passa para um adulto, aí os adjetivos começam a surgir e vão desde um ‘irresponsável’, passando pelo ‘idiota’ até chegar ao ‘maluco’.
O mundo não é feito só de fantasia, isso é lógico. Até mesmo as pessoas que criam esse gênero têm que a todo o momento estar lidando com situações chatas do cotidiano, seja a burocratização das instituições, a rotina do dia a dia, ou os problemas vividos pela sociedade (fome, guerras, peste, e outros). Logo, nas palavras de Saramago, "Estamos afundados na merda do mundo e não se pode ser otimista. O otimista, ou é estúpido, ou insensível ou milionário".
Devo dizer que em muita parte isso é verdade, pois sonhar demais o torna despreparado para as durezas da vida. Porém, fico muito triste em me deparar com um mundo aonde não sejam mais possíveis utopias. Grandes sonhos de um futuro melhor, igualitário, mais justo. Sinceramente uma parte de mim ainda quer acreditar nessa possibilidade, por mais difícil que ela possa parecer. Posso estar sendo ignorante, como diz Saramago (já que insensível e milionário, eu sei que não sou), mas acho que essa capacidade de sonhar que possuímos vale muito e não deve ser perdida com tanta facilidade.
Nas palavras de Humberto Gessinger, “Tudo bem, até pode ser que os dragões sejam moinhos de vento. Tudo bem. Seja o que for. Se for por amor as causas perdidas” (“Dom Quixote”). Ou como diz a letra de “Utopia”, da banda Within Temptation “Por que chove lá em Utopia? Por que temos que matar a idéia de quem somos?”.
Afinal, quem de nós pode garantir com toda a certeza que da próxima idéia maluca não pode vir a chave para dias melhores? Quando se é criança, não temos problemas em pensar assim, mas infelizmente não podemos manter esses sonhos sem sofremos as conseqüências. Tornamos-nos imóveis, desinteressados e até certo ponto irresponsáveis com o nosso mundo, tudo porque simplesmente não vemos nele nenhuma chance de salvação. O que é uma pena.
Lutar contra moinhos de vento pode ser um desperdício de forças, mas acredito que vale mais do que ficar parado. A capacidade de sonhar, de fantasiar é mais do que uma fuga do mundo, ela pode ser também a concepção necessária de um mundo ideal.
Talvez a melhor coisa que possamos fazer quando concebemos a idéia de um Sangri-La, de um paraíso terreno, seria não apenas jogá-lo para um mundo metafísico, fora de nós, mas também tentar ver como esse mundo ideal pode se adaptar a nossa realidade. Pois se uma coisa é concebível em nossas mentes, isso é um sinal de que minimamente é possível na realidade. Ou alguém aqui acredita que nossa imaginação é capaz de criar algo totalmente por fora de nosso mundo? Em “A Arte Imita a Vida. Até que Ponto?’, eu discuto essa idéia, e tento mostrar como nossa imaginação não é apenas algo novo, totalmente fora do nosso mundo, mas sim uma readequação daquilo que na verdade já existe e (por que não?) é possível.
Ah, com certeza estou ficando menos criativo. Pra tu ver, minha primeira história que criei na vida, e lembro até hoje, bem fresca na mente, foi transformar um jogo da turma da mônica de master system numa história de ação. E me lembro de como foi fácil adaptar um joguinho simples de plataforma numa historia divertida. Um devaneio total, mas plausível. Tem a Turma da mônica jovem hoje, então eu criei uma Turma da Monica action hehe. (po, eu fiz uma fanfic com sete anos de idade, e não sabia. O.O)
ResponderExcluirMas sinto realmente que minha criatividade regrediu. Tantos problemas tomaram o lugar da minha mente que antes estava tranquila reservada para minhas fantasias, e agora como volto para o meu interior, tá tudo tão desordenado. Maldita vida social evoluida. Era tão bom quando eu estudava matérias simples de escola, e ficava lá no meu cantinho, viajando e viajando. Tempo que se foi, e imaginação que não retornará. Bom, até que é possível, sim é só tentar deixar a vida um pouco tranquila e leve como era antes, o que é um grande desafio.
