Existem idéias que acabam sendo naturalizadas no imaginário coletivo. Termos, conceitos e entendimentos, que acabam ganhando caráter tão essencialista, que muitas vezes pensamos que eles sempre existiram desde que o mundo é mundo, e esquecemos que eles são, na verdade, produtos de uma construção histórica, filhos de um tempo e de um espaço específicos. Com base nessa introdução e à luz das considerações retiradas do ensaio anterior - A formação de um clássico e a qualidade da literatura - proponho a idéia central deste segundo ensaio, que ajuda a compor as reflexões anteriores sobre clássicos.
Hoje, é muito comum que chamemos grandes personalidades de gênio. Tony ramos é um Gênio, pois consegue passar a emoção de seus personagens como ninguém. Einstein foi um Gênio, pois conseguiu pensar além de sua época e quebrar paradigmas de Newton e outros cientistas modernos. J. K. Rowling é um gênio, pois foi capaz de criar a maior febre da literatura contemporânea.
Gênio é uma noção que, podemos dizer, é absolutamente moderna. Própria do século XIX, o gênio significa aquele ser dotado de habilidades especiais, que consegue a custa de seu alto grau, sobressair em meio às pessoas comuns. Tal concepção é muito própria do movimento Romântico, que dentre suas características, buscava a elevação do individual frente ao coletivo. Nesse sentido, o que quero chamar a atenção é para o fato que essa construção – que pode ser certa ou errada, não quero entrar em juízo de valores – ainda é muito presente no nosso imaginário, e até hoje, mesmo depois das teorias sociológicas de Marx, Weber e Durkhein, ainda vemos o individuo como um ser autônomo, indiferente ao seu meio e que possui características próprias e inalienáveis.
Quando falamos então da construção de um clássico – tema anterior e que retorna nesta segunda parte – a noção de gênio vem com toda a força, e tendemos a pensar na permanência de uma obra até os dias de hoje como tributária unicamente desse elemento. Como já dei alguns exemplos na postagem anterior, não vou perder linhas aqui explicando que outras coisas estão por trás da transformação de um livro comum em um clássico, mas sim gostaria de retomar uma discussão ainda mais antiga, lançada em um ensaio aqui do blog, Homem e Sociedade: o autor no tempo e no espaço
O que proponho ao trazer essa discussão é justamente a de lembrar que, sem nenhum tipo de determinismo geográfico, todos nós, seres humanos, somos fruto de uma sociedade. Logicamente que a individualidade existe, mas ela está no centro de um meio social que a todo o momento dialoga e interage com ela. Nesse sentido, mesmo um gênio, com todo seu potencial único, não é capaz de florescer se não houver em seu redor o mínimo de condições que o torne produtivo. Um gênio só é gênio se ele for reconhecido como tal, seja em que tempo for.
Retomo a questão levantada no artigo sobre clássicos: “por que a grande maioria dos gênios só é reconhecida depois de sua morte?” Muitos com certeza responderão: “Pois eles eram indivíduos a frente de seu tempo, e que só puderam ser reconhecidos anos depois”. Eu proponho uma resposta mais ampla.
Só foram reconhecidos depois de seu tempo, pois as condições que possibilitaram suas idéias só existiram tempos depois. Elas só foram úteis anos depois. Muitos gênios não são reconhecidos em seu momento, assim como nenhuma obra é um clássico enquanto seu autor ainda está vivo. Somos nós, homens de presente, que atribuímos graus de genialidade aos artistas do passado. E damos essas atribuições, através de perspectivas que temos hoje. Perspectivas essas que só puderam ser vistas, quando tomamos um distanciamento temporal, que não é possível ser tomada quando a obra está em voga, está em discussões, está sendo lida ou ignorada pelo público.
Logo, se hoje não temos clássicos contemporâneos, não é porque nossos autores sejam inferiores, mas por que um clássico precisa de tempo para se firmar, e por isso, não seremos nós quem diremos se os livros produzidos hoje serão ou não clássicos, mas aqueles que ainda estão por vim, que vão ou não, se mostrarem interessados nas produções de ontem.
Vc tem toral razão... Quem determina o status de clássico para qualquer que for a obra, certamente será a permanência e relevância dele para as gerações futuras...
ResponderExcluirÓtimo artigo!!!
Então, é questão de esperar. rsrsrs
ResponderExcluirAbração Facundo.
Confesso que já estava com saudades de receber comentários. Acho que ultimamente eu não tenho agradado. ^^ rs
Bom Wilian, não vim aqui para comentar em sua ótima postagem, mas sim para te informar que, O blog Por detrás do Véu foi indicado ao prêmio e selo Dardos, entre em meu novo blog e veja a indicação que eu fiz de seu blog http://palavrinhasdanoite.blogspot.com/2010/11/1-dia-de-vida-virtual-oficializado-1.html
ResponderExcluirPuxa, mas essa é uma excelente notícia. Obrigado mesmo Flávio. Vou dar uma olhada agora mesmo.
ResponderExcluirAbraços