Uma vez ouvi uma consideração que
me deixou sinceramente pensativo. Foi em um curso sobre teoria da história na minha
faculdade, ministrado pela professora Norma Cortes, em que em meio a uma
discussão, ela disse: “fazer pessoas inteligentes chorar é muito fácil. O difícil
é fazê-las rir”. Fiquei muito tempo pensando nisso e realmente gostei tanto do
impacto que a frase me causou que tentei entender o porquê disso. Pois, apesar
de concordar, não consegui estipular uma razão para isso acontecer.
Normalmente temos o estereótipo
do intelectual como alguém apático, e às vezes até carrancudo ou depressivo,
sem nunca ao menos nos questionarmos o porquê dessa imagem. Num momento,
cheguei até a pensar na coisa da alienação. Que as pessoas mais ligadas a um
pensamento crítico estão atentas aos problemas do mundo e por isso acabam se
tornando mais tristes, mas isso não deu conta. Primeiro, porque ser erudito e
ser pessimista não são coisas que precisam necessariamente caminhar juntas. E
em segundo, pois as pessoas menos engajadas política ou socialmente não
necessariamente ignoram os problemas, mas simplesmente aprenderam a conviver
com elas de uma forma que não necessariamente podemos explicar.
Então, pensando mais sobre o
assunto, comecei a me questionar quanto aos livros de drama e comédia, em
especial “Marley e eu” de John Grogan e “Opúsculo”, da Harvard Lampoon, para
simbolizar um trabalho de cada vertente. De fato, a sátira de Crepúsculo, assim
como muitos filmes de comédia, não me agrada. Sem querer ser arrogante ou
pretencioso, mas sinceramente até me senti lisonjeado com a frase de minha
professora, mesmo que aquela, naquele momento, não tivesse sido dirigida a mim.
Mas deixemos isso para outra hora.
O exemplo dos livros é bom, pois são
equivalentes: ambos possuem uma qualidade razoável, são voltados mais ou menos
para o mesmo tipo de público. Contudo, o primeiro me fez debulhar em lágrimas
no final e o segundo não me arrancou uma risada sequer do começo ao fim. E lembrando
eles, realmente pude entender por que. Acho que todos aqueles que têm apego a
seus animais de estimação vão entender. Afinal, você sabe que ele viverá menos
que você, sabe que quando partir vai doer. Pois apesar de ele ser apenas um
animal – o que numa hierarquia não é o mesmo que perder uma mãe, um pai ou um
irmão – ainda assim você se prepara, pois o sofrimento causado é o mesmo.
Enfim, apesar de todo e qualquer preparo, apesar de, quando você descobre que a
hora está próxima de chegar, e com isso tentar se convencer de que é o melhor,
que você poderá ter outro bichinho, enfim, depois de usar todos os argumentos
racionais possíveis para não se afetar muito com a perda... Nada adianta, você
chora como uma criança.
Acontece que realmente temos
muito pouco controle de nossas emoções. Por mais racionais que sejamos, é
difícil não nos sensibilizarmos. Ser um ser racional não significa controlar
completamente a sensibilidade. E no nosso caso, nossa tentativa de ter o
conhecimento de tudo através do pensamento lógico acabou nos deixando
despreparados para apreender o mundo de outra maneira. Estamos acostumados
demais a querer ter explicações plausíveis para tudo, treinar nossa capacidade
cognitiva, de modo que nos esquecemos de treinar nosso lado afetivo. De preparar
nosso corpo para as emoções da vida que não podem ser simplesmente racionadas.
Afinal, não importa os esforços da filosofia e da teologia, ainda não chegamos
a um consenso a respeito do sentido da vida e da morte. De modo que a perda de
um bichinho de estimação é capaz de nos chocar de tal maneira.
Por outro lado, quando falamos do
ato de rir através de uma piada, a coisa muda de foco. Eu confesso que às vezes
reconheço a chatice de se questionar tudo. Não aceitar algo de bom grado e
sempre se perguntar a respeito do sentido da coisa. E foi assim que aconteceu
quando li “Opúsculo”. Não adiantava quantas idiotices os personagens faziam, eu
sempre me questionava “mas é só isso?” “qual o sentido disso?”. Enfim, a
verdade é que não havia sentido. Era simplesmente para você rir de um cara com
uma camisa de mulher. Mas Aqueles acostumados a questionar tudo, não aceitam
isso com facilidade, querem piadas que os convençam, que os obriguem a pensar.
Por isso a tarefa de fazer rir se torna tão desgastante. Imagino que deva ser
um saco contar uma piada para alguém assim. (risos)
Enfim, pessoas que prezam pela inteligência
gostam de ser instigadas. Mas acredito também que isso não signifique que as
pessoas que riem muito e choram pouco são simplesmente burras. Estas inclusive
são muito capazes, todavia, possuem a capacidade de, em certos momentos da
vida, de desligarem seu senso crítico para poder apreciar da forma mais simples
possível a determinados momentos que não podem ser apreendidos pela razão. Se
isso é ser melhor ou pior, não cabe a ninguém julgar. São formas de estar no
mundo e de viver dia após dia fazendo o melhor possível para estar conectado à
vida.
Concordo com a maioria do que você disse aí, só acrescentaria algo no final: existem formas alternativas de se "aprender" as coisas, então alguém afiado intelectualmente pode rir de uma piada mais "mundana" por motivos que para a maioria passou despercebida. Claro que no exemplo de Opúsculo fica mais difícil, mas acredito ser possível rir vendo um desenho animado familiar da própria infância ou de um amigo exagerado, e são risadas verdadeiras, apenas de essências diferentes. "Relatividade" devia ser a nova consagrada escola da inteligência.
ResponderExcluirTenha uma boa semana, escreva bastante! (: