Apresentando-nos uma realidade bem próxima daquela própria do
naturalismo brasileiro, o “Rato” de Luís Capucho pode vir a ser
indigesto para estômagos fracos. Com um ambiente degenerado, sujo,
personagens sem grades valores morais, o projeto do livro procura
colocar-nos diante de nossa própria animalidade, do lado mais
visceral do ser humano.
Confesso que não sou muito fã deste tipo de perspectiva, que
considera o homem fruto do meio e não leva em conta valores
individuais. Todavia, devo dizer que a proposta foi bem atendida. A
personagem principal é um carioca, morador do Centro do Rio de
Janeiro, habitando um cortiço que divide com sua mãe e muitos
homens, que pagam o aluguel. Nosso protagonista, com uma sexualidade
enrustida, percorre os ambientes mais vazios, obscuros e abandonados
para poder dar vazão aos impulsos do seu corpo. Sem se importar com
o parceiro ou as condições higiênicas do local, ele se entrega ao
prazer carnal com homens dos mais diversos tipos. Sempre casual, até
a chegada de Plínio, um novo morador da cabeça de porco.
A relação que se desenvolve entre os dois não pode ser chamada de
um romance, não ao menos se tomarmos como padrão os que já estamos
acostumados. É uma relação terna, sem pieguices, sem grandes
momentos de clímax, mas estável e fiel. Nesse momento o autor nos
convida a pensar, mesmo que de forma indireta, na própria natureza
dos relacionamentos. Alguns, sem grandes perspectivas, sem momentos
de romantismo, mas sem dúvidas sinceros a sua maneira.
Outra temática que se desenvolve no texto de Capucho é a sexual.
Nela, o autor explora parte dos desejos humanos, suas taras mais
inconfessáveis, ocultas, enrustidas e a capacidade de nos metermos
nos ambientes mais insalubres para saciarmo-nos, quando as condições
tidas naturais não nos são apresentadas para por em prática nossos
desejos. Foi uma boa tentativa a de por para pensar acerca desse
ponto do desejo sexual, mas admito que achei que ele poderia
trabalhar melhor este momento.
Não gosto de fazer comparação entre livros quando resenho, mas não
pude deixar de aproximá-lo da “Casa dos Budas Ditosos”, de João
Ubaldo Ribeiro. Pois os dois tocam neste mundo instável, que pode
repelir as mentes mais conservadoras. T|odos tentam andar por esse
terreno acidentado que diz respeito a todos, mesmo que de forma
inconfessável. Entretanto, acredito que Capucho não foi tão bem
sucedido nesta tarefa. Pois se nossa incursão pelo mundo dos “Budas
Ditosos”, apesar de chocar, ainda nos permite momentos de prazer
intelectual dignos de nota, “Rato” não nos oferece o mesmo.
Pois nosso protagonista, apesar de entrar menos de cabeça no mundo
da sua sexualidade que nossa promiscua Valentina, ainda assim a forma
como suas aventuras nos é narrada não nos permite desfrutar de
maneira plena de sua experiência. Fica mais difícil não julgar o
rato, não achá-lo de certa forma desprezível, sujo. E os momentos
em que ele tenta justificar seus impulsos ainda não são tão bem
elaborados quanto os de Valentina. Deixando ao leitor pouca margem
para se envolver com o personagem, reconhecendo-o como um indivíduo
válido e aceitável.
Enfim, digo que saí da leitura de rato reconhecendo o valor de sua
proposta, mas ainda assim desgostoso quanto a maneira como ela é
aplicada. Provavelmente o autor pouco vai se importar com isto, pois
acredito que este foi seu real objetivo: deixar aquele nó no
estômago quando chega-se as páginas finais. Porém, ainda sim tenho
que mostrar meu descontentamento quanto ao método empregado.
obrigado pela resenha Wnascimento. Me importo sim sobre os efeitos de minha narrativa. São eles que formam o livro.
ResponderExcluirobrigado!
Não há de que.
ExcluirÉ uma honra ser presitigiado com sua presença aqui no meu blog.
Agradeço a atenção e desejo uma ótima semana.
Abraços