Quantos de nós já não saímos do cinema após vermos alguma supre-produção baseada em um grande romance com aquela incômoda sensação de que “O livro é melhor que o filme”? Acho que todos, não?
E essa reação é algo completamente normal levando-se em consideração uma série de limitações que as produções cinematográficas têm que são completamente superadas pela literatura. Primeiramente, temos a questão da retratação. Pois por mais competentes que sejam alguns diretores, mais talentosos que sejam certos atores ou mais modernas sejam as tecnologias empregadas para a realização dos efeitos especiais, o fato é que nenhuma retratação cinematográfica poderá barrar o poder de uma boa imaginação criativa. E para aqueles habituados a imaginar mundos, personagens, contextos e situações, nunca que o cinema poderá deixar a ficção tão cheia de cores quanto às páginas de um bom autor.
Em segundo, temos o problema da própria responsabilidade quanto à qualidade do trabalho. Pois um filme é um trabalho em equipe, enquanto a escrita é um trabalho solitário. Logo, na literatura, depende única e exclusivamente do autor transformar sua obra em algo maravilhoso, enquanto o cinema exige toda uma equipe qualificada. Nesse sentido, no caso do filme, se um ator, cenário, efeito ou iluminação não estiver adequado aos demais, causa em quem assiste a sensação de que há algo está completamente errado. E todos aqui devem concordar que trabalhar em equipe é muito mais complicado, pois fica muito mais difícil não se errar quando temos milhares de mãos trabalhando no mesmo projeto. Um trabalho solitário acaba dando mais controle do todo, enquanto a equipe só lhe dá o domínio da parte.
E por último, é claro, temos o problema do recorte. Pois, por exemplo, qualquer filme que se dignasse a realizar uma produção completamente fiel ao livro “A Rainha dos Condenados”, de Anne Rice, teria que ter no mínimo umas cinco horas de duração. E isso não pode se dar, por que tornaria a produção onerosa em demasia. Logo, o filme precisa fazer cortes, resumos, adaptações, para que consiga passar em poucas horas milhares e milhares de palavras impressas na literatura. É claro que existem aqueles filmes que conseguem ser fieis ao livro, mas esses, ou são feitos em cima de trabalhos pequenos ou que têm muito pouco a dizer. Por isso fica fácil cortar as cenas.
Entretanto, além dessas limitações comumente conhecidas, eu gostaria de chamar a atenção para outra barreira encontrada pelo cinema que não está contida na literatura. E que, em minha opinião, é a mais importante: a capacidade de promover a quem prestigia a chance de participar da história.
A grande vantagem de um livro é que, por se tratar de um processo do qual o leitor participa a todo o momento, sendo forçado a ele mesmo construir aquela realidade apresentada, ele também esta livre para pintar as coisas com as cores que mais lhe convêm. Logo, os personagens assumem a forma que nós gostaríamos, as circunstâncias atendem às nossas expectativas e até as entonações dos diálogos são aquelas que nós podemos construir. O filme, ao contrário, não permite ao espectador participar ativamente. Toda a construção, interpretação e familiarização são feitas por outras pessoas. Você não constrói o personagem, ele já foi escolhido num processo seletivo. Você não monta seu cenário, ele já foi produzido pela equipe de produção. E você também não escolhe o sentimento passado em cada fala, pois é o ator quem tem a finalidade de passá-lo para você.
Assim, acredito que essa seja a fundamental limitação encontrada nos filmes, que os tornem tão inferiores aos livros para aqueles que conseguem prestigiar os dois. Esse sentimento de que falta alguma coisa, ou que algo está completamente errado. E isso acontece por que pessoas diferentes vêem as coisas de modo diferente (Já discutido em “Entre o Autor e o Leitor”). Logo, não podemos garantir que os leitores tenham a mesma visão dos diretores, atores ou roteiristas. E para alguém acostumado a liberdade de imaginar um Percy Jackson – “O ladrão de raios” – como um garoto de doze anos, não se acostuma ao ver o ator Logan Lerman representando o personagem sendo que ele tem dezesseis anos. Ou então, para aqueles que leram “A Rainha dos Condenados” e se maravilharam com a história da criação dos vampiros, automaticamente irão se frustrar ao verem o filme e perceberem que essa passagem foi completamente excluída dele.
Concluindo a minha linha de raciocínio, acho importante destacar que em nenhum momento estou menosprezando o Cinema. Pelo contrário, pois eu o adoro, porém, não posso negar que, para qualquer amante da leitura, um filme jamais conseguirá superar o prazer de um bom livro. Mas isso não nos impede de gostarmos de cinema e em muitos casos de filmes inspirados por livros. Mas isso exige que o espectador ainda tenha desconhecimento da obra Original. Alego isso por experiência própria. No caso da Saga Harry Potter, antes de eu começar a ler os livros já havia assistido aos dois filmes primeiros da franquia e gostei muito deles. Porém, a partir do momento em que comecei a recorrer aos livros, tudo perdeu a graça.
E ainda acredito que isso ocorrerá também após eu ler determinados livros dos quais o filme me agradou. Entre eles, “O retrato de Dorian Gray” e “Eu Cristiane F.”. Ambos que estão na minha lista futura para leituras. Esses são filmes dos quais gostei muito, mas que com certeza se mostraram inferiores quando eu resolver ler a obra original.
Nossa... Amei esse post!
