O livro que compõe a sessão da luxuria na coleção “Plenos
Pecados” da editora Objetiva cumpre muito bem a missão,
trazendo-nos uma história que mescla um enredo sobre este tentador
pecado e também reflexões que servem para desestabilizar o leitor,
e forçá-lo a pensar de forma mais ampla.
Sem dúvidas que este não é um livro para pessoas sensíveis
demais, ou tradicionais demais. Ou talvez seja, não sei ao certo. Só
posso dizer uma coisa: se você não encarar este trabalho com a
mente aberta, com certeza irá se decepcionar, ou até mesmo se
ofender. Isto porque nossa ilustre personagem, Valentina, não tem
travas na língua, não tem pudores e também não está preocupada
em não chocar seu interlocutor. Na verdade, o que ela quer mesmo é
chocar. Com essa proposta, ela nos narra a sua vida, comentando sobre
quase todas as taras sexuais que nossa mentalidade ocidental pode
imaginar: orgias, incesto, voyeurismo, sadismo, zoofilia, entre
outras e tantas outras.
Confesso que tive certas dúvidas ao reconhecer o caráter biográfico
da autora. Pelo que Ubaldo nos conta, quando foi anunciado que ele
seria o escritor responsável pelo romance sobre a luxuria, o autor
haveria de ter recebido os relatos dessa tal Valentina, uma mulher já
bem madura e interessada em ter sua história contada. Ela então,
sem divulgar o nome das pessoas realmente envolvidas e , muito menos,
o seu próprio, nos narra os casos de sua vida.
Vamos combinar que quando o assunto é falar sobre sexo e todos os
desejos que podem acometer um ser humano, este perfil – uma mulher
de meia idade – é o melhor e talvez o mais aceitável para falar
no assunto. Primeiro, pois nossa sociedade masculina ainda possui
fortes entraves para contar abertamente de seus desejos, segundo,
porque, ao avançar da idade, tendemos a tolerar mais esses tipos de
comentários. Quem de nós nunca teve uma avó ou outro exemplo de
pessoa mais velha que não ficasse mais desbocada e, em alguns casos,
mais assanhada depois de cruzar o Cabo da Boa Esperança? É um
perfil que aceitamos melhor. Já um homem respeitado no meio
intelectual, pai de família e maduro, isso já arrancaria certos
olhares tortos dos leitor.
Posso estar apenas especulando, mas como a própria Valentina nos
liberou para fantasiarmos a vontade, sendo livres para acreditarmos e
desacreditarmos no que quisermos acerca de sua narrativa, então eu
me ponho no direito de acreditar que um pouco de Ubaldo também
esteja neste livro. Na verdade, um pouco de todos nós, meros mortais
e pecadores em potencial.
Enfim, um detalhe que não pode me fugir é o estilo do trabalho.
Muito interessante a proposta do autor em preservar o tom discursivo
da personagem. Ao lermos “A casa dos budas ditosos”, temos de
fato a impressão de escutar uma pessoa nos falando apressadamente,
sem pausas para respirar, como que se estivesse com pressa de nos
contar tudo antes que o mundo fosse acabar amanhã. Para tando, a
pontuação do livro acabou bastante comprometida, deixando o leitor
até mesmo perdido e com dor de cabeça nas páginas iniciais.
Todavia, acostumado ao ritmo do trabalho, aposto que todos
conseguirão entrar no ritmo da história e ter a sensação daquela
voz feminina e madura sussurrando ao seu ouvido, como se estivesse do
seu lado contado a história. Pelo menos eu tive essa sensação.
E é por tanto que eu recomendo este trabalho, tanto por seu caráter
desafiador em uma sociedade que, apesar de moderna, ainda se mantém
hipócrita com relação a alguns assuntos, como também pela
qualidade do trabalho. Valentina, sendo uma mulher real ou apenas
literárias é sem dúvidas bastante humana. Com todas as
inseguranças ocultas e travestidas em sua armadura de imparcialidade
com relação ao tema, e também bastante incoerente em meio a chuva
de relatos e reflexões que faz acerca do pleno pecado da luxuria.
Estou fazendo a resenha deste livro para uma aula da faculdade e no começo me assustou muito, mas com o passar das páginas eu me acostumei com o jeito da Valentina, tanto que o que me cansava mais no livro é o fato de ela falar tudo muito rápido, não dar tempo ao tempo, mas sem sombra de dúvidas é um livro muito bom
ResponderExcluirGostei do livro.
ResponderExcluirhttp://numadeletra.com/a-casa-dos-budas-ditosos-de-joao-ubaldo-67028
De onde você tirou que a personagem se chama Valentina?
ResponderExcluirDe onde você tirou que a personagem se chama Valentina?
ResponderExcluirBoa pergunta...O termo é Libertina....
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