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sábado, 23 de abril de 2011

Roteiros


Nessa pequena postagem não pretendo refletir propriamente sobre um tema, nem expor um assunto em específico, mas gostaria de dividir com vocês, amantes da leitura e que desejam criar uma história própria algum dia, um dos recursos que gosto de utilizar na hora de escrever: a construção de um bom roteiro.
Não há dúvidas de que a escrita livre tem seu charme. Deixar a história correr, tentar sentir o enredo e permitir que ele se construa em sua própria natureza, como se a criação literária tivesse vida própria, uma lógica própria. Esse tipo de método é absolutamente prazeroso, e também produz resultados interessantes para aqueles que possuem uma imaginação aflorada, só que dele se exige um grau de inspiração extremamente elevado e certa margem possibilidades muito grandes em sua história para que ela não desande ou acabe perdendo o nexo.
Muitos não gostam de roteiros, pois os veem como uma amarra, algo que castra a livre criatividade. De fato, o roteiro tende a nos limitar, nos impor determinadas condições. Contudo, muito antes de um entrave, ele deve ser entendido como um meio de se conseguir garantir a continuidade da história. A criatividade em si é poderosa, entretanto, tende normalmente à entropia, ao caos. Se não for moderadamente controlada por um método, pode levar a história a uma completa falta de sentido.
Gostaria de esclarecer que não estou falando aqui de um roteiro fechado, imutável e completo, mas sim de um que sirva de base para se garantir o nexo da história, contendo apenas os casos principais e as coisas que não podem faltar, que constituem a estória como tal. Isso seria apenas sua estrutura, mas todo o resto seria preenchido pela criatividade.
Vou dar um exemplo mais palpável de quando eu era o responsável por narrar aventuras de RPG aos meus amigos. Nesses casos eu tinha sempre um roteiro pronto, me situando onde a história se iniciaria, quais seriam os acontecimentos fundamentais e indispensáveis, e quais os finais possíveis, elegendo um como sendo meu preferencial.
Basicamente, uma história que seria jogada em dias, e que poderia render umas trezentas páginas de um livro, ficava resumida a uma única folha repleta de tópicos. Aquilo não era a história pronta e acabada, mas sim um resumo geral que iria me guiar ao longo da narrativa. O resto, eu deixava que os jogadores traçassem. Permitia que eles dessem contornos à aventura seguindo sua própria imaginação ou interesse.
O roteiro me ajudava em momentos quando eu sentia que a coisa começava a desandar e a sair de meu controle. Nestas situações eu me permitia direcionar o rumo das coisas para o contexto da história, para que tudo não se tornasse uma anarquia. Mas também eu tinha que estar aberto às possibilidades que a própria história me oferecia. Quando me referi a finais possíveis, faço isso pois não gosto de pensar numa história pelo viés de seu final. Normalmente, quando escrevo um livro, eu possuo vários finais possíveis e deixo que a própria história me leve a ver qual deles é o melhor a ser aplicado.
No RPG é a mesma coisa. Às vezes acontecia dos personagens de meus amigos levarem a história para um ponto totalmente imprevisto em meu esquema. E muitas vezes acontecia que esses finais eram ainda mais interessante que todos aqueles que eu havia planejado. E isso é um fator surpresa que só a criatividade pode fornecer. Por isso não é conveniente que um autor tenha um roteiro rígido e imutável, pois as vezes é a própria experiência que vai ditar as regras de sua estória.
Na cabeça, você pode ter um modelo completo e formado, mas na prática, quando os personagens começam a ganhar vida, percebe que estes podem não ser aplicados, ou se forem, vão deixar a história pobre ou com pontas soltas. É nesse momento que o estreito limite que divide o método da imaginação deve estar estabelecido.
Um autor não se constrói apenas de talento nato, de imaginação criativa e qualidade poética, mas também de disciplina, de construção de recursos, de lógica. Por isso a construção de roteiros pode ser uma das muitas ferramentas que lhe possibilitem traçar o contorno geral de seu trabalho. Uma imaginação sem método é caótico, e um método sem imaginação é frio. Podemos dizer diferente: que a imaginação permite que o método não caia no mecanicismo, e que o método permite que a imaginação não o leve à aporia, à um beco sem saída em sua história em que nada mais faz sentido.
Racionalidade e sensibilidade. Todo o artista está sempre jogando com essas duas forças que definem não apenas a arte, mas o caráter humano de uma forma geral. 

2 comentários:

  1. Completa razão o que o W.N. falou! O método e a criatividade são interligados. A garantia de uma história palpável e gostosa aos olhos do leitor precisa de fundamentos para que aconteça! Daí vem o quanto interessante é a obra "O véu" que estou tendo o prazer de ler...
    Ainda estou na metade, mas a leitura é muito fluida e gostosa! =D

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  2. Tem razão.
    Criatividade é importante, mas sem método a escrita não vai para frente.

    beijos!!

    Arte Around The World

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