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quinta-feira, 3 de junho de 2010

Fantasia: a chave do sucesso.

Este artigo me foi inspirado através de uma visita que fiz à exposição que está acontecendo aqui no Rio de Janeiro, no Museu Histórico Nacional, intitulada ‘Einstein’. Como já nos aponta o título, esta é uma exposição toda voltada à memória do grande nome da ciência do século XX. E além de muito interessante, com direito a belas imagens, informações e tecnologia que visa tonar interativa a aprendizagem, o que mais me chamou a atenção — pelo menos de forma que sirva ao propósito deste blog — é a questão das descobertas da física e o quanto de fantasia existe nelas.
Como já abordei em outros ensaios aqui postados, acho importante salientar que diferente do que se pensa comumente, a criação científica tem sim muito de fantasia e de mito — Senso comum: a fantasia nas pequenas coisas — e que até mesmo os próprios termos fantasia, mito ou lenda, não devem ser encarados como sinônimos de mentira — Mito, Fantasia e Mentira. Eles são mais do que isso. Os mitos, assim como as lendas e a capacidade de fantasiar são, em muitos casos, a única forma que uma pessoa ou um grupo de humanos tem de explicar o mundo. Eles são o primeiro olhar a uma realidade ainda desconhecida, ainda obscura, e que, para torná-la inteligível, é necessária a adesão de uma pincelada mágica, sobrenatural, de forma a dar sentido a quem a tenta compreendê-la.
Mas vocês devem estar se perguntando do porque eu retomei a esse assunto. Retomei simplesmente porque vi nessa exposição teorias, idéias e problemas ligados à área da física que muito me fizeram refletir sobre essa relação com a fantasia. Por exemplo, a teoria do buraco negro. Durante toda a exposição, a guia nos explicou sobre a problemática do buraco negro: O que é e o que é formado. Explicações essas que me fizeram chegar à seguinte conclusão: Não é possível compreender esse fenômeno sem um pouco de abstração.
Vamos usar o exemplo do buraco negro para tentar explicar. De acordo com o que aprendi nessa visita (e se houver algum físico presente, por favor, me corria rs), buracos negros são formados a partir da morte de uma estrela. Imaginemos no caso, que a dimensão em que vivemos é uma superfície plana como um colchão, aonde todos os corpos ali colocados exercem pressão sobre ela. Notemos que cada corpo exerce uma determinada pressão. Pensemos, por exemplo, em uma bola de futebol de 1 kg deixada em cima desse colchão. E depois, coloquemos uma bilha de ferro do mesmo peso. Qual afundara mais? A resposta: a bilha, pois ela tem sua pressão concentrada em um ponto menor. Vocês também podem comprovar isso tentando enfiar a parte de trás de um lápis no braço e depois buscando virar e enfiar a ponta de grafite e ver qual que perfura e pele (Por favor, não façam isso.)
Mas então, aonde eu quero chegar. Ao simples fato de que, quanto mais concentrado o ponto aonde se exerce pressão, maior ela será. Então continuemos. Imaginemos uma estrela do tamanho de nosso belo planeta azul. Ela exerce pressão sobre a dimensão aonde está, porém, quando morre, tende a encolher. Passa a ser comprimida até ganhar o tamanho de uma bola de gude. Agora imagine toda a pressão digna de um planeta, concentrada em um diâmetro de 1 cm. É essa pressão que cria os buracos negros. Uma força capaz de tanta pressão que perfura a simples superfície da dimensão onde se encontra, tragando tudo o que há em volta.

Conseguiram entender? Legal, que eu nem tanto. Rsrsrsr.
Mas a idéia foi essa. Pois ela nos mostra o interessante uso da abstração para se compreender algo complexo assim. E isso ocorre simplesmente por que não temos a nossa disposição elementos que nos permitam compreender em sua totalidade a complexidade de um buraco negro, então temos que recorrer a exemplos banais ou alegorias para tentar dar conta.
Agora imaginem, por exemplo, outro tema complexo que é o Mal. Será que algum de nós dá conta de explicar o que é o mal, como é constituído e por que existe? A partir do momento que temos ciência disso, acredito que a criação de mitos como a Caixa de Pandora da mitologia grega ou o Pecado Original da teologia judaico-cristão não pareçam tão absurdas assim. Elas são teorias, como as da física, que muitas vezes têm que partir do zero para explicar alguma coisa.
E foi por isso que eu retornei ao tema. Retorno para mostrar como a criação de imagens, até certo ponto, fantásticas, ainda ajudam a explicar coisas das quais a simples razão não da conta. E por isso que eu retomo aos velhos mitos. Pois acho interessante pensar neles como algo além de uma mentira e tentar observar o quanto de verdade não está contido ali. Até que ponto eles são feitos em cima de fatos, de coisas que estavam lá, e até que ponto eles foram moldados pela imaginação.
Eu particularmente gosto de encarar a mitologia como uma ciência primitiva. Os processos para mim são semelhantes, pois ambas partem de imaginação: seja um teólogo na hora de tentar entender o sentido da vida e por isso teoriza sobre a existência de alguma divindade, seja para um Einstein que teve de fantasiar sobre sua teoria da relatividade antes de vir aqui ao Brasil e comprová-la ao analisar o eclipse solar na cidade de Sobral (CE).
Enfim, minha proposta aqui, como é a do blog é a de tentar discutir sobre fantasia e, é claro, levantar a bandeira contra todos aqueles que simplesmente a menosprezam. Defendo a literatura assim como todas as obras fantásticas, pois são elas os fatores que nos preparam para obter toda e qualquer forma de conhecimento novo. Precisamos ser loucos e irracionais se quisermos obter qualquer conhecimentos que ainda não fora formulado. E por isso valorizo a literatura fantástica, pois é ela que nos treina, desde o começo de nossas vidas, na maravilhosa arte da abstração e amadurece a nossa capacidade mais elevada e que nos diferencia dos animais: a imaginação.

4 comentários:

  1. Como sempre, seus posts de entendimento sobre essa caracteristica do genero fantástico são muito bons. E com certeza, tudo na vida fantasiamos para tentar explicar algo. Hehe, a analogia usada para explicar o buraco negro foi legal. Só podia enaltecer o "não faça isso" daquele exemplo, pois se um infeliz tenta fazer isso não quero nem imaginar.

    Ótima postagem, cara.

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  2. rsrss. Achp que até me processavam por indução ao suicídio. rsrsrs
    VAleu mesmo cara. Abração ^^

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  3. Seguinte... Voce fala de varias coisas então vou por partes...

    1) me fez lembrar que eu tenho a biografia do einstein aqui e vou ler o quanto antes... deve ser massa...

    2) massa seu argumento sobre mito usando as proprias (e chamadas intocáveis) bases cientificas... Quando entrei no curso de filosofia a primeira coisa que aprendi foi que mito não era necessariamente mentira (oque me deixou desconcertado) mas sim apenas uma linguagem metafórica para explicar verdades humanas...

    Muito bom seu artigo!

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  4. Deve ser boa mesmo. Estou muito interessado em começar a ler mais biografias, pois é um gênero do qual não estou muito familiarizado.
    Mas é, eu também fiquei meio desconcertado na primeira vez que ouvi sobre isso. É que a gente está tão acostumado pelo senso comum a entender mitos, lendas ou folclore como, ou obra de enganadores, ou como fruto de mentes ignorantes, que não damos brechas para tentar entender o que aquilo significa para as pessoas que os criaram.

    Acho que à essa evolução devemos muito à Antropologia, que nos dá novos horizontes para tentar compreender o outro.

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