Quando somos crianças também, um grande fator que nos possibilita criar histórias mais facilmente é que simplesmente não há regras, burlamos a lei da física ou qualquer coisa que limite o nosso mundo fantasioso. É uma imaginação onde tudo é possível e simples, sem complicação. E claro, a lutinha entre entre o bem e o mal, já começando a ser definida na nossa mente.
Que saudades que eu tenho de criar aqueles personagens extremamente bonzinhos contra os super vilões. Ser criança era tão bom.
"Estamos afundados na merda do mundo e não se pode ser otimista. O otimista, ou é estúpido, ou insensível ou milionário"
Engraçado como o auge de um autor é sempre após a sua morte. É incrível a quantidade de vezes que ele passa a ser rememorado.
Bom, nas palavras do Saramago, se é pra mudar o mundo, não tenho receio de ser estúpido ou milionário, ou insensível. Melhor do que não ser nada e nunca ser nada.
Parabéns pelo post. Hm, uma pergunta. Quando é que saiu aquele seu livro "De Corpo e Alma"?
Oi Luiz.
ResponderExcluirÉ verdade. Não tem como deixar de falar de saramago agora que sua falta passa a ser sentida. Quando ele estava vivo, sempre podiamos nos esquecer dele acreditando que ele logo ressurgiria, seja num novo livro ou prêmio literário, mas agora que ele morreu, é lembrar para não esquecer.
NA verdade o De Corpo e Alma aina não saiu. Houveram atrasos e por isso sua publicação ficou para agosto. Foi até bom você tocar no assunto pois me lembra que tenho que mudar a informação contida no perfil do blog. ^^ VAleu mesmo
Abração
Bem lembrado saramago que começou a publicar seus livros a partir dos seus 25 anos...
ResponderExcluirE seus melhores livros saíram quando ele estava na casa dos 30 e 40 anos...
Luís Fernando Veríssimo só foi escrever depois dos 30...
Enfim... Criatividade não tem idade... Acontece que ela é como um músculo... Se não usar ela nunca vai se desenvolver...
Muito bom o ensaio!
:-)
Pois é. Que bom que resolvi começar cedo. ^^
ResponderExcluirAbração Facundo
..... Criatividade bitolada pela idade, o tempo passa, os problemas aumentam, as necessidades também, então, não há criatividade que aguente e nem sonhos que resistam a dura realidade da vida e do cotidiano, deve de ser por isso que a grande maioria política desse país desorganizado, vai, em geral, dos 50 anos em diante e sendo assim eles rememoram os tempos da UNE, os tempos de jovens, os tempos do cruzeiro, cruzado, cruzado novo, eles se preocupam em engabelar e manterem o eleitorado engambelado, e desse modo, não conseguem criar, inovar, com nada de novo ou até mesmo algo de fantástico para resolver a droga em que os menos favorecidos estão, literalmente, afogados e sucumbidos. Realmente, quando a idade é menor e as idéias estão mais frescas e pulsantes na massa cinzenta e borbulham para fora dos poros e saltam aos olhos de qualquer um, é que se vê o tamanho do sonho, da utopia, da criação, haja Fernando Collor de Mello que adentrou o poder como chefe de Estado com apenas 40 anos, um bebêzinho no mundo político, e inovou, criou e inventou um bocado de coisas, que só mesmo uma mente jovial e com pouca vivência, atada a quimeras mil, poderia pressupor na sua vã filosofia, que afinal nem foi tão vã assim, visto que seus arroubos utópicos contagiaram a muita gente......
ResponderExcluirUtopia nunca é vã. Ela sempre é uma proposta real, para uma realidade, pois se conseguimos conceber algo tão fantástico, é sinal de que ele é pelo menos possível na empiria. Beijão Luz
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