ResponderExcluirConcordo plenamente! O Cinema não consegue barrar uma leitura detalhada. Tive a mesma experiência com a saga do Harry Potter... Só que esperei até o 7° filme pra começar a ler. Foi um choque! E O livro "O retrato de Dorian Gray" é muito bom. Li em inglês. Não sabia que tinha filme! Boa dica!
Bye!
Oi Mariana. Então você deve ter aproveitado mais os filmes do que eu. rsrsr Chegou uma época que eu basicamente só ia para o cinema reclamar, pois sabia que não ia gostar do filme. rs.
ResponderExcluirBeijão Mari e valeu pelo comentário.
Muito bom o post.. Sem contar que está muito bem escrito...
ResponderExcluirMas enfim... concordo com tudo o que você escreveu..
Acho ainda que o motivo principal pelo qual o livro é sempre melhor que o filme (falo sempre, porque ainda nem achei um filme que tenha sido tão bão quanto o livro.. inclusive nos casos em que vi primeiro o filme e depois o livro)... mas voltando... acho que o livro é melhor que o filme principalmente porque no livro, tem o que os personagens estão pensando, sentindo.. e esse detalhe não existe no filme.. Acho que seria fiel apenas se houvesse uma narrativa por trás.. mesmo que resumida... só que ai tiraria a graça do filme..
Sem contar também que demora mais e talx.. é mais gostoso o tempo que levamos lendo.. entendemos melhor.. entramos na cabeça dos personagens... nos tornamos um.. hahaha..
Bom.. vou parar por aqui.. to falando demais já..
Adorei teu blog.. vou passar a fazer umas visitinhas aqui.. ;)
Valeu mesmo Lika. É verdade, eu tinha até me esquecido desse pequeno/grande detalhe. No filme é função do ator passar a quem assiste aquilo que o personagem pode estar pensando, mas nunca que um ator, por melhor que ele seja, iria conseguir passar todos os sentimentos, sensações e reflexões de seu personagem. Realmente as vezes faz falta saber o que está realmente se passando pela cabeça dele. Obrigado mesmo Lika e seja sempre bem vinda.
ResponderExcluirConcordo com o que você disse...Mas posso adicionar que é sempre bom você ver o filme depois que você leu o livro.É legal perceber se o personagem que você imaginou parece ou não com o ator escalado no filme,ou se o ambiente da cena supera a espectativa.
ResponderExcluirMas posso afirmar que são poucos filmes que superam esta espectativa,acho que até hoje apenas um filme chegou perto"As cronicas de Nárnia".Amo o filme e o livro...
Ainda não li esse "As crônicas de Narnia". Mas de fato o filme é fantástico. Agora eu não sei se continuarei achando isso após ler o livro. srrsrs. Quem sabe.
ResponderExcluirMas o que você disse também está certo, pois realmente dá aquela louca vontade de saber como foi que o diretor pensou o livro que você leu. E mesmo eu sempre levando pouca fé de que vá gostar do que verei, sempre acabo indo prestigiar o filme. Acho que é irresistível. rs :)
Excelente post Willian! Concordo com tudo o que falou, principalmente no que diz respeito a nossa passividade diante de uma adaptação cinematográfica. É muito mais prezeroso quando imaginamos o mundo a nosso gosto por meio das palavras de um livro.
ResponderExcluirPelo o que me lembro, não houve nenhuma vez em que vi um filme após ler o livro, talvez isso aconteça agora com HP7.
Entretanto, devo dizer que o "Senhos dos Anéis" é uma exceção. Vi os 3 filmes, e só li o primeiro livro. As versões são bem diferentes, mas o livro do Tolkien eu achei muito enjoativo, pois ele tenta explorar cada pontinha da aventura, e muitas vezes aquilo em nada influencia na trama principal. Não que eu não tenha gostado do livro, mas não foi uma leitura muito instigante de ser ler em um mês ou dois. Demorei SEIS meses pra acabar com ele. O ritmo da narrativa realmente não me agradou. E por esse motivo, acho que ver o filme é mais interessante, tanto pela qualidade, mas também pelo melhor desenvolvimento da história.
As cronicas de Nárnia, estou com o volume unico ainda para ler. Se não me engano, vem um terceiro filme esse ano, eu acho.
Pior que eu ainda não li o "Senhor dos Aneis". Tô querendo, mas ainda não consegui. rs Realmente eu gostei muito do filme. O trabalho, a produção, tudo. Mereceu as estatuetas que ganhou. Mas não sei como vai ficar depois de ler o livro. rsrs
ResponderExcluirEmbora eu confesse que não havia pensado nessa questão que você levantou. De fato, existem trabalhos cuja a leitura é bem cansativa. Para esses, realmente o cinema pode vir a ajudar.
Valeu Luiz. Abração
Oi..eu de novo
ResponderExcluirSó queria comentar o caso dos "Senhor dos anéis"..Já tentei assisti o filme 3 vezes,mas dormi...Já o livro estou lendo agora e me apaixonando!Consegui chegar na metade do primeiro livro em 2 dias,e talvez depois eu consiga ver o filme..
bjs
Pior que não tem como prever o que cada um vai achar do livro, não é mesmo? Tens uns que gostam da linguagem, outros não. Uns que se interessam pela his´toria, outros a detestam. rsrs. Por isso que quero ler o Senhor dos Aneis. Aí sim poderei tirar minhas conclusões.
ResponderExcluir:) Obrigado pelo comentário Susi. Beijão